Deputados pedem que Banco Central reduza juros em sessão solene com Galípolo
BC aumentou Selic de 13,25% para 14,25% ao ano na última reunião do Copom e sinalizou nova elevação no próximo encontro
Economia|Do R7
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, teve de ouvir apelos de parlamentares para reduzir os juros durante sessão realizada nesta terça-feira (1º), na Câmara do que comemorou os 60 anos da autarquia. Enquanto os convidados para compor a mesa exaltaram a importância da autoridade monetária, os parlamentares reclamaram do nível da Selic.
“Venho em nome do povo brasileiro dizer a vocês que não aceitamos essa taxa de juros, que não concordamos, e que os fundamentos estão equivocados”, disse o deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), por volta de 10h10. “O que o Brasil quer? Imediatamente, derrubar essa taxa de juros pelo menos à metade. É inaceitável, presidente Galípolo, você seguir a mesma metodologia do Roberto Campos Neto, ex-presidente do BC indicado por Jair Bolsonaro.”
No último dia 19, o BC aumentou a Selic de 13,25% para 14,25% ao ano, e sinalizou uma nova elevação, menor do que 1 ponto percentual, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), de maio. “Vocês são responsáveis pelo retrocesso econômico do Brasil”, disse o deputado, na tribuna, acrescentando que os juros altos prejudicam empresas.
Outros parlamentares fizeram críticas semelhantes, embora em um tom mais ameno. Mauro Benevides Filho (PDT-CE), em um determinado momento, afirmou que desde 1999 os resultados primários foram insuficientes para reduzir a dívida pública, que responde à taxa Selic. Ele disse que governo e Congresso têm contribuído para o ajuste fiscal. “Então eu acho que o Banco Central, data venia, meu querido presidente e amigo Galípolo, eu acho que o Copom precisa dar uma examinada, e aí só o desabafo final”, afirmou.
O ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles saiu em defesa da autoridade monetária após a fala de Hauly.
“Todos gostaríamos de ter o Brasil com uma inflação controlada e também uma taxa de juros que pudesse estar de acordo com outro país. E isso não é simplesmente uma vontade da autoridade monetária. É uma realidade central, tem que ter ideias técnicas de proteção, e ele tem como responsabilidade fundamental manter a inflação próxima ou na meta idealmente”, disse Meirelles.
“Presidente Gabriel, parabéns pela sua gestão, pela sua atitude corajosa, exatamente de tomar as medidas certas, colocando os juros onde têm de estar para o controle da inflação”, completou.
Homenagem
Outras autoridades também homenagearam o BC. O ex-presidente da autarquia e hoje representante-chefe do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) para as Américas, Alexandre Tombini, disse que, em meio à grande incerteza internacional, é importante ter “uma instituição sólida, com uma equipe sólida”, referindo-se à autarquia. “Para transitar num ambiente desse, nada mais importante do que uma instituição sólida como o Banco Central do Brasil”, disse ele, elogiando Galípolo e o corpo funcional do BC.
O secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, salientou o aumento da bancarização no Brasil, mas disse que é preciso criar as condições para que o sistema financeiro funcione para todos os brasileiros. “Não tenho dúvida nenhuma de que o Banco Central terá essa tarefa e vai conseguir desempenhar esse papel”, previu. Já o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Risco do Banco do Brasil, Felipe Prince, lembrou da história conjunta inicial das instituições, salientando que passaram de irmãs siamesas para irmãs gêmeas, ao terem ainda tarefas complementares até hoje.
O presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, lembrou de passagens de turbulência econômica no Brasil e no mundo, quando esteve reunido com alguns de seus presidentes e citou Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini e Roberto Campos Neto. “Tenho certeza que não menos importante será o papel do presidente Galípolo, que tem uma grande qualidade na capacidade de articulação e de diálogo.”
‘Doses maiores de remédio’
Durante a sessão, Galípolo afirmou que é possível que os canais de transmissão da política monetária do Brasil não tenham a mesma fluidez que em outros países. Isso pode explicar a razão pela qual o país precisa de juros mais altos para controlar a inflação, argumentou.
“Eventualmente, você precisa dar doses maiores do remédio para conseguir o mesmo efeito”, disse ao tentar rebater as críticas dos deputados.
O atual presidente do BC afirmou que, na literatura internacional e nas conversas com outros banqueiros centrais, o principal questionamento é como o Brasil pode ter juros que seriam elevados para vários países e, mesmo assim, ter uma economia dinâmica. Ele lembrou que, recentemente, o desemprego caiu ao menor nível da história no País, e o rendimento das famílias cresceu às máximas.
Galípolo citou a estrutura de subsídios da economia brasileira como uma das explicações para o mau funcionamento dos canais de transmissão. “Nós temos uma série de subsídios cruzados, perversos e regressivos na sociedade brasileira. E talvez para nós, do Banco Central, esses trade-offs, como a gente costuma chamar, esses ônus e bônus, essas trocas, sejam mais evidentes”, disse.
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