Governo central tem déficit primário de R$10,5 bi em maio, com receitas menores
Economia|Do R7
Por Luciana Otoni
BRASÍLIA (Reuters) - Com forte queda nas receitas e sem contar com dividendos bilionários, o governo central registrou déficit primário de 10,502 bilhões de reais em maio, pior resultado para esses meses e que coloca ainda mais em xeque o cumprimento da meta deste ano.
A cifra, a primeira negativa neste ano, acabou reduzindo o saldo positivo da economia feita para pagamento de juros a 19,158 bilhões de reais acumulado no ano, 42,4 por cento a menos do que em igual período de 2013, informou o Tesouro Nacional nesta sexta-feira.
Em maio, as receitas líquidas do governo central --governo federal, Banco Central e Previdência-- somaram 68,374 bilhões de reais, com queda de 28,8 por cento frente a abril. No ano, somam 412,741 bilhões de reais, 6,5 por cento ao mais do em janeiro a maio de 2013.
"Maio é tradicionalmente um mês de primário mais baixo, mas foi resultado mais negativo basicamente em função de receita bem menor", afirmou a jornalistas o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
Mais cedo, foi divulgado que a arrecadação federal teve queda real anual de 5,95 por cento no mês passado, pelo fraco crescimento da economia e altas desonerações. O tombo levou a Receita Federal a reduzir para cerca de 2 por cento a previsão de crescimento do recolhimento de impostos este ano.
Segundo dados do Tesouro, o déficit primário também veio pela queda mensal de quase 70 por cento nas receitas oriundas de dividendos de estatais, que somaram 779,9 milhões de reais em maio.
No ano, o pagamento de dividendos soma 9,011 bilhões de reais até maio, com alta de 130 por cento sobre o mesmo período de 2013. O grande destaque é o BNDES, que já desembolsou 3,898 bilhões de reais neste ano, quase 2 bilhões de reais a mais do que janeiro a maio do ano passado.
E, segundo Augustin, o banco de fomento vai repassar mais 1 bilhão de reais em dividendos neste mês à União.
A Petrobras também tem pago fortes dividendos, somando 2,013 bilhões de reais neste ano até maio, quatro vezes a mais do que o mesmo período de 2013. Os 2 bilhões de reais em bônus que a estatal também pagará à União pelo direito de exploração do óleo excedente no pré-sal, segundo informou o Tesouro, deve ocorrer quarto trimestre deste ano.
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META COMPROMETIDA
O rombo elevado nas contas públicas em maio torna ainda mais complicada a vida do governo em cumprir a meta de superávit primário do setor público consolidado neste ano, de 99 bilhões de reais, equivalente a 1,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
"O resultado foi um duro golpe, um nocaute no cumprimento da meta do governo. Se ele quiser cumprir a meta, vai ter que tirar coelho da cartola", afirmou o economista da Rosenberg & Associados Rafael Bistafa, que, por enquanto, prevê que o primário ficará em 1,5 por cento do PIB neste ano.
O mercado reagiu negativamente ao desempenho do governo central em maio, com contratos de juros futuros e dólar subindo. A confiança dos agentes econômicos no governo foi abalada nos últimos anos com o uso de mecanismos fiscais e receitas extraordinárias para fechar as contas públicas.
"É precipitação completa avaliar que a meta não será cumprida", disse Augustin, do Tesouro.
No lado das despesas, os gastos totais do governo central ficam em 78,876 bilhões de reais em maio, com queda de 0,7 por cento em comparação ao mês anterior. Nos cinco primeiros meses do ano, eles somam 393,583 bilhões de reais, 11,1 por cento a mais do que igual período de 2013.
Augustin argumentou que parte desse aumento dos gastos veio com os investimentos, com alta de 9,4 por cento frente a abril.
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(Reportagem adicional de Tiago Pariz, em São Paulo)