O Tribunal de Justiça da Bahia tornou réus 12 acusados de integrar uma quadrilha que teria desviado R$ 400 mil em doações via chave Pix. Eles são suspeitos de organizar campanhas de arrecadação de dinheiro para pessoas com dificuldades financeiras, a maioria doentes e muito pobres. Mas as chaves Pix divulgadas pertenciam, na verdade, aos integrantes do grupo que controlava todos os depósitos. Entre os réus, estão dois jornalistas ex-funcionários TV Record/Itapoan: Marcelo Valter Amorim Matos Lyrio Castro e Jamerson Birindiba Oliveira. O R7 tenta contato com as defesas.De acordo com a investigação, eles usavam histórias de pessoas que tiveram seus dramas pessoas exibidos no “Balanço Geral Bahia”, transmitido pela TV Record/Itapoan, com pedidos de doações. A apuração constatou que Marcelo Valter Castro, na condição de repórter e apresentador de programas televisivos, “realizava os pedidos de doações e informava o número da chave Pix que aparecia na tela para receberem as contribuições, mesmo sabendo que estas não pertenciam aos entrevistados, mas sim outros integrantes da associação criminosa”. Além disso, a investigação constatou que Jamerson Birindiba, na condição de editor-chefe do programa, “autorizava a inserção e a exibição da chave Pix destinada ao recebimento das doações, ciente de que pertencia a um dos integrantes do grupo criminoso, e não à vítima ou pessoa por ela indicada, para, assim, receberem os valores que os telespectadores transfeririam para as vítimas, e, em seguida, se apropriarem da maior parcela”.A investigação notou movimentações atípicas nas contas bancárias dos dois em um período de 15 meses. Marcelo Valter Castro movimentou pouco mais de R$ 1,2 milhão e Jamerson Birindiba, cerca de R$ 2,2 milhões.“Os telespectadores, comovidos pelos relatos de sofrimento e privações financeiras exibidas nos programas, transferiam recursos para as vítimas, através de chaves pix informadas pelo repórter que realizava as entrevistas e que eram exibidas na tela da televisão”, diz a denúncia do Ministério Público. Além de tornar os dois réus, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 607,1 mil das contas de Marcelo Valter Castro, Jamerson Birindiba e um terceiro envolvido. Todos os réus estão proibidos de deixar Salvador por mais de sete dias e não podem sair do Brasil.Os jornalistas foram demitidos por justa causa em março de 2023 após a emissora investigar o caso. As apurações revelaram que cerca de 75% das arrecadações ficavam com os envolvidos na quadrilha, enquanto apenas uma pequena parte era destinada às verdadeiras vítimas das campanhas. Dona Maria de Fátima é citada como vítima direta do golpe. Ela recebeu apenas R$ 3 mil dos R$ 27.600 arrecadados para sua causa por meio dos jornalistas.