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O anúncio mais aguardado
dos últimos tempos é sobre quem será o novo ministro da Fazenda no segundo mandato
da presidente Dilma Rousseff. Enquanto o nome não é
anunciado, um temor antigo do País — a inflação — já se mostra como o primeiro desafio do futuro governo.
Desde que o
aumento de preços foi domado ao longo da década de 1990, a sociedade e os partidos políticos entenderam que a estabilidade econômica tem um alto valor político e pode alavancar a carreira de um
gestor.
Porém, a missão do futuro ministro não será somente essa. É preciso retomar o crescimento do País, recuperar a credibilidade do governo
junto aos empresários e investidores e manter o desemprego em patamares baixos.
Confira, nas próximas imagens, os desafios enfrentados por quem já ocupou o cargo
e como eles influenciaram a economia do País
Montagem/R7
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No fim de
1992, o País vivia um momento histórico: o impeachment do então presidente Fernando Collor de
Mello. Seu vice, Itamar Franco, assume o Brasil em outubro daquele ano com a
missão de enfrentar uma inflação galopante. Como se não bastasse, era preciso
ministros da Fazenda que pudessem encontrar soluções para valorizar a moeda
nacional e desenvolver a economia brasileira. Diante de um cenário tão ruim, poucos ministros pararam no cargo
Montagem/R7
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Os primeiros ministros da Fazenda de Itamar foram o advogado Gustavo Krause Gonçalves
Sobrinho, o economista Paulo Roberto Haddad e o engenheiro
civil Eliseu Rezende — mas eles não passaram mais de quatro meses na pasta. O grande
problema era que ninguém conseguia montar um plano para controlar a inflação
“Era
necessário equipe bem preparada e condições macroeconômicas adequadas, como
renegociação da dívida externa e volume suficiente de reservas internacionais, para estabilizar a taxa de câmbio”, explica o professor Fernando Nogueira da
Costa, do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas)
Montagem/R7
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Foi somente o quarto ministro da Fazenda de Itamar que acabou se destacando no cargo. Sociólogo e com uma carreira acadêmica em ascensão,
com aulas na famosa Universidade de Paris, Fernando Henrique Cardoso só
entrou para a política quando foi eleitor senador, em 1982, pelo antigo MDB
(Movimento Democrático Brasileiro). Mas foi como ministro da Fazenda de
Itamar que sua carreira política decolou
Agência Brasil
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Antes de assumir a Fazenda, FHC foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar. A jornalista Maria Clara R. M. do Prado, que foi coordenadora de Divulgação do Plano Real do Ministério da Fazenda entre 1994 e 1995, explica que, após o impeachment de Collor, “Fernando Henrique teve papel fundamental para garantir a governabilidade e convencer Itamar Franco a vestir a camisa de presidente da República”
Edu Garcia/Estadão Conteúdo
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Como ministro da Fazenda, FHC montou a equipe que implementou o Plano Real.
— Estava no lugar certo, na hora certa e pôde formar a melhor equipe econômica, a mais familiarizada com o estudo da inflação brasileira. O fato de ser um intelectual, com respeitada carreira acadêmica, foi fundamental para o entrosamento com a equipe e para a confiança que inspirou nos economistas do Real
Arquivo/Estadão Conteúdo
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Com a gestão de um
plano que poderia finalmente controlar a subida de preços no País, FHC tinha a plataforma da estabilidade econômica nas mãos. Com isso, foi eleito presidente da República em outubro de 1994. Ele se tornou o primeiro presidente eleito do
Brasil para dois mandatos consecutivos (de 1995 a 1998 e de 1999 a 2002)
Mônica Zarattini/Estadão Conteúdo
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É importante
ressaltar que, quando o Real entrou em circulação, FHC já tinha deixado o cargo
de ministro da Fazenda, por causa do prazo de seis meses que todo ocupante de
cargo público tem para se licenciar e concorrer às eleições — no caso, as
presidenciais
Getty Images
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No lugar de FHC assumiu o jurista e diplomata brasileiro Rubens Ricúpero, em março de 1994. Ele foi responsável por comunicar aos brasileiros sobre a nova moeda pelos meios de comunicação. A jornalista Maria Clara do Prado, que também é autora do livro A Real História do Real, comenta sobre o papel de Ricúpero:
—
Ricupero teve um papel fundamental na rápida
disseminação da credibilidade da nova moeda e na incansável tarefa de dar total
transparência à sociedade das várias medidas tomadas na fase de
implementação do plano
Luiz Prado/Estadão Conteúdo
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Segundo Maria Clara do Prado, a comunicação não pode ser
desprezada em momentos cruciais como os primeiros meses do Real, porque
pode fazer toda a diferença.
— Naquele momento,
Ricúpero foi o rosto e a voz do Real.
Mas um episódio
conhecido como “O Escândalo da Parabólica” fez com que ele pedisse demissão.
Ricúpero renunciou ao cargo em 6 de setembro de 1994
Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo
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O ex-ministro
iria dar uma entrevista gravada e, numa conversa informal com o
jornalista Carlos Monforte, Ricúpero
falou: 'Eu não tenho escrúpulos. Eu
acho que é isso mesmo, o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente
esconde'.
