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‘Foi avassalador’, diz presidente de instituto sobre destruição de refúgio de araras no Pantanal

Cerca de 80% de área de refúgio ecológico de araras-azuis em MS foram queimados por incêndios florestais

Cidades|Thays Martins, do R7, em Brasília


Neiva Guedes executa e coordena o Projeto Arara Azul desde 1990 Instituto Arara-Azul/ divulgação - arquivo

O Pantanal teve pelo menos 15% de seu território consumidos pelo fogo desde o início do ano, e no mês passado os incêndios florestais em Mato Grosso do Sul destruíram 80% de uma área de pesquisa do Instituto Arara Azul localizada no Refúgio Ecológico Caiman. O incêndio aconteceu em uma época crítica, de início do período de reprodução das araras. A base atingida congrega ao menos 30 anos de pesquisa e tem cerca de 116 ninhos sendo monitorados. “Foi avassalador. O fogo foi muito intenso”, diz a presidente e fundadora do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes.

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Neiva diz estar preocupada com a quantidade de focos de incêndio neste ano no Pantanal. De janeiro até 3 de setembro, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram 9.378, mais do que a quantidade dos dois anos anteriores somados (8.217).

Ainda conforme o Inpe, foram detectados em agosto 4.411 focos de incêndio no Pantanal, o terceiro maior número para o mês desde 1998.

Além disso, segundo o Lasa-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), desde o início do ano foram queimados 2.356.800 hectares do Pantanal, número que corresponde a 15,61% da área do bioma.


“Este ano está pior. A gente sente principalmente pela quantidade de focos de incêndio, sobretudo porque está muito seco, cada vez aumentando mais a temperatura. Eu acho que o que vai afetar mais é a questão da água. Há diminuição da disponibilidade de água que a gente tinha no passado”, afirma.

Símbolo da biodiversidade do Pantanal, as araras-azuis deixaram a lista de espécies ameaçadas de extinção em 2014, mas ainda são consideradas vulneráveis. Por isso, o trabalho de acompanhamento dessa espécie é tão importante.


Impactos para a reprodução

O instituto ainda não terminou de fazer o levantamento de tudo que foi perdido pelo fogo, mas Neiva diz que o incêndio afetou a reprodução das aves. “A gente tinha cerca de 10 ninhos com ovos, um total de 21 ovos. Desses, quatro foram perdidos. Também teve a perda de ninhos: árvores ninhos naturais, ninhos artificiais e de ovos”. Segundo ela, um dos ninhos perdidos era monitorado desde 1998.

“O fogo afeta por gerações. Baixa a imunidade, o desenvolvimento dos filhotes é mais lento, desenvolvem lesões na pele e muitas vezes ainda há óbito”, lamenta Neiva.


A presidente do instituto teme pelo futuro. “Quando tem esses incêndios, as espécies que sobrevivem acabam tendo uma disputa pelos alimentos que restam, já que a maioria o fogo queimou. Quem sobrevive fica numa verdadeira guerra pela sobrevivência”, relata Neiva. Um dos ninhos perdidos, inclusive, foi exatamente por predação. “Aumenta a disputa, os bichos já estão fragilizados, muitas vezes machucados”, explica.

Segundo ela, o incêndio destruiu áreas extensas de palmeiras acuri e bocaiúva, que produzem os principais frutos consumidos pelas araras-azuis na natureza. O instituto mapeia as áreas queimadas para saber se ainda há palmeiras em pé, mas também vai coletar os frutos para as aves em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.

Apesar da devastação, no fim de agosto nasceram os primeiros filhotes do ano. “Depois da tristeza que foi ver o fogo queimar quase tudo, uma grande parte do nosso trabalho de mais de três décadas, ver o nascimento dos filhotes é uma alegria, uma energia, uma renovação”, destaca Neiva.

Fogo se repete

Esta não é a primeira vez que o fogo atinge o refúgio das araras-azuis. Em 2019, foram 17 dias de queimada, e 65% da propriedade foram atingidas.

Segundo Neiva, naquele ano o estrago foi maior, já que o fogo foi em setembro, período em que os filhotes estão nascendo. “O efeito dos impactos direto na reprodução naquela época foi maior porque acabou queimando ninhos, queimando ovos e levando à mortalidade de filhotes por inalação de fumaça”, explica.

O trabalho do Instituto Arara Azul, desenvolvido desde 2003, ajuda que as araras-azuis sejam preservadas na natureza. O Pantanal tem 74 espécies ameaçadas de extinção, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Nós utilizamos arara-azul como uma espécie bandeira para conservação, além de saber que ela é uma engenheira ambiental, pois faz grandes cavidades para se reproduzir, que depois serão utilizadas por outras espécies. Ela também é uma dispersora de sementes a longa distância, até mil metros da planta-mãe, algo raro e geralmente feito só por mamíferos grandes. A arara-azul tem essa capacidade também de reflorestar”, explica.

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