Dólar cai 2%, a R$ 5,47, e Ibovespa sobe, após sinal de queda de juros nos EUA
Apesar do tombo na quinta-feira, moeda termina a semana com leve ganho (0,21%); no mês, acumula desvalorização de 3,11%
Economia|Do Estadão Conteúdo
Após ter flertado na quinta-feira com o nível de R$ 5,60, em meio a mau-humor externo e desconforto com a comunicação do Banco Central, o dólar à vista despencou na sessão desta sexta-feira (23), e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,50.
O real pegou carona na onda de enfraquecimento global da moeda norte-americana e no aumento do apetite por ativos de risco, ambos deflagrados pela confirmação de que o Federal Reserve (Fed o banco central dos Estados Unidos) vai inaugurar um ciclo de corte de juros a partir de setembro.
No fim da manhã, em discurso no Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi direto ao ponto: “Chegou a hora de ajustar a política monetária”. Fiel ao seu duplo mandato busca de pleno emprego e estabilidade de preços, o BC norte-americano vê agora mais riscos de perda de dinamismo do mercado de trabalho do que de reversão do processo de desinflação.
Por aqui, o dólar à vista fechou em baixa de 1,99%, cotado a R$ 5,4794, após mínima a R$ 5,4749 ao longo da tarde. Apesar do tombo desta sexta, a moeda termina a semana com leve ganho (0,21%). No mês, a divisa acumula desvalorização de 3,11%.
Já Ibovespa retomou a trajetória positiva nesta última sessão da semana, em leve alta de 0,32%, aos 135.608,47 pontos, após realização de lucros na quinta-feira quando cedeu 0,95%. Na semana, o índice da B3 subiu 1,24%, depois de avanços de 2,56% e de 3,78% nos intervalos precedentes acumulando assim ganho de 6,23% em agosto, que chega ao fim na próxima sexta.
Nesta sexta, o índice da B3 flutuou dos 135.174,18, mínima na abertura, até os 136.477,53 pontos, na máxima do dia. O giro financeiro ficou em R$ 20,9 bilhões na sessão. No ano, o Ibovespa avança 1,06%. Se o desempenho se mantiver, agosto pode vir a ser o melhor mês para o índice desde a alta de 12,54% acumulada em novembro do ano passado. Na semana que nesta sexta se encerra para o mercado, o Ibovespa renovou níveis recordes de fechamento entre segunda e quarta-feira.
Powell e dirigentes do BC norte-americano ressaltaram que o ritmo de cortes e a magnitude do alívio monetário nos EUA estão condicionados aos indicadores. Presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker repetiu pela manhã que a instituição vai cortar os juros de forma “metódica”. À tarde, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que a política monetária está em seu nível mais restritivo da história e reiterou que prevê cortes de juros diversas vezes entre 2024 e 2025.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, observa que, se o Fed “não procura e nem aceitará deterioração adicional das condições do mercado de trabalho”, o processo de queda de juros não pode ser lento, uma vez que há defasagem entre o alívio monetário e seu impacto na atividade econômica.
”Entendemos que o Fed parece estar disposto a fazer movimentos agressivos já no início do ciclo de afrouxamento. Assim, consideramos que aumentou sensivelmente a chance de o corte ser de 50 pontos-base já na largada, em setembro”, afirma Olivares. “E estando definido o ritmo dos cortes, o tamanho do ciclo será dado pela evolução do mercado de trabalho e, em menor medida, da inflação.”
Apesar da sinalização de queda de juros nos EUA, a perspectiva de alta da taxa Selic ainda neste ano segue no radar. Economistas de mercado que se reuniram nesta sexta de manhã com diretores do Banco Central afirmaram que será necessário aumentar a taxa Selic entre 0,75 e 1,25 ponto porcentual nos próximos meses para preservar a credibilidade da autoridade monetária e ancorar as expectativas de inflação, segundo participantes do encontro.
Na quinta, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, disse que a adoção de um balanço de risco assimétrico para a inflação não representa um guidance (orientação futura) para a condução da política monetária, mas reiterou que o BC está pronto para elevar os juros, se necessário.
Falas nesta semana do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, foram menos incisivas, relevando desconforto com a aposta em alta da taxa Selic já em setembro por ala relevante do mercado - o que provocou certo ruído e, segundo analistas, contribuiu para o tombo do real na quinta.
Em um quadro de baixa da taxa de juros nos EUA, o economista do banco Wells Fargo Brendan MacKenna prevê que a combinação de altas da taxa Selic ainda neste ano com demonstrações mais explícitas do governo de comprometimento com as metas fiscais em 2025 deve levar a uma apreciação do real.
Com a ressalva que a trajetória do dólar deve ser marcada por solavancos, MacKenna afirma a taxa de câmbio deve migrar rumo a R$ 5,30 até meados de 2025, em razão de “diferencial de juros mais atraente e de responsabilidade fiscal do governo Lula”.
”Impulsionado pelos ventos favoráveis de um dólar mais fraco, o real pode ter um desempenho melhor que pares latino-americanos e moedas de mercados emergentes”, diz o economista, ressaltando que o dólar tende a voltar a subir a partir do segundo semestre de 2025, com eventual queda da Selic e um afrouxamento da política fiscal, com o governo já de olho na eleição presidencial. “Até o início de 2026, acreditamos que a taxa de câmbio pode chegar a R$ 5,70.”