Com 30 anos, tenente da Polícia Militar Victor Feliciani é o mais novo entre os 12 atiradores de elite, também conhecidos como snipers, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Mato Grosso. Não só de idade, mas de função também. Ingressou na PM em 2002, atuou no Grupo Especial de Segurança de Fronteira (Gefron), mas o Bope sempre foi o seu objetivo.“Sempre me interessei por ocorrências complexas, então fiz o curso de Operações Especiais no Rio de Janeiro e ingressei ao batalhão aqui em Mato Grosso”.Ao entrar no Bope, o policial pode escolher uma especialização, como lembra o tenente coronel Ronaldo Roque da Silva, conhecido também como ‘comando’, que está à frente do Bope há dois anos. “O curso de atirador de precisão, o famoso sniper, é um curso específico dentro da unidade. Só pode cursar quem é certificado em algum curso de operações especiais, ou seja, tem que ter passado pelo batalhão”.Mas se engana quem acredita que qualquer policial pode desenvolver a função. Muito além do que ser bom de mira, o perfil do sniper conta com questões clássicas entre razão e emoção. Leia também - Bandidos invadem mercado e tentar furtar caixa eletrônico“No decorrer do processo a gente tem uma ideia de quem tem aptidão, não é só atirar bem, é todo um conjunto. Primeiro passar no seletivo, depois ainda há prova física e psicológica e por último, o curso de 45 dias”, destacou o comando. Ele ressalta que o processo de formação é importante para sentir a função, já que muitos começam e poucos terminam. “Não é questão física, é muito raciocínio lógico, condições psicomotoras e outras habilidades necessárias. Nem mesmo finalizar o curso te credencia”. Acontece que mesmo depois de finalizar os 45 dias de curso, o candidato passa por um ‘estágio’ antes de ser credenciado como um atirador de elite. Para o comandante, o atirador representa uma função relevante dentro de um evento crítico e é uma das alternativa para resolver a situação. Ele também media questões que vão além da sua função, já que possuem uma observação favorável por conta da luneta. "O atirador auxilia ainda nas informações que munem o gerente da crise, a equipe de negociação e até no traço da estratégia de atuação, então não é só atirar. Tem ainda papel a proteção e o resguardo das vidas que estão presentes no cenário de crise", afirmou. Precisão e disciplinaDiariamente, assim que chega no batalhão, os atiradores de elite precisam fazer a zeragem do fuzil. A reportagem do #GD acompanhou o tenente Feliciani em uma demonstração de uma pequena parte da sua rotina como sniper. Apesar de pequena, é uma das mais importantes, especialmente se for preciso sair para qualquer ocorrência.“Independente do dia. Entrou no serviço tem que fazer a zeragem, se acontecer alguma ocorrência você sabe que o fuzil está apto para ser usado”. Para quem não entender, a zeragem nada mais é que uma ‘manutenção’ para corrigir o tiro. Para isso, eles migam para uma área de treinamento, que é anexa ao batalhão.Terreno aberto, com vegetação seca. Em uma pista com cerca de 100 metros, precisa dar 3 tiros e acertar em uma área equivalente a uma moeda de 0,25 centavos. Também treinam tiros de comprometimento em uma área em uma área formada por um ‘T’, entre os olhos e o nariz, que serve para ‘apagar’ o causador de uma situação sem que haja reflexo muscular e ele consiga disparar um tiro, por exemplo.Quando em 2018 decidiu fazer o curso de sniper ao lado de outros 13 policiais, entendeu o rigor da função quando apenas 7 chegaram até o fim. “Para ser atirador, a pessoa precisa ser equilibrada emocionalmente. O atirador ele não vem para matar e sim para salvar vidas, então, você precisa ser tranquilo e não se envolver emocionalmente nas ocorrências”. Feliciani prepara o fuzil, deita em uma área firme, como um píer, montado no campo de treinamento, ajeita o equipamento e o corpo. Explica à equipe que precisa se concentrar, relaxar o corpo e acalmar a respiração. No cronometro, uma série de 3 tiros aconteceu em uma questão de 36 segundos um do outro. A cada disparo feito, ele retoma o modo inicial. Apesar de nunca ter ido para uma operação como sniper, ele ressalta estar preparado para agir dentro do que for preciso.O #GD irá abordar em uma nova reportagem, que será divulgada na próxima semana, mais informações sobre a formação do curso de atirador especial do Bope.SniperO assunto veio à tona no dia 20 passado quando um sniper atirou contra um sequestrador no Rio de Janeiro. O fato de ter atirado 3 vezes contra o acusado divide opiniões, embora todos os 37 tenham saído ilesos.