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Educação

Mães denunciam falta de inclusão em escolas de São Paulo

Para familiares, desenvolvimento das crianças é prejudicado pela falta de cuidados e de apoio adequado

Educação|Karla Dunder, do R7

'Crianças devem ser respeitadas como são', defende psicóloga
'Crianças devem ser respeitadas como são', defende psicóloga

Mães denunciam falta de inclusão em escolas de São Paulo. Elas afirmam que as instituições não oferecem condições adequadas para o desenvolvimento das crianças e que a lei não é cumprida integralmente.

V.M. — ela não quis se identificar por mover um processo, que está em segredo de Justiça, contra uma escola da rede Adventista em São Paulo — conta que o filho de 11 anos, superdotado, não recebeu o atendimento adequado e hoje sofre de ansiedade.

"Aos 5 anos, meu filho já me perguntava sobre política e astronomia, sempre foi um menino muito curioso e isso me chamou a atenção", diz V.M. "Fomos atrás de profissionais especializados e descobrimos que ele é superdotado."

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Ao contrário do que muitas pessoas pensam, uma criança superdotada não é aquela que domina todos os assuntos. Segundo o MEC (Ministério da Educação), um aluno com altas habilidades ou superdotação precisa de atendimento especializado, com atividades que o estimulem e possam encorajá-lo.


"Caberia à escola diminuir as barreiras, pôr em prática um PEI [Plano Educacional Individualizado]. Ele não é um aluno que vai tirar nota 10 em tudo, tem dificuldade em algumas matérias, mas vai muito bem em outras, o que seria resolvido com uma sala de recursos, mas nada disso foi oportunizado", diz a mãe do estudante G.M.F.

Denise Arantes Brero, psicóloga e presidente do Conbrasd (Conselho Brasileiro para Superdotação), explica que uma criança superdotada pode possuir habilidades acima da média em áreas específicas, de forma isolada. "Um aluno é excelente em matemática, mas regular nas demais matérias", diz. "Alguns têm um perfil multitalentoso, mas é um mito acreditar que aquela criança vai se destacar em tudo."


"No geral, os superdotados são curiosos, principalmente nos assuntos em que têm interesse, aprendem muito rápido, são mais sensíveis e intensos", explica Denise. "Quando a escola não observa essas características, as crianças tendem a ficar entediadas e desatentas, por isso é importante que seja elaborado um PEI, com atividades que possam aprofundar as habilidades que possuem e desenvolver aquelas em que as crianças têm dificuldade."

Para Denise, quando uma criança apresenta um comportamento inadequado ou irritabilidade, isso, na verdade, é um pedido de socorro. "Muitas escolas não validam as características daquele estudante. Costumo ouvir muito: 'Mas justo você, que é superdotado, tira essa nota?!' ou 'Não vejo superdotação neste aluno'. Se há um problema de comportamento, a escola precisa observar o que se passa, pois crianças que não são vistas e respeitadas tendem a desenvolver questões emocionais como ansiedade e depressão."


A família de G.M.F. ofereceu ajuda e apoio psicológico, mas, segundo V.M., a escola não aceitou. "Ele sempre foi sociável e carinhoso; hoje meu filho se vê como um menino problema e irritado, sintoma que a falta de atendimento educacional adequado gerou." O garoto deve começar o segundo semestre em outra escola. 

A Rede de Educação Adventista informa que "o processo todo corre em segredo de Justiça, mas trabalha com a educação inclusiva, leva a sério e prioriza esse direito. Durante o período de um ano, tempo em estudou em uma de nossas escolas, o aluno foi acompanhado de perto, diariamente, pelos professores e outros profissionais".

Ainda segundo a nota, "mesmo com adaptações no procedimento educativo/práticas pedagógicas, feitas para atender crianças com o perfil de superdotação, a avaliação do rendimento do discente em sala de aula foi normal, dentro da média da classe. Mediante a afirmação e exigências da mãe, sem apresentar um laudo oficial que comprove plenamente essa condição, a escola requereu uma perícia técnica para atestar essa condição".

Por fim, "ressaltamos também que a Rede de Educação Adventista prioriza e se compromete com o desenvolvimento integral e bem-estar do aluno, bem como trabalha fortemente com a formação de cidadãos responsáveis pela construção de uma sociedade melhor".

Davi: déficit de aprendizado
Davi: déficit de aprendizado

Ivanilda Rodrigues Dantas é mãe de Davi Diniz Martins, um menino com síndrome de Down. "Pela lei, meu filho tem direito ao acompanhamento de uma psicopedagoga na escola, e fiz essa solicitação", diz. "Em um primeiro momento, a direção da escola até demonstrou interesse, mas após uma reunião alegou que há uma profissional capacitada para acompanhar o Davi."

"O Davi usa sonda. Preciso ir à escola com frequência, e eu o vejo isolado, não existe inclusão de fato", afirma. "Sei do potencial do meu filho, e ele tem o direito de aprender como os outros, mas não é o que está acontecendo na prática."

A família entrou com uma ação contra a decisão da direção da Emef Gilmar Taccola, na zona leste de São Paulo. "O Ministério Público aceitou o nosso pedido, mas o juiz negou. Entramos com recurso, mas sem sucesso, o Judiciário desconsiderou todos os relatórios que comprovam o déficit educacional do Davi", observa o advogado Juliano Gagliardi. "Uma psicopedagoga não vai quebrar a hierarquia da escola ou causar algum dano. Ao contrário, pode contribuir para o desenvolvimento da criança."

Em nota, a SME (Secretaria Municipal de Educação) informa que a escola "reúne todas as condições de atendimento ao estudante". 

Veja a nota na íntegra:

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que a EMEF Prof. Gilmar Taccola reúne todas as condições para atendimento do estudante citado. A unidade escolar dispõe de Auxiliar de Vida Escolar (AVE) e estagiária do Programa “Aprender sem Limites” para os casos que necessitam de Educação Especial.

No dia 20 de junho foi realizada uma nova reunião entre a equipe gestora da unidade, em conjunto com a coordenação do CEFAI (Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão) e o responsável pelo aluno para que ele se sinta mais seguro ao deixá-lo na escola, o que o auxilia a adquirir autonomia, sob o olhar de toda a equipe e acompanhamento pela AVE nas Atividades da Vida Diária (AVDs).

A Educação Inclusiva tem o objetivo de assegurar o acesso, permanência, participação plena e a aprendizagem de bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiência, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades ou superdotação nas unidades educacionais e espaços educativos da Secretaria Municipal de Educação. O Currículo da Cidade e a Política Paulistana de Educação Especial não são compatíveis com um atendimento individual por considerarem o ambiente escolar como um espaço de interação social e aprendizagem.

Hoje, o público-alvo da Educação Especial da rede municipal é de 18 mil alunos, composta por bebês, crianças, jovens e adultos. A rede municipal possui mais de 4 mil profissionais atuando em Educação Especial, em diversas áreas, entre Professor de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (PAAI), Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE), Auxiliar de Vida Escolar (AVE) e estagiários do programa Aprender sem Limites. Ainda existem equipes multidisciplinares compostas por assistentes sociais, fonoaudiólogos e psicólogos em cada uma das Diretorias Regionais de Educação e os 13 Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão – CEFAI.

Aos estudantes também é oferecido um conjunto de atividades e recursos pedagógicos e de acessibilidade, prestado em caráter complementar ou suplementar às atividades escolares, destinado ao público-alvo da Educação Especial que dele necessite, como, por exemplo, as Salas de Recurso Multifuncionais.

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