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'Chegamos sem saber o que fazer e vamos meio que no autodidata', afirma estudante cotista da USP

Apesar do vestibular mais inclusivo da história, alunos da rede pública são 4% dos aprovados em 50% das vagas mais concorridas

Educação|Mariana Pacheco*, do R7


Estudantes da USP ainda possuem dificuldade de enxerga inclusão dentro dos muros da instituição
Estudantes da USP ainda possuem dificuldade de enxerga inclusão dentro dos muros da instituição

"Chegamos sem saber o que fazer, como lidar e vamos meio que no autodidata, o que às vezes funciona, mas talvez poderia ser evitado se houvesse uma maior preocupação em acolher as pessoas que nunca tiveram acesso a isso e não têm muita base sobre como lidar com a universidade", afirma Augusto dos Santos Evangelista, 22 anos, aluno do curso de letras da Universidade de São Paulo que estudou em escola pública no ensino médio e ingressou via sistema de cotas.

Ele faz parte do mesmo perfil dos 5.714 alunos da rede pública que entraram em uma das 10.662 vagas da mais importante universidade da América Latina. O número significa 54,1% do total e fez de 2023 o ano mais inclusivo da história da USP. A seleção é feita pela Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) e pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

As cotas foram adotadas de forma escalonada desde o vestibular de 2018. Em 2020, quando Evangelista ingressou na graduação, esse índice foi de 47,7%. Em 2022, a quantidade de estudantes foi de 51,7%, mostrando que é uma tendência.

Desigualdade entre cursos persiste

Vale lembrar que, segundo dados fornecidos por Gustavo Monaco, diretor-executivo da Fuvest, esses ingressantes ainda são 4% dos aprovados entre os 50% de vagas de ampla concorrência, além dos outros 50% que cursaram ensino médio exclusivamente em escolas públicas ou que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas.

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O que prova que a desigualdade persiste e Evangelista é um exemplo disso é o fato de seu curso, letras, ser um dos menos disputados da universidade e, mesmo assim, ele relatar dificuldade: não passou de primeira.

Morava longe da escola, fazia ensino técnico e não tinha estrutura nem tempo para se dedicar aos estudos. Só conseguiu entrar, no ano seguinte, com ajuda de um cursinho preparatório.

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No ano em que ele prestou vestibular, o curso mais concorrido, de medicina, teve 129,46 candidatos por vaga. Já no de letras a proporção foi de 4,85. 

Estratégia acertada

Segundo Aluísio Segurado, pró-reitor de graduação da USP, a mudança de 2022 para 2023 é resultado da alteração na chamada dos aprovados nos processos seletivos da Fuvest e do Enem.

Todos os candidatos foram convocados pela universidade seguindo a classificação obtida na prova, ou seja, concorreram em ampla concorrência, mesmo aqueles que se inscreveram como EP (que cursaram ensino médio exclusivamente em escolas públicas) ou PPI (que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas e cursaram ensino médio exclusivamente em escolas públicas).

"Com isso, os candidatos EP e PPI que conseguiram ingresso pela ampla concorrência possibilitaram que outros candidatos fossem convocados para matrícula em vagas reservadas para políticas de ação afirmativa", explica o pró-reitor.

O sonho da USP

Odara Santos, 20 anos, fez parte da maior inclusão da história da USP neste ano, ao ingressar também no curso de letras. Ela se mudou de Indaiatuba para a capital e está temporariamente na casa de parentes enquanto não encontra uma república ou um aluguel a preço acessível.

Ela conta que o ingresso na universidade foi uma conquista de toda a família, que parecia não acreditar que o sonho da USP seria alcançado.

"É uma muralha, como eu entro ali? Minha mãe falou para mim: 'Para a gente não foi cogitado pensar que aquele espaço era nosso'. As famílias não conseguem conceber que aquele ambiente é para seus filhos ou para elas próprias", conta a estudante. 

Odara cursou ensino técnico durante a pandemia de Covid-19. Começava a estudar às 8h e só parava de madrugada, mas não deixou de perceber a defasagem do conteúdo. Sentia a diferença em relação aos colegas que estavam no ensino privado. "Não é inclusivo, vestibular nenhum é."

E acredita que o caminho por inclusão será longo. "Vejo poucas pessoas pretas e indígenas, é realmente uma massa branca. Uma frase no centro estudantil diz 'A USP vai ser preta', mas não vejo isso."

Programas da instituição

Procurada pela reportagem sobre as políticas de inclusão dos alunos que ingressaram por meio de cotas, a USP cita o Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil, que oferece 15 mil bolsas de auxílio financeiro para estudantes de graduação e de pós-graduação com necessidades socioeconômicas. 

Menciona ainda a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, que também desenvolve projetos de inclusão.

Também questionada pelo R7 sobre inclusão, a Fuvest não havia respondido até a publicação deste texto.

*Sob supervisão de Vivian Masutti

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