Ter carro com câmbio automático na garagem já foi sinônimo de riqueza no Brasil. Até os anos 90, apenas modelos importados ofereciam transmissões que dispensavam o pedal de embreagem em nome do conforto. Só que os tempos mudaram e, nos últimos cinco anos, a oferta de versões automáticas se tornou decisiva para as vendas. Por isso, a Chery acaba de lançar o Tiggo automático, primeiro veículo chinês com este tipo de câmbio por aqui. Comparada às transmissões automáticas disponíveis no mercado brasileiro, o SUV compacto da Chery chega defasado. Enquanto o líder de vendas Ford EcoSport oferece um moderno câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas, o novo Tiggo AT traz uma caixa convencional de quatro velocidades. Só que no caso do chinês, isto, por enquanto, será vantagem, já que o Lifan X60, seu maior rival, não possui versão automática.Calcanhar de Aquiles Antes do lançamento da versão automática, R7 Carros experimentou o Tiggo manual por uma semana. Até então, o utilitário dispunha apenas da transmissão de cinco marchas com trocas manuais. Esta tende a despencar nas vendas, pois o câmbio é justamente seu "calcanhar de Aquiles". Ao volante, a versão manual exige certa paciência, já que os engates enroscam e são imprecisos. É possível sentir — e até ouvir — o contato das engrenagens da transmissão. No caso da versão automática, este desconforto das trocas é anulado. Apesar de ter somente quatro marchas, a operação é bem mais simples. Basta colocar a alavanca na posição "D" (Drive) e acelerar ou frear. O problema é a limitação do câmbio — que foi desenvolvido pela própria Chery. Em movimento, a caixa demora a fazer as trocas e faz o motor 2.0 a gasolina (138 cv) girar alto, fazendo o SUV perder velocidade ao encarar subidas, por exemplo. Essa perda de velocidade ocorre porque a transmissão automática não alterna as relações de forma eficiente e rápida, o que faz com que o motor trabalhe constantemente com giros altos ou baixos demais. Nessas situações, o uso do modo manual é a saída. Já em piso plano, o câmbio automático vai bem e faz as mudanças de forma mais suave. Contudo, a caixa faz o motor girar alto a maior parte do tempo, afetando o silêncio na cabine e o consumo. Outro ponto negativo é a alavanca enorme. Além de ser esteticamente esquisita, esta compromete o acesso ao porta-objetos na base central do painel e fica "colada" na alavanca do freio de estacionamento, que por sua vez atrapalha a visualização das posições. O ponto positivo fica por conta da função antipatinação, acionada pelo botão com o símbolo do floco de neve e que faz o SUV sair de 2ª marcha, para não "patinar" em pisos escorregadios.Evolução chinesa Mesmo com os poréns, não há como negar: o câmbio automático fez bem ao Chery Tiggo. A nova transmissão realça o conforto a bordo e entrega ao SUV chinês um conjunto mecânico mais robusto e prático para encarar o trânsito pesado das grandes cidades. Aliado à transmissão está todo o conjunto do modelo, que evoluiu significativamente nesta segunda geração, lançada em julho de 2013 no Brasil. Um dos destaques é o espaço interno, muito generoso em todo o habitáculo. Os 2,51 metros de entre-eixos combinados ao 1,70 m de altura entragam ótimos vãos para pernas e cabeças. E o porta-malas é um dos melhores da categoria, com 435 litros de capacidade — com o banco traseiro rebatido, alcança 818 litros. Outro ponto elogiável é o acabamento, que deu um salto em relação ao Tiggo anterior, mesmo ainda possuindo falhas. Basta um olhar mais minucioso para encontrar rebarbas e peças mal encaixadas. De qualquer maneira, vale dizer que o arremate está melhor e as peças têm texturas mais elegantes e agradáveis. Mas de todos os quesitos, a principal evolução do Tiggo está na dirigibilidade. A Chery ajustou bem a direção do modelo, que responde com precisão aos movimentos do volante e tem um raio de giro excelente, que facilita bastante nas manobras. Como todo chinês, o SUV também conta com uma lista de equipamentos generosa, que traz ar-condicionado, direção hidráulica, espelhos, vidros e travas elétricos, freios com ABS e distribuidor eletrônico EBD, airbags frontais, freios a disco nas quatro rodas, chave tipo canivete com abertura e travamento remotos, alarme, rodas de liga aro 16 com pneus 235/60, rádio/CD com leitor de MP3 e entrada mini USB (que requer o cabo adaptador), entre outros.Motor é suficiente Completão e com o câmbio automático, o Tiggo AT sai por R$ 57.990, passando a ser o utilitário "sem embreagem" mais acessível da categoria. Levando-se em conta a lista de equipamentos e a comodidade da nova transmissão, não há dúvidas de que o modelo ficou mais interessante, especialmente quando comparado com o modelo manual, que custa R$ 5 mil a menos (R$ 52.990). Some-se a isso o bom motor 2.0 a gasolina e o pacote fica mais atraente. Mas não espere um rendimento incrível do utilitário. Embora seja robusto, o 2.0 Acteco a gasolina com 16 válvulas e comando duplo no cabeçote não emociona, sobretudo na versão automática. Esta deixa seu desempenho mais "morno". Os 18,2 kgfm de torque demoram a aparecer com virilidade — só são notados perto da faixa de máxima, a 4.300 rpm. E os 138 cv demoram a embalar o modelo, com potência máxima despejada apenas a 5.750 rpm. Uma das razões para o desempenho comedido é o peso bruto total de 1.400 kg. Por essa razão, o destaque fica com a dirigibilidade e o acerto da suspensão independente nos dois eixos, com braços múltiplos atrás. O conjunto mostra que os chineses estão evoluindo rápido e já oferecem engenharia compatível com a de modelos de marcas tradicionais. Mas é importante dizer: eles ainda estão no início dos trabalhos, há muito o que evoluir. Saiba tudo sobre carros! Acesse R7.com/carros