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Advogada explica o aumento no número de brasileiros dependentes químicos durante a pandemia

Com o distanciamento e o isolamento social aderidos desde março de 2020 por conta da pandemia da Covid-19, muitas pessoas passaram a fazer suas atividades diárias dentro de casa.

Folha Vitória|

Com o distanciamento e o isolamento social aderidos desde março de 2020 por conta da pandemia da Covid-19, muitas pessoas passaram a fazer suas atividades diárias dentro de casa. Com empresas e lojas fechando, trabalhadores perderam seus empregos e o cenário, ao invés de melhorar com o tempo, só piorou, com um grande número de infectados e mortos pelo coronavírus.

O “isolamento forçado” trouxe uma série de problemas, não só na economia e em relação ao desemprego, mas também afetou o psicológico de muitos brasileiros que deixaram de conviver com amigos, familiares e colegas de trabalho para evitar a contaminação.

De acordo com o Ministério da Saúde, no ano passado, houve um aumento de 54% nos atendimentos de dependentes químicos através do Sistema Único de Saúde (SUS), em relação a 2019. Profissionais acreditam que o crescimento desse número se deve à incerteza em relação ao futuro e às crises sanitária e econômica que abalam o país.

O consumo excessivo de bebidas e o uso de outras drogas dentro de casa passou a causar preocupação. Se antes, as pessoas bebiam nos bares, durante o isolamento social a solução foi beber em casa. Em alguns casos, com o psicológico abalado, muitos desenvolveram a dependência por drogas.

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Para falar sobre o uso de drogas e os projetos que visam ajudar essas pessoas e seus familiares, convidamos a presidente da Comissão Especial de Estudo Sobre Orientação e Prevenção de Drogas e Afins da OAB-ES, a advogada Silvia Maria Lameira Hansen. Confira a entrevista.

1. Com a pandemia, a população precisou ficar em isolamento social. Neste período, existe algum dado sobre o aumento de casos de dependência?

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Infelizmente, o período pandêmico trouxe diversos problemas como o desemprego, o medo do contágio, incertezas no campo profissional e econômico e também frustrações e ansiedade, os quais são importantes motivadores do consumo excessivo de álcool e outras drogas lícitas e ilícitas.

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Segundo dados informados pelo Ministério da Saúde, os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mostraram um aumento de 54% em 2020 no atendimento de dependentes químicos, se comparado a 2019, crescimento esse não observado em anos anteriores.

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O Relatório Mundial Sobre Drogas, apresentado em junho de 2020 pelo escritório das Nações Unidas, apontou um aumento de 30% no consumo de drogas em geral, em relação ao ano de 2019.

Se antes da pandemia, 80% do consumo de álcool era realizado fora de casa, em bares ou confraternizações, este hábito passou a ser realizado na própria residência, provocando um impacto direto na violência doméstica, que cresceu em níveis alarmantes em todo o mundo.

O que mais chama atenção é que a partir da pandemia, pessoas que não faziam uso de drogas passaram a utilizá-las. Um detalhe curioso: de acordo com o Ministério da Justiça, foi apreendida no Brasil uma quantidade de drogas doze vezes maior em 2020, do que no ano anterior. Isso reforça a tese de que, no país, houve um aumento no número de usuários neste período.

2. Na sua opinião, em relação à dependência química, qual seria o papel do poder público? Qual o melhor caminho a seguir para conseguir resolver essa questão?

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As drogas não são um problema de fácil solução, com fórmulas prontas. Acreditamos que, com a união da sociedade civil organizada em conjunto com o poder público, famílias e as instituições de ensino de todos os níveis, especialmente no sentido preventivo, poderemos iniciar um debate mais construtivo para, pelo menos, minimizar a atual situação de dependência química.

Devemos ter em mente que estamos diante de um problema de saúde pública mundial, o qual demanda do poder público medidas efetivas, com foco também na recuperação e, principalmente, na reinserção do dependente à sociedade.

Cremos que, em relação às drogas, temos um longo caminho a percorrer, seja no sentido de troca de experiências, do estudo dos impactos nocivos das substâncias no corpo humano por profissionais da saúde, no debate aberto com a sociedade, no estudo e aperfeiçoamento constante das legislações e, sobretudo, no amparo à pessoa doente.

3. Quais são os principais eixos de atuação da Comissão?

Acreditamos que a prevenção é o caminho para um resultado efetivo. Por esse motivo, nossa comissão procura trabalhar, também, com vertentes de orientação.

Iniciamos nossos trabalhos em escolas com palestras, porque acreditamos que lá encontra-se o nascedouro da dependência. Realizamos também, eventos envolvendo profissionais especializados, contemplando conteúdos em diversas áreas da saúde e levando a informação para um maior número de pessoas, incluindo advogados. Além disso, também arrecadamos alimentos, que são distribuídos às comunidades terapêuticas.

As reuniões da Comissão são mensais e abertas ao público. Atualmente, estamos na fase final de implantação de uma cartilha infanto-juvenil com conteúdo destinado a conscientizar jovens a evitar a dependência química.

Tal solução não se dará da noite para o dia, mas com o acúmulo de elementos científicos e culturais e com a abertura sincera do debate do tema das drogas na sociedade. É nesse sentido que buscamos implementar nosso trabalho.

4. Essa Comissão parece ser pioneira dentro da OAB-ES. Mas levando em conta que o problema da dependência química sempre existiu, por que só nos últimos anos a temática tomou uma proporção maior?

A nossa Comissão teve início na atual gestão, em meados de 2019, passando a desenvolver dentro da Instituição, um trabalho voluntário voltado aos públicos interno e externo, cumprindo assim, o papel social que também incumbe à nossa OAB.

Acreditamos que embora a OAB seja uma entidade classista voltada para os interesses dos advogados, também é detentora do compromisso da defesa da Constituição e da ordem jurídica em nosso Estado Democrático de Direito, da Cidadania e dos Direitos Humanos, principalmente, do compromisso moral com a justiça social.

Foi graças à sensibilidade do presidente da OAB/ES, José Carlos Rizk Filho, em entender a gravidade e a importância do tema, que foi constituída uma Comissão pioneira para tratar de um assunto tão importante e necessário como as drogas.

5. Qual atitude tomar caso a pessoa tenha em sua família, um dependente químico? Existe alguma ação da Comissão voltada para advogados ou advogadas que sofrem com a dependência química?

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Caso tenhamos um familiar ou amigo próximo, o procedimento correto seria conversar e manter com ele, uma relação de proximidade e confiança, sem julgamentos. Em seguida, recomenda-se que seja realizada uma avaliação por profissionais especializados nessa área, com o intuito de fazer um diagnóstico de forma individualizada, no sentido de entender o problema e direcioná-lo para o tratamento mais adequado.

A OAB-ES disponibiliza através da Caixa de Assistência dos Advogados do Espírito Santo – CAAES, psicólogos para atendimento aos advogados e também há no Estado, redes de apoio criadas para os dependentes e seus familiares, no Centro de Acolhimento e Atenção Integral sobre Drogas (CAAD), localizado no centro de Vitória.

Caso a pessoa aceite ajuda no CAAD, será direcionada ao tratamento mais adequado, de forma ambulatorial ou até mesmo em comunidades terapêuticas, cuja inclusão e permanência se dá de forma voluntária. Em casos excepcionais, pode haver a indicação de internação involuntária ou compulsória, mas somente em casos extremos.

É importante esclarecer que a família também precisa de ajuda, porque, infelizmente, a dependência química é reflexiva e afeta não somente o usuário, mas amigos próximos e principalmente, familiares que muitas vezes, não percebem que sofrem com a chamada codependência.

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