Alunos e professores de escolas públicas enfrentam dificuldades com aulas online
Divulgação/MCTICAs aulas online foram a saída encontrada pelas instituições de ensino para dar continuidade ao ano letivo em meio à quarentena para frear o avanço do novo coronavírus.
Entretanto, para a maioria dos estudantes de escolas públicas, a possibilidade de aprender a distância, por meio da internet, ainda não se concretizou e os professores não foram preparados para essa nova realidade.
A professora Beatriz*, que trabalha na EMEF José Lins do Rego, em São Paulo, e leciona para crianças do ensino fundamental I, diz que a maioria dos alunos não acessa as aulas online porque não tem celulares ou computadores em casa.
"O que aparenta é que é mais uma demanda burocrática, para não dizer que o aluno não está fazendo nada. Mas não está funcionando. De 20 alunos, 13 não acessam [a aula], porque não têm os aparelhos necessários nem o acompanhamento dos pais."
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Outra barreira enfrentada é a falta de treinamento para manusear a ferramenta utilizada para as aulas online, que começaram no dia 16 de abril.
"Foram três dias de reunião para que a gente pudesse se apropriar da ferramenta, a partir de então tínhamos que começar a preparar as atividades", lembra a professora. "A gente foi aprendendo na raça, nos dias que se seguiram", acrescenta.
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Beatriz não enfrenta dificuldades para realizar seu trabalho por meio da nova tecnologia, mas a situação é diferente para outros colegas de profissão.
"Para mim é tranquilo, mas vejo em vários grupos de WhatsApp que professores mais antigos têm muita dificuldade", compara. "A gente tem que fazer vídeos, colocar links, a ferramenta tem muita coisa legal, mas temos que ser autodidatas para mexer", pondera.
Além disso, ainda em abril, poucos alunos tinham recebido o livro complementar desenvolvido durante o recesso especialmente para as aulas via internet. O atraso aconteceu porque muitas crianças mudaram de endereço e não tinham suas informações atualizadas no colégio.
"Tem família que a gente só consegue contactar por meio do telefone do vizinho. Você liga e a pessoa fala 'esse telefone é de recado'", conta.
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O livro foi planejado especialmente para o período de isolamento social. Segundo Beatriz, trata-se de um material de revisão e está atrasado em relação ao conteúdo correspondente a cada ano letivo. "Nós temos um livro padrão da secretaria municipal. Esses outros têm recortes de atividades. As do sétimo ano seriam do sexto", afirma.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo informou que 1,1 milhão de materiais impressos foram enviados aos alunos via correio. A pasta nega que o conteúdo seja atrasado ou de revisão.
Já o conteúdo das aulas online é definido pelo órgão como "uma forma de complementar os estudos". Segundo a pasta, houve uma parceria com a empresa responsável pela ferramenta e 50 mil docentes receberam orientações no dia 14 de março, mas esse é um recurso adicional e os professores não têm prazo para utilizá-lo.
"Também estamos realizando bate-papos virtuais para ouvir como está o período de pandemia para os alunos e docentes. A ideia é agregar informações e melhorar esse tempo de estudo em casa", finaliza.
*Nome alterado a pedido da entrevistada, que prefere não se identificar