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Educação

'Escola não precisa buscar solução na Finlândia', diz educador

José Pacheco, criador da escola da Ponte em Portugal, fala sobre os desafios da Educação pós-pandemia no Brasil

Educação|Karla Dunder, do R7

Estudantes conversam com José Pacheco, criador da Escola da Ponte em Portugal
Estudantes conversam com José Pacheco, criador da Escola da Ponte em Portugal

O professor José Pacheco, criador da escola da Ponte em Portugal — uma das instituições que revolucionou o ensino público ao propor uma escola sem paredes e voltada à pesquisa e aprendizagem em conjunto — esteve no Brasil para uma série de palestras na Camino School, em São Paulo, e conversou com o R7.

Para ele, as escolas brasileiras não precisam ir até a Finlândia para buscar um modelo que funcione e destaca que a pandemia impactou emocionalmente os estudantes:

Qual o balanço o senhor faz da educação na pandemia? Quais as lições podemos tirar dessa experiência?

A escola é feita de vínculos entre as pessoas e o distanciamento impactou emocionalmente os estudantes e também gerou um aumento do número de jovens que deixaram de estudar.


Como recuperar essas relações que se perderam?

Recuperar é um mito. O que temos é herdado da 1ª Revolução Industrial. O que quero dizer com isso? A escola brasileira tem de entender que não precisa ir à Finlândia buscar soluções, tampouco pensar em formatos híbridos, invertidos ou de blended learning, que são, sim, modelos fantásticos. Mas no âmbito da escola instrucionista, essas ferramentas não passam de paliativos do velho modelo e impedem que se mude. Notei na pandemia que, mesmo com aulas pela internet, o abandono intelectual continua. É uma crítica fraterna.


Com as vacinas e a retomada das atividades presenciais, qual a escola teremos e qual a escola devemos buscar?

Muita gente põe a pergunta de outra maneira. Enquanto alguns perguntam se pode ser recuperado o que foi perdido, outros questionam como será a escola no pós-pandemia. Em Portugal, está em curso um projeto de recuperação das aprendizagens não realizadas. Por ser próximo do Ministério da Educação, eu lhes disse pessoalmente que não é possível esse resgate. Essa ideia de um estudante que, ao não acompanhar, começa a fazer atividades de reforço é uma miragem. Tem-se que recuperar não um ano ou dois. Tem-se que recuperar um século ou dois. Não falo especificamente de escolas brasileiras ou portuguesas. Há algumas que praticam um novo tipo de educação. No cômputo geral, essas instituições ainda funcionam como no século 19. É terrível, pouco se aprende.


Qual sua opinião sobre a educação no Brasil? E qual o conselho daria aos professores brasileiros?

No Brasil, está a gênese de uma nova construção social e de aprendizagem, que substitua aquelas dos séculos 18 e 19. É preciso equilibrar as educações familiar, escolar e social. É esse conjunto. Quando me encontrei com Eurípedes Barsanulfo, Agostinho da Silva, Milton Santos, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, entre muitos outros, achei-me um ignorante. Acabei despindo-me do meu cabralismo para decolonizar através da educação. É isso que proponho.

E o professor José Pacheco também respondeu a uma pergunta de uma estudante do colégio: "de onde veio a inspiração para o projeto Escola da Ponte? 

Por volta de 1968, percebi que havia muitos jovens para os quais as escolas não davam respostas. Eles evadiam ou reprovavam. Eu me perguntava por que essas instituições não davam oportunidades de aprender e se realizar como pessoa. Comecei a me indagar por que aprendemos. Um episódio específico me levou a esses questionamentos: uma criança de 7 anos me chamou para uma conversa e me disse que, ao estudar com seus livros, deparou-se com um ensinamento, segundo o qual os seres vivos nasciam, cresciam, reproduziam e morriam. Fiquei encantado, pois eu não lhe ensinei e ela aprendeu. Um jovem que não havia assistido à aula e já sabia.

Foi quando eu lhe respondi: mas qual seria o problema? Ela me disse: professor, pense bem, não sou um ser vivo, pois ainda não reproduzi e não morri. Fiquei sem saber o que dizer. Mas em seguida fizemos um projeto de pesquisa. Com esse jovem, eu me vi a aprender.

Costumo responder perguntas com perguntas. E a primeira delas é: por que aprendemos? Essa dúvida nos leva a outra indagação: onde aprendemos? Dentro de uma escola? Onde houver um espaço de aprendizagem. E a próxima é: quando? É a partir dos 6 anos quando entramos na escola? Começamos dentro do ventre materno. Em seguida, o que devemos aprender, com quem e como? Essas dúvidas fizeram com que eu deixasse de ser solitário em sala de aula para ser solidário com uma equipe. E finalmente, como sabemos que aprendemos?

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