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Negros respondem por dois em cada três desempregados no país

Segundo os dados da Pnad, a taxa de desocupação dos que se autodeclaram pretos é de 14,5%, de 14% para pardos e de 9,5% para brancos

Economia|Giuliana Saringer, do R7

A publicitária Angélica Moreira
A publicitária Angélica Moreira

A publicitária Angélica Moreira, de 27 anos, é formada pela ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) e faz mestrado em comunicação na mesma instituição. No entanto, está há três meses desempregada buscando uma recolocação no mercado de trabalho.

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Moreira faz parte do grupo de negros que estão desempregados no país, pessoas que são mais afetadas na busca por uma recolocação do que os brancos. Segundo os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 64,3% são pretos ou pardos entre os 12,8 milhões de desempregados. Isso equivale a 8,2 milhões de brasileiros — dois em cada três desempregados do país. 

A Pnad ainda mostra que a taxa de desocupação dos que se autodeclaram pretos foi de 14,5%, de 14% para pardos e de 9,5% para brancos no segundo trimestre de 2019.


Mesmo com uma formação acadêmica robusta, a publicitária sente dificuldades de conseguir trabalho formal. “Por mais que eu seja formada na USP, eu não consigo emprego”, afirma.

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A média nacional é de 12%. A pesquisa mostra que, dos 12,8 milhões de desempregados, 52,1% são pardos, 34,7% são brancos e 12,2% são pretos. Portanto, 8,2 milhões de desempregados do Brasil são pretos e pardos. Significa dizer que, de cada três desempregados, dois são negros (pretos ou pardos).

No Brasil, a população que se autodeclara preta ou parda representa 55,8% do total — segundo os dados da Pnad anual de 2018. 


De olho nessa disparidade, o MPT-SP (Ministério Público do Trabalho de São Paulo) criou, em 2018, o Grupo de Trabalho de Raça. Naquele ano, embora ainda haja grande número de subnotificações, houve 205 denúncias por discriminação em razão da origem, raça, cor ou etnia no mercado de trabalho — alta de 30,5% em relação a 2014, quando 157 casos foram registrados.

Durante entrevistas de emprego, Moreira diz sentir olhares diferentes para seu cabelo e sua roupa. “Eu já reparei que, quando eu não vou muito arrumada, a relação é bem diferente. Parece besta, mas eu tenho que ir de salto para passar firmeza, porque senão me tratam como criança”, afirma.

A publicitária afirma que já teve o currículo questionado por ter cursado na USP, uma das universidades públicas mais renomadas do país.

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“Já disseram: ‘Você fez USP mesmo? Você entrou com cotas?’”, conta. Hoje, Moreira busca aprimorar o inglês, que é intermediário, para conseguir um emprego na área em que é formada. Os horários do mestrado também dificultam na recolocação no mercado.

Para o MPT-SP, os negros enfrentam mais dificuldade na progressão de carreira, na igualdade dos salários e são mais vulneráveis ao assédio moral dentro do ambiente de trabalho.

Para identificar esses desafios, foi lançado no dia 15 de agosto deste ano o Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho.

A plataforma digital, criada em parceria com o escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, compila uma série de dados e informações com potencial para auxiliar na formulação de políticas públicas de promoção da igualdade e diversidade no mundo do trabalho.

O professor sênior da Faculdade de Economia da USP Hélio Zilberstein classifica como "uma realidade” a maior dificuldade dos negros para conquistar uma vaga de emprego. “Isso não representa uma novidade. Os dados confirmam que há uma discriminação no mercado de trabalho", avalia ele.

Para Zilberstein, é necessário apenas tomar cuidado ao mensurar o tamanho da discriminação e incluir salários, cargos e escolaridade na análise. "É necessário considerar grupos iguais de brancos e negros antes de medir o tempo de desemprego. Claro que a dos negros vai ser maior, mas vai ser menor do que se você avaliar todos os brancos e todos os negros", afirma o professor.

Ao olhar para o futuro, Zilberstein lista a ampliação da qualidade educacional como a única forma de reduzir a diferença entre bancos e negros no mercado de trabalho. “A educação é o instrumento mais eficaz para tornar uma sociedade menos desigual”, destaca ele, que cita os sistemas de cotas como uma forma mais rápida para diminuir a questão.

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