Professores apresentam estratégias para melhorar o ensino no Brasil
Seminário de práticas pedagógicas percorre o Brasil em busca de soluções para a educação. Próximos encontros acontecem até o final de novembro
Educação|Cleide Oliveira, do R7
Reconhecer, valorizar e promover momentos de troca entre educadores. Com esse objetivo a série de seminários Conectando Boas Práticas percorreu vários estados do Brasil entre outubro e novembro.
O evento passou por 60 cidades incentivando a troca e o enriquecimento da educação em sala de aula entre professores das redes de ensino pública e privada do País. O projeto, lançado via edital, é organizado pela Fundação Lemann por meio da rede Conectando Saberes e recebeu quase sete mil práticas pedagógicas.
Para inscrever as iniciativas, um dos critérios para os educadores era estar alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na próxima edição, esse será um item obrigatório, além dos demais qualificadores: engajar os alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio e ser um modelo replicável.
De acordo com o Professor Amaral Barbosa, coordenador de núcleo de Quixeramobim (CE), “foi um acontecimento grandioso no nosso município”. Ele foi responsável por selecionar dez dos melhores projetos inscritos na cidade. “Levamos em conta qual o impacto para a sociedade e o contexto trabalhado entre os 25 trabalhos cadastrados na plataforma”.
Inovação e engajamento
Destacar as ações educacionais mais interessantes é tão desafiador quanto injusto, tamanha a dedicação que todos os professores investiram ao longo do período. “Mas vale fazer algumas menções honrosas, como a segunda edição do Livro em Redes, do Professor João Paulo, que uniu o gosto das crianças pela internet às habilidades de leitura e troca dessas experiências por meio das redes sociais”, conta Amaral.
A ideia desse projeto era que o aluno postasse uma foto em sua rede social com o livro que estivesse lendo, complementando com uma frase retirada desse livro. Os demais alunos deveriam visitar os perfis de colegas, comentar e também compartilhar suas atividades de leitura.
Mas como garantir que esses jovens não trapaceassem ou lessem somente parte das obras? “O professor organizou rodas de discussão em sala de aula”, explica o coordenador. Mas nem seria necessário, pois o engajamento de todos foi natural e fluido.
Gestão democrática da escola, inclusão digital para professores, sustentabilidade, intolerância religiosa e valorização da cultura indígena, entre outros temas, foram destaques nos seminários interativos e engajadores.
O interesse dos educadores por promover um impacto na comunidade é outro ponto que chamou a atenção. No projeto Quixeramobim: um Olhar Digital pelo Coração do Ceará, o benefício foi também para o turismo da região.
"Foi emocionante ver o orgulho e a satisfação dos professores ao socializar suas ações"
Na iniciativa, que tinha por objetivo promover o letramento digital dos alunos, foram criados conteúdos informativos a respeito de obras de arte regionais e colocados em placas de diversos pontos e atrações turísticas. Para ter acesso a esse conteúdo, bastava aproximar o celular com o leitor de códigos QR code.
“Houve muita sinergia entre os professores de Língua Portuguesa, disciplina principal dessa iniciativa, e História, que ajudou a contextualizar períodos e fazer curadoria da informação. Foi emocionante ver o orgulho e a satisfação dos professores ao socializar suas ações”, comenta Amaral.
Durante os seminários, os docentes levaram ao palco demonstrativos de resultados e experiências de seus alunos. “Foi tão impressionante que o Secretário de Educação de Quixeramobim, Fernando Ronny, fez questão de estar presente em todas as apresentações”.
Como afirma o próprio secretário Fernando, “interessante prestigiar a ideia que cada professor tem para superar as dificuldades do dia a dia. Foi maravilhoso ver que eles levaram aos seminários de apresentação suas famílias, mostrando com orgulho seu trabalho”, conta.
“Enquanto responsável pela Secretaria Municipal de Quixeramobim, me comprometo a seguir endossando essas práticas, possibilitando que talentos se revelem da escola para a comunidade.”
O secretário acredita que é uma maneira de interromper o ciclo de questionamentos sobre questões políticas dentro das instituições de ensino, como a escola sem partido. “É hora de prestar mais atenção no que está sendo feito de bom. Somos um município de referência na Educação, estamos entre as 100 melhores redes, temos uma das cinco melhores escolas do Brasil e já batemos recordes em olimpíadas educacionais”, orgulha-se Fernando.
“Tudo isso é fruto desse trabalho, da criatividade dos professores. Fala-se muito de protagonismo juvenil, de sua importância, mas acredito que é hora também de falar sobre o protagonismo do docente em sala de aula e na sociedade”, conclui.
Para o coordenador de núcleo de Recife, Itambé e Petrolina (PE), Josinaldo Bernardo, “a rede leva o trabalho dos educadores cada vez mais longe, incentiva a troca de boas práticas e valoriza o compromisso com a aprendizagem universal”. No total, foram 114 trabalhos inscritos, de escolas municipais da capital pernambucana e da região metropolitana.
Com temáticas como tecnologia na Educação, meio ambiente, linguagens e artes, o polo recifense apresentou trabalhos conceituais. Um deles foi o Estuário de Barra de Jangada: a Lama não é o Caos, que apresentou às crianças do terceiro ano do fundamental uma experiência no mangue embasada na música de Chico Science.
Educação inserida na atualidade
“Interessante pontuar que a ação realizada dialoga com os problemas da mancha de óleo que atinge o Nordeste, além de apresentar o ecossistema do mangue às crianças. Durante o seminário de apresentação, a professora Vívian Martins de Souza levou ao palco duas alunas que derramaram sobre uma escultura uma tinta preta simbolizando o derramamento de óleo no meio ambiente”, conta Josinaldo. Finalizando a apresentação, as alunas leram ainda uma “carta para o futuro”, com questionamentos e preocupações com a vida e o meio ambiente.
Ainda na linha de tecnologia, a professora Audaci Maria de Lima Silva desenvolveu o projeto Meu Primeiro Drone. “O projeto de iniciação científica resultou na construção de um protótipo, partindo da indagação ‘como um drone tem força para voar?’ e foi complementada com o lançamento de um aplicativo desenvolvido em plataforma gratuita”, orgulha-se o coordenador do Recife e região.
Os seminários continuam Brasil afora para levar descobertas e sobretudo incentivo a práticas educacionais de valor. Como afirma Amaral Barbosa, “tudo isso com um sonho e propósito maior: tornar realidade uma educação pública transformadora, de excelência, para todos e para todas, diariamente”.
Com participação especial de professores reconhecidos por suas iniciativas e boas práticas em prêmios nacionais e internacionais, os seminários continuam. Acompanhe as datas de novembro:
- Dia 8 em Guarulhos, SP; Vitória (ES); e Tucuruí (PA);
- Dia 9 em Porto Alegre (RS) e Pio XII (MA).
A programação completa dos eventos, que são gratuitos, está no site Conectando Saberes