A receita é a mesma desde maio de 2012, quando o primeiro sedã médio chinês chegou ao Brasil: um modelo "completão" de fábrica, vendido em versão única, com preço atraente e acabamento superior ao de seus conterrâneos. A diferença do Geely EC7, segundo a própria marca, é que seu serviço de pós-venda será melhor e que o sedã (com preço estimado de R$ 50 mil) supera, de fato, seus pares chineses.Veja a galeria completa de fotos do Geely EC7 A primeira afirmação ainda não pode ser comprovada, já que as vendas do EC7 nas 15 concessionárias da Geely no Brasil começam apenas em março. Ao menos disputa com seus conterrâneos será fácil: com a saída do médio-compacto Chery Cielo Sedan e do Lifan 620, o Geely EC7 briga diretamente somente com o JAC J5.Sombra oriental A comparação com o único sedã médio chinês atualmente à venda no Brasil é inevitável. Isso porque, por mais que a Geely se esforce, ainda não é possível comparar o EC7 com Toyota Corolla, Honda Civic e Chevrolet Cruze. Ainda que o porte (de 4,63 m de comprimento e 1,79 m de largura) o posicione com os líderes do segmento, o EC7 repete as características que mantêm o J5 à sombra até do Citroën C4 Pallas, cujas vendas se encerram no meio de 2013. Justiça seja feita, o EC7 mantém a generosidade de itens de série típica dos chineses: ar-condicionado (digital), direção hidráulica, trio-elétrico, bancos de couro, sensor crepuscular e de estacionamento encabeçam a lista iniciada pelos obrigatórios ABS e airbag duplo. O (pouco prático) conector USB do tipo mini e portas que não se abrem por dentro enquanto as travas não são liberadas, porém, também estão lá.Cortina errada Sabe quando você olha para uma sala de estar enorme, mas com uma péssima decoração? Salvo as proporções, a sensação é a mesma dentro do EC7. Seus 2,65 m de entre-eixos comportam com muito conforto quatro adultos, com destaque para o ótimo espaço para a cabeça. O elevado túnel central incomodará somente o quinto ocupante, ao contrário do couro usado em sua forração. Com revelo feito para dar a sensação de couro perfurado (típico de esportivos e modelos de luxo), o revestimento não agrada ao tato, passando o aspecto de estar "grudento". Não é algo que incomode a longo prazo, mas pode afastar consumidores que forem conhecer o sedã.Difícil de se achar Primeiras impressões feitas, hora de sentar-se no banco do motorista. Apesar de ser dotado de regulagem de altura e ajuste lombar, o assento parece não ser feito para o EC7. Com pedais excessivamente grandes e volante somente com altura variável, é complicado para o motorista encontrar uma posição confortável de se guiar. Feito isso, ele terá ao seu redor exemplos da engenharia chinesa; O comando dos vidros, por exemplo, tem a inscrição All Auto (todos automáticos), apesar de nenhuma porta contar com sistema expresso de abertura e fechamento. O enorme compartimento central sobre o painel conta com somente um singelo relógio digital e o ar-condicionado digital sofreu para gelar a cabine do EC7 branco avaliado por R7 Carros sob um sol de 30ºC. Apesar de não passar incólume por uma avaliação mais crítica, o EC7 agrada no contexto geral, com um design atualizado e bom encaixe das peças de aparência. O cenário, porém, muda ao se colocar o EC7 em movimento.Bom na rua, ruim na estrada Equipado com um motor 1.8 16V de 130 cv movido somente a gasolina, o Geely vai bem no trânsito urbano, com direção leve e câmbio com engates curtos. A dureza na compressão dos amortecedores incomoda um pouco em valetas e buracos (principalmente na segunda fileira de bancos). O problema é quando se coloca o sedã na estrada. Avaliado em um percurso com cerca de 100 km na região de Itu (SP), o EC7 sofreu para acompanhar o ritmo de outros carros — incluindo um antigo Renault Mégane Gran Tour que estava no comboio como veículo de apoio. Um detalhe é que o sedã avaliado levava três pessoas e nenhuma bagagem no porta-malas de 670 litros, situação bem diferente do que ele enfrentaria em uma viagem rodoviária na vida real.Explicação nos detalhes Para entender a letargia do EC7, que exigia reduções para até a terceira marcha em ultrapassagens, é necessário olhar a ficha técnica do motor. Apesar de ter 130 cv, tal potência só chega ao seu máximo a elevados 6.100 rpm. Não ajuda o fato do torque (de 16,9 kgfm) somente surgir a partir dos 4.000 rpm, com pico em 4.400 rpm. Se o desempenho fraco pode ser amenizado de acordo com a personalidade de cada motorista, o mesmo não pode se dizer da segurança dinâmica do EC7. Sem progressividade, a direção hidráulica mantém a mesma maciez no volante a 30 km/h e 120 km/h. Em altas velocidades essa perigosa característica pode provocar a perda de controle do carro no caso de uma mudança súbita de direção, como no desvio de um obstáculo ou animal na estrada.Mais do mesmo Assim como o JAC J5, o Geely EC7 não é uma bomba sobre rodas. Ambos os sedãs mostram uma clara evolução em relação aos primeiros chineses que chegaram ao Brasil. O problema segue na ambição da dupla: mesmo quando comparados aos sedãs mais antigos do segmento, como o Toyota Corolla, eles saem em desvantagem. Sua disputa real será contra os sedãs compactos "alongados", como Etios, Cobalt e Logan. Porém, mesmo mudando de categoria, o Geely EC7 terá uma disputa difícil pela frente.