Meninas conquistam ouro inédito em Olimpíada de Matemática
Delegação também trouxe duas medalhas de bronze. Competição mostra o potencial das garotas e incentiva participação feminina na área de exatas
Educação|Karla Dunder, do R7
O Brasil conquistou uma medalha de ouro inédita na Olímpiada Européia Feminina de Matemática (EGMO, sigla em inglês) realizada em Kiev, na Ucrânia, no início deste mês de abril.
As jovens Ana Beatriz Studart, 17 anos, do Ceará; Bruna Nakamura, 16 anos, de São Paulo; Maria Clara Werneck, 17 anos, do Rio de Janeiro e Mariana Groff, 17 anos, do Rio Grande do Sul sob a liderança de Deborah Alves e Luize Vianna conquistaram um feito: Mariana trouxe uma medalha de ouro e ficou na 14ª posição de 196 competidoras e Maria Clara e Ana Beatriz trouxeram duas medalhas de bronze.
Leia mais: Lugar de menina é nas ciências exatas e na tecnologia
No ranking geral, o Brasil ficou em 20º entre 49 países. A classificação é muito boa principalmente quando se toma como referência os números do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) – 7 em cada 10 alunos brasileiros têm nível insuficiente em matemática, de acordo com o MEC (Ministério da Educação).
Mas tem um impacto ainda maior quando o assunto é o número de meninas nas ciências exatas. “A baixa presença feminina das exatas está associada a uma questão cultural, como se matemática não fosse para as mulheres”, explica Marcelo Viana, do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). “Vivemos um ciclo vicioso que desencoraja e não incentiva as meninas nas exatas, mas quando uma garota conquista uma medalha, ela passa a ser uma referência, uma fonte de inspiração para as demais”. Daí a importância das medalhas conquistadas.
Deborah Alves, uma das líderes da delegação feminina, é um exemplo para as novas gerações. Veterana nas olimpíadas de matemática de 2009 e 2010, concluiu o curso de Ciências da Computação em Harvard, uma das principais universidades dos Estados Unidos. “Legal ver uma competição que incentiva as meninas a gostarem de matemática, essa é a nossa terceira participação e trazer uma medalha de ouro é muito gratificante, no entanto, o mais importante é que incentiva as meninas a confiarem mais nelas mesmas”, diz.
“Quando participei, não tinha uma competição focada só em meninas, eu era a única do time e muitas vezes duvidei muito de mim enquanto os meninos eram mais confiantes, mas percebi o meu potencial”. O Brasil participa da EGMO desde 2017, por iniciativa do Impa e da Sociedade Brasileira de Matemática e até o momento, foram conquistadas 9 medalhas e uma menção honrosa.
Para Deborah, competições como a EGMO servem como um incentivo às meninas. “Ajuda a perceber o potencial, por exemplo, a Mariana, que conquistou o ouro, entendeu que tem total competência para participar das Olímpiadas internacionais que são abertas para todos”.
“Nossa intenção não é separar as meninas, ao contrário, é uma oportunidade de quebrar esse ciclo vicioso e incentivar a participação das garotas em matemática”, avalia Viana. “As competições mudam a realidade não só daqueles que participam como de toda a escola, o sucesso incentiva todos os alunos, quando um colega traz uma medalha, todos entendem que podem participar”.