Porém, o link via satélite que transmitiria a entrevista já estava aberto. A frase ganhou uma repercussão negativa. Em entrevista à revista Época Negócios, o ex-ministro voltou a falar do episódio. Ele disse que, na época, já tinha acesso aos resultados parciais que mostravam que a inflação estava caindo e chegou a comentar isso com o jornalista, que ficou muito interessado em publicar a notícia em primeira mão. Para tentar explicar que não poderia divulgar o tema, Ricúpero usou a expressão: “Eu mesmo não teria escrúpulos. O que é bom a gente fatura e o que não é bom a gente esconde, mas nós temos um compromisso para não divulgar'.
Ed Ferreira/Estadão Conteúdo
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Após a saída de Ricúpero, Itamar Franco escolheu o advogado Ciro Gomes como novo ministro. A jornalista Maria Clara do Prado lembra que ele tinha um perfil totalmente diferente. Enquanto Rubens Ricúpero era afável e tinha uma maneira segura e simpática de falar, Ciro era mais assertivo.
— Ciro Gomes enfrentou sindicatos de trabalhadores e de empresários com voz firme e, algumas vezes, com ameaças. Foi importante para aquele momento do plano
Roosewelt Pinheiro/ABr
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Com o início da era FHC, em 1995, houve mudanças no
Ministério da Fazenda. A volatilidade acabou no órgão e, com a inflação em rota de queda, o único a gerir a economia do País nos dois mandatos de FHC foi o
engenheiro e economista brasileiro Pedro Malan
Montagem/R7
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Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Nogueira, o fato de Pedro Malan ter sido o negociador da dívida externa brasileira e, com isso, ganhar o respaldo da comunidade financeira internacional, foi um dos fatores que colaborou para que ele ficasse oito anos no cargo.
— Durante seu mandato, houve crise bancária, privatização dos bancos estaduais, desnacionalização do varejo bancário e reestruturação dos bancos públicos federais para futura privatização
Hélvio Romero/Estadão Conteúdo
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De acordo com a jornalista Maria Clara do Prado, a estabilidade de uma moeda tem o dom também de trazer a estabilidade política.
— FHC soube governar com o apoio do Congresso Nacional, ajudado pela simpatia da mídia e pelo respeito dos organismos internacionais. Isso garantiu um ambiente político favorável à permanência do ministro da Fazenda em seu governo
Agência Estado
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O século muda e o PSDB perde a
presidência para o PT. Com Lula comandando o País,
o seu coordenador de campanha Antônio Palocci assume o Ministério da Fazenda
Celso Junior/Estadão Conteúdo
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Considerado um dos ministros mais
influentes do governo Lula, o professor Fernando Nogueira explica que uma das
grandes habilidades de Palocci era a “grande capacidade pessoal de lidar com
diferentes pessoas”.
— Montou
sua própria equipe sem interferência política do PT. Em compensação, deu
carta-branca para os bancos públicos, com dirigentes social-desenvolvimentistas
fazerem uma política de crédito, inclusive [para] expandir o crédito consignado.
Palocci nunca perdeu uma eleição. Ele já foi eleito vereador de Ribeirão Preto, deputado estadual, federal e prefeito da cidade paulista. Críticos afirmavam que era rígido e severo para ser um político de esquerda, mas foi considerado um bom ministro e manteve a economia do País estável.
Ao construir um bom diálogo com empresários e investidores, é apontado como um dos responsáveis pelo crescimento econômico nos anos Lula, com destaques para o ganho de renda dos trabalhadores e queda do desemprego
Sebastião Moreira/Estadão Conteúdo
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Palocci deixou a pasta em março de 2006, após ser acusado de
ordenar a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que
trabalhava em uma casa em Brasília que seria frequentada por ele e lobistas. O ex-ministro foi absolvido das acusações pelo STF em 2009
Montagem/R7
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Após a saída de Palocci, assumiu o economista
Guido Mantega, que tinha passagens como ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e também presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social)
Antonio Augusto/14.05.2014//Câmara dos Deputados
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Para Nogueira, da Unicamp, o ponto positivo
da gestão Mantega foi a manutenção da baixa taxa de desemprego.
Já para o professor
Antônio Correa, coordenador da pós-graduação em Economia Política da PUC-SP (Pontifica
Universidade Católica de São Paulo), o fato de a crise
internacional não derrubar a economia brasileira foi favorável ao atual ministro.
Mesmo assim, a sua
administração vem sofrendo críticas nos últimos tempos, principalmente devido à inflação
persistente. Em outubro, a inflação oficial, medida
pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumula alta de
6,59% nos últimos 12 meses e continua acima do teto da meta do governo (6,5%)
Evaristo Sá/AFP/Getty Images
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A jornalista Maria
Clara do Prado explica que, desde a época da hiperinflação, ficou claro
para os partidos que combater a inflação era um bem com alto valor político.
— Uma inflação
ascendente, de forma descontrolada e contínua, pode acabar sem dúvida com a
carreira de um ministro
Getty Images
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Com mais de oito anos na pasta,
Mantega se tornou em 2014 o ministro da Fazenda com mais tempo no cargo.
Durante a
campanha eleitoral deste ano, a presidente Dilma Rousseff anunciou que ele não participará do novo governo. A partir de 2015, Mantega voltará a dar aulas na escola de economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas)
André Dusek/03.01.2014/Estadão Conteúdo
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A expectativa do mercado agora é para que a presidente escolha um economista ou líder empresarial para ocupar o cargo.
Isso acalmaria principalmente os empresários, segundo o professor Fernando Nogueira.
— Os empresários [querem] sentir que têm um representante no governo com quem
possam ter um canal de diálogo para reivindicações corporativas
Getty Images