Enem: Alunos reclamam de questões longas e do tema da redação
Estudantes enfrentaram provas de linguagens e de ciências humanas
Educação|Dinalva Fernandes, do R7, com Agência Brasil
Os estudantes que enfrentaram as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e deixaram os locais de exame, por volta das 16h deste domingo (5), reclamaram dos longos enunciados das questões e do tema inesperado da redação — Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil.
Na faculdade Uninove da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, os candidatos que conversaram com a reportagem disseram que esperavam, para a redação, algo ligado à violência, como ocorreu no ano passado, quando o tema proposto foi intolerância religiosa.
Uma aluna, que não quis se identificar, afirmou que os textos de apoio não ajudaram muito na redação. João Pedro Curi, de 17 anos, que pretende cursar administração disse ao R7: "Achei o tema polêmico, mas tem relevância. Confesso: fiquei surpreso".
Barbara Petrin, de 18 anos, presta o Enem pela segunda vez e pretende cursar gastonomia, considerou a prova fácil. "Achei a prova simples, a redação foi tranquila. Gostei do tema. Agora só quero ver na semana que vem: exatas. Vou chutar tudo!"
Quanto às questões, os estudantes disseram que os enunciados eram extensos antes das perguntas em si. Na prova de linguagens caiu bastante sociologia. Chico Buarque, Clarice Lispector, Racionais MC's e Paulo Leminsky também foram citados nas questões.
"As perguntas eram longas e isso complicou um pouco. Na prova de linguagem tivemos questões sobre preconceito e religião. As provas de História e Geografia foram mais fáceis", diz Mirela Gomes, de 18 anos, que pretende cursar enfermagem.
Apesar das dificuldades, estudantes disseram que, por conta do Enem ser aplicado em dois finais de semana, melhorou um pouco porque permite um certo descanso entre as provas.
O tecnólogo em administração Denis Jarbas, de 21 anos, quer fazer faculdade de administração. Com um sorriso nervoso, ele disse ao R7 que a prova estava não foi fácil. “Eu achei bem difícil, mas deu para fazer. Caíram muitas questões que eu não sabia, então, fui na dedução”, revela.
Campeonato Brasileiro
A partida entre Corinthians e Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro, foi motivo para a estudante Direito Gabriela Frutuoso, de 19 anos, deixar o local de prova mais cedo. Cursando o 3º ano da faculdade em uma universidade privada de São Paulo, ela quer tentar o Fies para se livrar da mensalidade.
Gabriela diz ter feito a redação em uma hora e correu para terminar a prova o quanto antes só para ver o jogo do Palmeiras. Ela até usava uma camiseta do time de coração, mas não quis ser fotografada.
Foco em interpretações de textos
As primeiras provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano foram bastante focadas na interpretação de textos, gráficos, mapas e imagens. Hoje (5), os alunos fizeram provas de redação, linguagens e ciências humanas.
Segundo o professor de geografia Cláudio Hansen, gerente pedagógico do curso online Descomplica, nas provas de hoje, a necessidade interpretativa ficou bastante evidente. “Foi uma prova que valorizou aquele aluno que fez muitos exercícios, que conhecia o Enem, que fez os exames anteriores, que se esforçou e tinha toda essa bagagem”, disse.
Um dos destaques da prova, segundo o professor, foi a cobrança sobre a estrutura política brasileira e os Três Poderes. “Mais do que nunca, foi cobrado sobre a noção de Executivo, Legislativo e Judiciário e principalmente como eles se relacionam na estrutura brasileira”, ressaltou. Uma das questões falava sobre as interferências do Poder Judiciário no Legislativo e outra, sobre o baixo número de mulheres em cargos públicos.
Alguns assuntos mais esperados para atualidade não foram cobrados, como a geopolítica atual envolvendo Síria, Venezuela, Coreia do Norte e refugiados. Mas o exame manteve a clássica cobrança sobre a geopolítica dos Estados Unidos, principalmente sua presença militar.
Também foi abordado o reconhecimento da Palestina como Estado observador da ONU (Organização das Nações Unidas). Na parte de sociologia, apareceram filósofos clássicos como Aristóteles e Kant, mas alguns como Platão e Marx não foram cobrados.
O professor ficou surpreso com a baixa cobrança de questões ambientais, que é uma marca do Enem, e o fortalecimento da cobrança sobre geografia física. “Foram questões que exigiram o conhecimento de geografia física. Isso vai dar um destaque muito grande para os alunos que estudaram”. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi abordada em uma questão interpretativa, na qual os alunos tinham que ler um gráfico e responder sobre a geração de energia e os impactos no meio ambiente.
Em história, foram abordados assuntos clássicos como escravidão, nazismo e campos de concentração, assim como a Inconfidência Mineira. “Ao meu ver, exigindo não só conhecimento, mas um grau de interpretação. As questões de história ganharam uma complexidade não necessariamente no tema, mas no formato da questão”, disse Hansen.
A prova de linguagens valorizou questões literárias. “Cobrou coisas muito clássicas e esperadas como gênero textual, funções da linguagem e questões muito interpretativas, como é esperado da prova de linguagem, como questões de propagandas e interpretação de textos clássicos”, acrescentou o professor.