O dólar registrou sólida valorização nesta terça-feira (16), com o real entre as moedas mais golpeadas em uma sessão negativa para divisas correlacionadas às matérias-primas, cujos preços voltaram a cair por temores de recessão global. O dólar à vista subiu 0,94%, a R$ 5,1405, depois de na máxima saltar 1,24%, para R$ 5,1555, maior nível desde a sexta-feira passada. A instabilidade nos mercados externos estimulou a demanda pela proteção da moeda norte-americana. O índice do dólar frente a uma cesta de rivais evitava uma correção mesmo depois do salto da véspera, e as bolsas de valores em Nova York oscilaram entre perdas e ganhos por toda a sessão. Um índice de commodities emendou a terceira baixa consecutiva e acumula um tombo de 12,7% desde os picos em vários anos alcançadas em junho, pressionando adicionalmente os termos de troca do Brasil, uma das variáveis na conta da taxa de câmbio de equilíbrio. O minério de ferro, um dos principais componentes da pauta de exportação do Brasil, voltou a cair na Ásia. Por aqui, analistas não deixaram de citar o início oficial da campanha eleitoral, período historicamente associado a um aumento da volatilidade no mercado financeiro. A partir desta terça está liberada a realização de propaganda partidária e a realização de eventos de arrecadação de recursos para a campanha. O foco dos investidores é entender quais as propostas dos dois candidatos que lideram pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), para a política fiscal. Por ora, o entendimento é que ambos dão indicações de mais afrouxamento no controle de gastos. "O mercado melhorou desde os preços de julho, depois das sinalizações do Fed, mas nessa frente (fiscal) o cenário não melhorou, pelo contrário", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, em referência a indicações de Bolsonaro e Lula sobre aumento permanente de gastos em 2023. "Esse debate fiscal vai continuar no foco do mercado pelos próximos anos", completou. A demanda por opções de compra de dólar em relação à procura por opções de venda da moeda voltou a subir justamente num momento em que o dólar entrou em rota de baixa, indicando pouca convicção dos agentes financeiros na manutenção dos patamares em torno de 5,10 reais em que a divisa norte-americana chegou a operar recentemente. Enquanto isso, a volatilidade implícita, uma medida da expectativa de vaivém nos preços, bateu no prazo para três meses o maior patamar desde julho de 2020, quando a comunidade financeira e o mundo ainda lidavam com o baque inicial da pandemia de Covid-19. Gestores de fundos da América Latina se mostram mais preocupados do que em julho com os planos para a política fiscal brasileira após as eleições, e um número maior deles espera que o mercado financeiro reaja aos resultados das pesquisas de intenção de voto até as eleições, mostrou sondagem do Bank of America referente a agosto divulgada nesta terça-feira. No curto prazo, a possibilidade de um banco central norte-americano menos agressivo na política monetária parece aplacar maiores temores do lado político-fiscal no Brasil, contudo. Na sondagem do BofA, a maioria respondeu esperar dólar entre R$ 4,81 e R$ 5,40 ao término deste ano, e a aposta alternativa em um preço mais alto, entre R$ 5,41 e R$ 5,70 ao fim do ano, despencou de cerca de 25% em julho para menos de 10% em agosto. Rostagno, do banco Mizuho, revisou para R$ 5,10 a projeção para o dólar ao fim de 2022, ante R$ 5,20 anteriormente, citando um cenário de juros menos pressionados nos EUA.