Alvo de protestos e reclamações dos passageiros, o reajuste no preço das tarifas de ônibus e do metrô do Distrito Federal, em vigor desde o dia 20 de outubro, poderia ser menor caso o GDF (Governo do Distrito Federal) conseguisse implantar e expandir efetivamente o Bilhete Único, além de adotar um sistema de bilhetagem inteligente que dispensasse a necessidade da presença do cobrador no transporte coletivo, já que o pagamento de cobrador e motorista representa 50% dos gastos das empresas de ônibus. A tarifa no DF varia de R$ 3 a R$ 4, dependendo da distância a ser percorrida. A tarifa de R$ 4 é a maior entre as capitais brasileiras. Bilhete único, que poderia minimizar impacto do aumento de passagens no DF, deve ficar para 2016Governador do DF tem cinco meses para implantar bilhete único e cumprir promessa de campanha A ausência de um cobrador não seria exatamente uma novidade no transporte público do DF. As famosas “zebrinhas”, que faziam linhas circulares no Plano Piloto e foram extintas em 2014, já rodavam por Brasília apenas com o motorista, que também era responsável pela cobrança das passagens. Em outras capitais, como São Paulo e Goiânia, o sistema inteligente de cobrança e a ampla rede de venda de bilhetes dispensam o acúmulo de funções. De acordo com a Setransp (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia), que administra os bilhetes que dão acesso ao serviço de ônibus, são mais de 2.000 pontos de venda espalhados por Goiânia e cidades metropolitanas. Também é possível recarregar os créditos do cartão pela internet.Leia mais notícias no R7 DFFogo, baratas e motorista dormindo estão entre os perrengues já registrados no transporte público do DFExperimente grátis: todos os programas da Record na íntegra no R7 Play A facilidade em comprar um bilhete faz com que o estudante goiano Guilherme Silva, de 23 anos, aprove o modelo. Ele diz não sentir falta da presença de um cobrador dentro do ônibus. — Você consegue comprar o sitpass em bancas de revistas e vários outros estabelecimentos conveniados. O bom é que o embarque no transporte anda mais rápido, mas o ruim é que o desemprego aumenta. O custo em manter os trabalhadores é um dos pontos avaliados pelo GDF na hora de calcular o preço da tarifa de ônibus. Dados da Semob (Secretaria de Mobilidade) apontam que as viações Urbi, Pioneira, Piracicabana, São José e Marechal empregam 4.244 cobradores e 3.022 motoristas. O custo geral do sistema, como pneus, preço de veículos, combustível, instalações, custos administrativos, entre outros, são fatores que influenciam o valor tarifário. Porém, 50% dos R$ 48 milhões pagos pelo governo em subsídios para o transporte público são destinados ao salário dos rodoviários. De acordo com o último acordo coletivo da categoria, o salário mínimo de um motorista é de R$ 2.121,33 e o do cobrador é de R$ 1.109,33. Apesar da boa experiência goiana, o Governo do Distrito Federal afirma que não há nenhum projeto de implantação de linhas sem cobradores no DF e destaca o artigo 20 da lei 4.011/97 que proíbe motoristas de receber tarifa em espécie, exceto nos casos de pagamento em cartão do SBA (Sistema de Bilhetagem Automático). Um ponto que contrasta com Goiânia é o número de pontos de recarga de crédito dos cartões das duas cidades. Enquanto capital goiana conta com mais de 2.000 pontos, no DF, apenas nove postos creditam os cartões cidadão e de vale transporte. A inconstância do sistema de crédito dos cartões, as filas enormes e o pequeno número de postos de atendimento estão entre as principais reclamações dos passageiros brasilienses. A secretária Geisiane Nóbrega se desloca diariamente de Santa Maria para a Asa Sul e conta que os transtornos são frequentes. — O sistema aqui é horrível. Vive caindo. Sobre o modelo goiano, acho uma boa ideia. Evita o constrangimento da falta de troco no ônibus e aumenta a segurança dentro do ônibus já que não terá o dinheiro do caixa circulando. O ruim é a questão do desemprego dos cobradores. O Sindicato dos Rodoviários se posiciona contra a implementação do sistema. O diretor José Carlos da Fonseca estima que o Distrito Federal conta com cerca de 5.000 cobradores e destaca o desemprego dos profissionais para justificar o posicionamento da categoria. O sindicalista também não acredita que haveria redução no preço da tarifa caso o sistema inteligente fosse adotado no DF. — O governo alegou que a expansão da integração iria abaixar o preço da passagem. O que o governador fez? Justamente o contrário, a passagem subiu e agora custa R$ 4. José Carlos acredita que a medida é um ataque aos rodoviários e beneficia apenas os empresários, que teriam o custo operacional reduzido e, consequentemente, lucros maiores. — Já tentaram fazer isto aqui uma vez. Nós fomos contra e contamos com apoio de uma lei distrital que impede que isto aconteça. Durante a campanha eleitoral de 2014, o então candidato ao Buriti Rodrigo Rollemberg prometeu a implementação do Bilhete Único no primeiro ano de governo. A medida foi uma resposta ao programa do adversário Jofran Frejat, que prometeu passagens de ônibus a R$ 1.A falta de um sistema de emissão de passagens integrado é apontada pelo especialista em transporte da UnB (Universidade de Brasília), professor Carlos Penna Brescianni, como um dos principais impedimentos para o efetivo funcionamento da integração e do Bilhete Único. — A integração é a solução para o transporte público de Brasília. Mas é preciso abrir a caixa preta das empresas de ônibus. Em Goiânia funciona porque o governo controla a venda das passagens, aqui não há o mesmo rigor. Faltam auditorias e o interesse é em soluções cosméticas. Uma preocupação do professor com a aplicação do modelo goiano aqui em Brasília é com os pontos de venda dos bilhetes em cidades menos estruturadas o que poderia acabar delegando ao motorista a função de cobrar a tarifa tornando a viagem mais lenta. — Como seria a venda em pontos sem estrutura, distantes do centro? Certamente todo mundo teria interesse em vender os bilhetes, mas, se não funcionar, o motorista vai acabar vendendo o bilhete e vai engessar o sistema. Para o especialista, enquanto Justiça não intervir e tornar transparente as planilhas de gastos das empresas de ônibus, o sistema público de transporte não avançará e a integração não vai passar de “uma ficção”.