Por que falar de um carro lançado há anos e que nunca deslanchou nas vendas? A resposta é simples: bem equipado e com visual (ainda) atraente, o Fiat Bravo acompanhou de camarote a renovação — e encarecimento — dos hatches médios nos últimos anos e, com preço abaixo da maioria dos rivais, é uma opção real para quem busca um exemplar na faixa dos R$ 50 mil com design elegante, lista de série recheada e motor mais animado. De olho nesse público, a montadora italiana lançou em julho passado a linha Wolverine na versão de entrada Essence (R$ 56.730). Inspirada no mutante das histórias emquadrinhos, a série especial é, a exemplo do que ocorre no Uno College, um pacote de itens e adereços visuais a um preço fixo (R$ 3.166). Por esse valor, o carro traz faróis com máscara negra, rodas de 17 polegadas, minissaias laterais, spoiler traseiro, soleira nas portas, adesivos externos e bordados nos bancos e tapetes com referências ao herói. Entre os itens, foram adicionados à lista de série três tipos de sensor (chuva, estacionamento traseiro e crepuscular), retrovisor interno eletrocrômico e sistema multimídia Blue&Me.Tratamento de lorde Por dentro, chama atenção o bom acabamento geral das peças, que vai dos encaixes precisos do painel central ao teto com revestimento estofado — detalhe presente apenas em veículos mais sofisticados. Entre os itens de série, há direção elétrica com comandos de som no volante, computador de bordo, piloto automático, retrovisores elétricos e ar-condicionado com saída aos ocupantes traseiros, que têm bom espaço para a cabeça e nem tanto para os joelhos (sobretudo o terceiro ocupante). O porta-malas, por sua vez, comporta 400 litros. Completam a ampla lista vidros elétricos com sistema um toque nas quatro portas, descansa braço central com compartimento refrigerado e luzes de leitura individuais. Ainda que “trate bem” os ocupantes, o Bravo revela nas virtudes o seu ponto fraco: cadê a pegada esportiva insinuada pelo visual apimentado?Sem emoção Equipado com o propulsor 1.8 litro de 132 cavalos a 5.250 rpm e torque de 18,9 kgfm a 4.500 rpm da versão Essence, o Bravo Wolverine ganhou o mesmo acerto de suspensão das versões Sporting e T-Jet. Porém, o ajuste esportivo não foi suficiente para transmitir emoção ao volante do modelo. Em curvas, a direção leve prejudica a interação do motorista com o carro, que em entradas mais vigorosas saiu levemente de traseira Ao pisar no acelerador, o motor demora a embalar e a sensação é de que há menos torque disponível do que o carro dispõe — nesse quesito, falta um câmbio de engates mais curtos (ou uma opção automática pura).Vale o quanto pesa? Design arrojado, bom acabamento interno, ampla lista de itens de série e preço abaixo dos rivais. Nesse momento, alguém levanta a mão: “Mas do que adianta tudo isso, se ele não vende?”. Vejamos as estatísticas da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Em 2013, o Bravo emplacou 9.060 unidades (curiosamente, após a chegada da série Wolverine as vendas mensais caíram), contra 10.931 emplacamentos do Peugeot 308, o penúltimo colocado da categoria liderada pelo Chevrolet Cruze Hatch, que fechou o ano com 22.462 unidades vendidas. Nesse ponto, dois fatores que independem de suas qualidades e defeitos parecem jogar contra o modelo. O primeiro é a reputação da Fiat no segmento hatches médios, que remonta aos anos 90, quando uma falha no sistema hidráulico da direção do Tipo causou incêndio em centenas de modelos, e transita pelos malsucedidos Brava e Stilo nos anos 2000. Reflexo direto do primeiro, as vendas em baixa tendem a transmitir a sensação (na maioria dos casos, correta) de maior desvalorização e menor vida útil do modelo — fatores esses que, num país como o Brasil onde a ideia de custo benefício se estende ao pós venda, podem ser determinantes para o (in)sucesso do carro. Dessa forma, recuperar o mercado no segmento dos hatches médios parece depender muito mais de uma reestruturação estratégica da montadora no segmento do que da presença de um popular herói de quadrinhos.