Autismo sem barreira: conheça histórias que desafiam diagnósticos
Neste Abril Azul, o R7 reúne e conta histórias de superação como a da estudante aprovada em engenharia aeroespacial na UnB
Educação|Alex Gonçalves*, do R7
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é celebrado neste sábado, dia 2 de abril. No Brasil a campanha Abril Azul ganha destaque para chamar a atenção da sociedade sobre o TEA (transtorno do espectro do autismo), que afeta cerca de 2 milhões de pessoas no país, de acordo com estudo do CDC (Center of Deseases Control and Prevention).
Entretanto, pessoas com diagnóstico de TEA têm alcançado os seus sonhos e objetivos, mostrando que o autismo não é uma barreira, desafiando até mesmo os diagnósticos. É o que conta Laís Cristina Coelho Lago da Costa, 18, que passou no curso de engenharia aeroespacial na UNB (Universidade Federal de Brasília).
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Brasiliense, a jovem tem o diagnóstico de TEA e TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). Atualmente, ela mora com a família em São Luís, capital do Maranhão, mas já está ansiosa para retornar à cidade onde nasceu e iniciar os estudos na universidade. "É algo novo e diferente. Vou sair de casa, vou morar sozinha e estudar uma área nova. Estou feliz, ansiosa, mas com medo também", diz.
Ainda assim a jovem não desanima e dá um recado aos autistas para continuarem em busca dos seus sonhos. "Todos nós somos capazes, sei que às vezes é preciso parar e preservar a nossa saúde e bem-estar. Não precisamos fazer tudo perfeito, a gente só precisa focar aquilo que a gente gosta e resistir ao preconceito imposto pela sociedade", comenta.
A pedagoga Leila Cristina Rodrigues Coelho, mãe de Laís, explica que o diagnóstico da filha ocorreu no ano passado. "Durante a adolescência dela eu cheguei a cursar pós-graduação em neuropsicopedagogia para entender o que se passava com a minha filha, porque ninguém conseguia dar um diagnóstico", lembra Leila.
Nesta nova etapa, a mãe diz que tudo valeu a pena. "Foi uma batalha diária com o mundo e até mesmo dentro de casa. Eu estou muito feliz e orgulhosa", afirma. "Tenho medo de ela morar sozinha, não sei como ficará minha tranquilidade como mãe nessa situação, mas estamos estudando as possibilidades para saber qual melhor caminho seguir", avalia.
Outra história de superação é a do médico autista Enã Rezende. O jovem, de 27 anos, se formou em 2019 no curso de medicina pela Unic (Universidade de Cuiabá) e venceu todos os desafios impostos pelo preconceito ao concluir os estudos e iniciar sua carreira profissional. Seguindo os mesmos passos, Elizeu Augusto de Freitas Júnior, 19 anos, foi recentemente aprovado em primeiro lugar na UFJ (Universidade Federal de Jataí) para o curso de medicina. Natural de Candeias do Jamari (RO), Elizeu foi diagnosticado com autismo aos 12 anos.
A psicopedagoga Ivone Scatolin Serra explica que é importante que os austistas se mantenham firmes, focados e com os objetivos alinhados. "São muitos os desafios e obstáculos enfrentados por eles, principalmente para quem chega à universidade", comenta.
Segundo a profissional, as pessoas diagnosticadas com autismo necessitam de um suporte. "Alguns podem apresentar problemas de atenção, memorização e concentração, não porque não possuem essas habilidades desenvolvidas, mas por não conseguirem utilizá-las sozinhos", esclarece. A utilização de recursos midiáticos ou tecnológicos ajuda no momento da compreensão. Vale destacar que dentro de algumas instituições de ensino existem setores que auxiliam os estudantes com dificuldades de aprendizagem e que necessitam de um plano de inclusão.
Ainda de acordo com Ivone, o preconceito está enraizado na sociedade. "As pessoas têm dificuldade de olhar e conviver com aquele que é diferente, sem parar para pensar que todos nós somos diferentes de alguma forma — pôr a inclusão em prática é ainda um desafio", diz.
Autismo e a tecnologia
Carol Nobre, 31 anos, é autista e criou o aplicativo Autizando. A plataforma, lançada nesta sexta-feira (1º), é gratuita e conecta pacientes autistas com profissionais médicos que queiram atender de forma voluntária. Segundo a desenvolvedora, a ideia surgiu da dificuldade em realizar consultas e terapias. "Eu não tenho plano de saúde e dependo do SUS (Sistema Único de Saúde), logo pensei que outros autistas também encontrem a mesma dificuldade", conta.
O aplicativo funciona por meio de geolocalização e há possibilidade de pedir ajuda em momentos de crise. Está disponível para Android e IOS.
* Estagiário do R7 sob supervisão de Karla Dunder