Uma jovem de 18 anos portadora do TEA (Transtorno do Espectro Autista) e do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) foi aprovada no curso de engenharia aeroespacial da UnB (Universsidade de Brasília). Laís Coelho, que é brasiliense, mas mora em São Luís, no Maranhão, há 10 anos, passou em 7º lugar no PAS (Processo de Avaliação Seriada) da instituição. A estudante diz que ficou muito feliz com a aprovação. "Comemorei bastante com a minha irmã e fiquei super ansiosa para minha mãe chegar do trabalho e contar pra ela", relembra. A escolha do curso não foi sonho de menina, conta Laís. Ao chegar na última etapa do processo seletivo, ela pesquisou as opções disponíveis no edital e sentiu mais interesse pela engenharia aeroespacial. "Comecei a montar uma estratégia para alcançar uma nota que não me sobrecarregasse, mas que desse para eu entrar no curso", revela. Segundo Laís, ela teve problemas com relação às aulas on-line durante as etapas anteriores do processo seletivo. "Além da dificuldade para me concentrar, porque eu estava em casa e tinha muitas outras coisas chamativas, tinha o barulho da rua, da cozinha, das minhas irmãs, do cachorro. E eu acabava ficando muito estressada, muito irritada". Diante disso, a jovem pediu para estudar para a terceira e última etapa num curso presencial, em Brasília. Mãe de Laís, Leila Coelho autorizou a mudança da filha para a capital federal. Ainda assim, ela afirma que a jovem passou por algumas dificuldades. "Ela estava um dia no cursinho, e o professor numa aula pediu para que as pessoas batessem palma. Normal, né, talvez, para animar a aula. Laís começou a ter uma crise e saiu da sala de aula, por causa de muito estímulo no ouvido. Ela foi até a recepcionista e pediu um abraço. A recepcionista abraçou, e ela foi se acalmando, passou um pouquinho e voltou para a sala de aula", contou. O TEA é uma condição caracterizada pelo déficit na comunicação social (interação, socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamental (interesse restrito ou hiperfoco e movimentos repetitivos). De acordo com o psiquatra Alisson Marques, o tratamento é multiprofissional. "Precisa do psiquiatra, do psicólogo, do fisioterapeuta, do nutricionista, do fonaudiólogo. Precisa de uma equipe associada a uma família orientada do processo do transtorno e que entende que o estímulo não precisa ser vestido de cobrança. E [precisa] também de uma escola que entenda a particularidade e desenvolva metodologias direcionadas para aquelas necessidades a fim de desenvoler as habilidades sociais e de interação", explica. "Quero aproveitar e deixar um recado para todo mundo. Deixar bem claro e explicar que autista não tem cara. Não existe isso de cara de autista. Autistas são meninas, são mulheres, são crianças, adolescentes, adultos. As pessoas têm que parar de tratar os autistas como anjinhos geniais que podem quebrar a qualquer momento, porque tem autista te atendendo no médico, no hospital, no banco, nas lojas, tem autista do teu lado do ônibus, tem autista que te leva para o trabalho de Uber", destaca Laís. "E agora vai ter mais uma autista na UnB", conclui a mãe, abraçando a filha, orgulhosa e sorridente.Veja o depoimento de Laís e da mãe no vídeo abaixo: