Um GT (grupo de trabalho) será criado para desenvolver procedimentos destinados a proteger e operacionalizar o Centro de Informação de Emergência Nuclear, responsável pela difusão de informações ao público e à imprensa sobre situações de emergência nuclear. Entre os órgãos participantes estão o GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O grupo terá duração de até 180 dias, contados a partir da data de publicação do ato de designação de seus representantes.A medida atende a uma orientação da 3ª Reunião do Comitê de Planejamento de Resposta a Situações de Emergência Nuclear no Município de Angra dos Reis, realizada nos dias 30 e 31 de julho de 2023.Segundo o Centro Estadual para Gerenciamento de Emergência Nuclear do Rio de Janeiro, atualmente existem quatro usinas em funcionamento na América Latina, sendo duas no território nacional: Angra I e II. A construção de um terceiro complexo, Angra III, foi iniciada, mas posteriormente paralisada. Uma reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) em fevereiro adiou a decisão sobre a retomada das obras.Localizada na Costa Verde do Rio de Janeiro, Angra III teve suas obras interrompidas em 2015 por falta de recursos. Com potência prevista de 1.405 megawatts, a unidade poderia gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora anuais, atendendo cerca de 4,5 milhões de pessoas, conforme a Eletronuclear.A energia nuclear é liberada pelo núcleo de átomos que sofrem desintegração de suas partículas. O urânio é um dos principais elementos comerciais utilizados para a obtenção dessa energia, cujo potencial supera o do petróleo e de outros combustíveis fósseis. Entretanto, o risco de acidentes nucleares é elevado caso haja falhas nos sistemas ou manuseio inadequado.Os integrantes do grupo se reunirão, no mínimo, em quatro encontros ordinários, podendo ser convocadas reuniões extras, se necessário. As reuniões poderão ocorrer por videoconferência ou presencialmente.O Grupo de Trabalho será composto por representantes dos seguintes órgãos e entidades:Para o vice-diretor do Instituto de Energia da USP, Ildo Sauer, a atenção à energia nuclear tem sido negligenciada nas últimas décadas. Segundo ele, o Brasil ainda carece de melhores ações e gestão de resíduos radioativos, o que pode dificultar o manuseio dessas substâncias. O professor destaca a necessidade de maior investimento no setor e sugere que o país explore a exportação de combustíveis nucleares, como o urânio, para países que utilizam essa energia como principal fonte.Em relação à conclusão de Angra III, Sauer explica que o projeto, elaborado em 1980, está tecnologicamente ultrapassado, apesar de ter sido inovador à época. Um estudo do BNDES indicou que o custo para abandonar as obras de Angra III pode ultrapassar R$ 21 bilhões. Segundo a Eletronuclear, esse valor seria equivalente ao necessário para concluir a usina, com a diferença de que, nesse caso, ela geraria energia elétrica.Apesar disso, Sauer argumenta que o investimento poderia ser redirecionado para fontes renováveis, como eólica, hidráulica e solar, que trariam mais benefícios. Ele alerta que os custos com a usina nuclear seriam o dobro do investimento em outras fontes e poderiam gerar um acúmulo significativo de resíduos radioativos.Por outro lado, o professor de engenharia da USP, Oscar Rodriguez, ressalta as vantagens competitivas da energia nuclear, como a geração contínua de eletricidade, e defende uma matriz energética diversificada para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. “A matriz energética deve ser diversificada. Não podemos abrir mão de nenhuma fonte, incluindo nuclear, eólica, solar, hidráulica e gás natural”, afirma.Rodriguez destaca que o Brasil tem a infraestrutura necessária para operar a energia nuclear com segurança. “Com a entrada de Angra III, a energia nuclear representará 3% da matriz elétrica nacional, o equivalente ao consumo de cidades como Salvador e Belo Horizonte juntas”, explica.Já Carlos Freire, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear, considera que abandonar a obra seria um “fiasco”, pois, mesmo com participação pequena na matriz elétrica, a usina traria benefícios significativos em termos de segurança energética.