Greve na USP: universidade perdeu 818 professores desde 2014, em queda que afeta todas as áreas
A diminuição, em média, de 15% do número de docentes é consequência da crise financeira que se arrasta há anos
Educação|Do R7
O corpo docente da Universidade de São Paulo (USP) vem encolhendo ao longo dos últimos anos. A instituição perdeu 818 professores entre 2014 e 2023, o que representa uma queda de 15%, num cenário em que o número de alunos continuou igual.
Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia (FMZV), por exemplo, o quadro docente encolheu 22,1% entre setembro de 2014 e agosto de 2023 (de 104 para 81 professores); na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o número caiu 21,37% (de 117 para 92); e, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICM), a queda foi de 13% (de 142 para 112).
Os números foram divulgados pela Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo), com base nas folhas de pagamento disponíveis no portal de transparência da universidade.
A defasagem é resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, que impediram novas contratações. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), responsável pelo início da greve, é uma das mais prejudicadas.
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A greve também foi impulsionada pelo pedido dos alunos por melhorias na política de permanência estudantil. Na votação pela paralisação, os docentes engrossaram o apoio à pauta.
"A administração da universidade tem condições de ampliar as políticas de permanência estudantil", disse Michele Schultz, presidente da Adusp. "A universidade passou a receber mais estudantes em situação de maior vulnerabilidade social com a política de cotas. É necessário que haja efetiva inclusão destes estudantes."
Procurada, a reitoria da USP não deu retorno até a publicação desta reportagem.
Greve ganha adesão
Os professores da USP decidiram, na noite desta terça-feira (26), paralisar as atividades docentes até a próxima segunda (2). O gesto, aprovado em uma assembleia-geral, é uma demonstração de apoio à greve dos estudantes deflagrada na semana passada.
De acordo com a Associação de Docentes da USP (Adusp), os professores vão se reunir na segunda-feira que vem, em uma nova assembleia, para decidir o indicativo de greve.
A greve estudantil foi aprovada no dia 20 de setembro, sob o argumento de que a USP apresenta defasagem no quadro de professores. A falta de contratação tem posto em risco a continuidade de algumas disciplinas, como japonês e coreano, que são ministradas no curso de letras da FFLCH.
Foi justamente a FFLCH a primeira a aprovar a greve, que ganhou a adesão de outras faculdades, como a de direito, nos últimos dias. Nesta terça-feira, os universitários fizeram uma manifestação pelas ruas da capital até o largo da Batata, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
As assembleias setoriais que trouxeram deliberação de paralisação vieram da Faculdade de Educação, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), do Instituto de Matemática e Estatística (IME) e do Instituto de Psicologia (IP).
Embora não estivessem presentes todas as faculdades e institutos da USP, a decisão vale para todos os representantes da categoria da universidade, de acordo com Michele Schultz.
"A deliberação de uma assembleia-geral vale para toda a categoria docente, de todas unidades. Agora, as assembleias setoriais debaterão o indicativo de greve para levar seus posicionamentos para a geral no dia 2 de outubro", disse Michele.
Assim como os estudantes, os docentes também reivindicam mais contratações de professores. "O número adequado de servidoras e servidores docentes e técnico-administrativos é a garantia de melhores condições de trabalho e estudo. É inadmissível que estudantes sejam prejudicadas e prejudicados por falta de docentes", completa a presidente da Adusp.
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