Economia Brasil amplia liderança no ranking de maiores exportadores agrícolas

Brasil amplia liderança no ranking de maiores exportadores agrícolas

Já líder nas vendas de café verde, carne bovina, frango in natura, celulose, soja em grão e açúcar, país agora também é o maior exportador de milho do mundo

Agência Estado - Economia
Brasil superou os EUA como maior exportador de milho

Brasil superou os EUA como maior exportador de milho

Adriano Machado/Reuters - 22.08.2023

O Brasil se consolida, cada vez mais, como o maior exportador agrícola do mundo. O país, que já era líder nas vendas de café verde, carne bovina, frango in natura, celulose, soja em grão e açúcar, agora também é o maior exportador de milho, superando os Estados Unidos.

No ano que vem, o Brasil deve ultrapassar os americanos também na produção de algodão, ocupando a terceira posição no ranking mundial, atrás de China e Índia. Com a colheita crescendo, o Brasil tem condições de se tornar o maior exportador da fibra no mundo, desbancando os Estados Unidos.

A liderança é decorrente de uma série de fatores. No mercado interno, o Brasil tem batido recordes consecutivos na safra de grãos, resultado também do aumento da produtividade nacional. A tecnologia do plantio direto, a irrigação e o melhoramento genético dos cultivares já permitem que os agricultores brasileiros de forma geral consigam colher até três safras agrícolas por ano numa mesma área.

No exterior, a quebra de safra nos Estados Unidos e na Argentina por causa do clima e a guerra na Ucrânia também explicam os números. A redução da oferta dos principais produtores abriu a perspectiva de aumento das exportações para a grande safra brasileira.

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O protagonismo brasileiro no ranking mundial do agronegócio foi estampado no último relatório do departamento de agricultura dos Estados Unidos, de 12 de setembro. Pelo documento, o Brasil exportou 57 milhões de toneladas de milho ante 42,29 milhões de toneladas dos produtores americanos no ano safra 2022/2023, que vai de agosto a julho. Na safra atual, o USDA projeta exportações de milho de 55 milhões de toneladas para o Brasil e de 52,07 milhões para os Estados Unidos.

No algodão, a perspectiva é a de que as vendas externas da safra 2023/24 dos Estados Unidos somem 2,67 milhões de toneladas, apenas 100 mil toneladas acima dos volumes exportados pelo Brasil (2,57 milhões de toneladas). No mesmo período, a expectativa é a de que o Brasil produza 3 milhões de toneladas de algodão, à frente dos Estados Unidos (2,859 milhões).

No caso do milho, na safra 2022/23, a produção total atingiu quase 132 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Com a recuperação da produtividade nos Estados do Sul e do Mato Grosso, a safra foi 17% maior do que a do ano anterior, que já tinha sido recorde.

"Esse aumento da produção fomentou as exportações brasileiras", afirma Tiago Pereira, assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Algodão

Produção de algodão no Brasil passou por transformações

Produção de algodão no Brasil passou por transformações

Mark Stebnicki/Pexels

Depois de ser devastada por uma praga chamada bicudo, a produção de algodão no Brasil passou por grandes transformações nos últimos anos. Até os anos 1980, por exemplo, o Brasil era exportador de algodão. A fibra era produzida em São Paulo e no Paraná em pequenas propriedades e colhida manualmente.

Na época, a praga acabou com a produção e o país passou a ser importador de algodão nos anos 1990, conta Miguel Faus, presidente da Anea (Associação Nacional dos Exportadores de Algodão). A volta às exportações ocorreu com o cultivo do algodão no Centro-Oeste, em grandes propriedades, com colheita mecanizada.

A partir dos anos 2000, os agricultores do Centro-Oeste começaram a plantar algodão como segunda safra, em rotação com o milho. "No Mato Grosso, que é o maior produtor, 80% do algodão hoje é plantado em segunda safra", diz o presidente da Anea.

Na produção, o Brasil vai passar os EUA no ano safra 2023/2024, segundo o USDA. A produtividade do algodão brasileiro é hoje de 1.900 quilos por hectare, mais que o dobro da dos Estados Unidos (900 quilos por hectare). "Na próxima safra, deveremos ter incremento de área de algodão, pois os preços estão bons, a produtividade é excelente e o milho está hoje com margem negativa", observa Faus.

Consumo interno

No entanto, ultrapassar os Estados Unidos nas exportações e se tornar líder nas vendas externas é uma possibilidade, se, de fato, a quebra da safra no Estado americano do Texas for maior do que o esperado, diz o presidente da Anea. Um obstáculo para romper essa barreira é que o consumo interno de algodão no Brasil é grande (cerca de 700 mil toneladas) e supera o dos EUA, que é de 468 mil toneladas. "O excedente exportável lá é maior do que aqui", frisa.

De toda forma, além dos ganhos de produtividade, o setor tem investido em qualidade e na sustentabilidade da fibra, uma das exigências dos compradores internacionais. Faz três anos que a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) e a Anea iniciaram um programa chamado Cotton Brazil para promover o produto brasileiro no exterior.

O programa tem um escritório em Cingapura e foram realizadas sete missões internacionais, que trouxeram representantes de 150 indústrias para conhecer como o algodão brasileiro é produzido, isto é, seguindo os critérios de sustentabilidade e qualidade.

Faus diz que o algodão brasileiro está trabalhando em silêncio. Na sua opinião, a commodity já está repetindo o efeito que a soja provocou no agronegócio brasileiro. "Passar os Estados Unidos é um detalhe para nós."

'Não tem para ninguém'

No caso do milho, as perspectivas também são promissoras. "No médio prazo não tem para ninguém, só nós, mesmos", diz o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira. Segundo ele, até 2050, o Brasil poderá produzir 400 milhões de toneladas de milho por ano, impulsionado pelo aumento de área e ganhos de produtividade.

Os EUA podem ganhar em produtividade no curto prazo, mas o aumento de área será mais restrito. Isso porque, se ampliarem a área com milho, terão de reduzir a de soja. "Área e produtividade no Brasil não têm limites e, se o preço melhorar, muitos produtores que não estão plantando milho na segunda safra vão começar a plantar."

No entanto, no curto prazo, o Brasil poderá perder a liderança na próxima safra. Ele afirma que, por causa da grande safra atual, o preço do grão está em baixa. E isso desestimula o plantio dos produtores brasileiros. Mas ele acredita que esse retrocesso seja transitório. Nos próximos anos, Silveira diz que o País vai se consolidar na liderança mundial das exportações de milho.

Apesar das perspectivas favoráveis a médio prazo, o diretor da Abramilho destaca que a falta de armazéns para estocagem tem sido um problema para o setor. "Não adianta crescer demais a produção e não ter onde armazenar: o preço cai demais e o produtor é obrigado a vender a qualquer preço."

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