Saiba quais são os erros mais comuns de interpretação na prova do Enem
Estudante deve controlar a ansiedade e ler com atenção os textos de apoio e enunciado para não cair em pegadinha
Educação|Alex Gonçalves, do R7*
A prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tem como característica apresentar questões longas, que exigem concentração e compreensão de texto. Saiba quais são os erros mais comuns de interpretação dos enunciados do exame.
Para Reginaldo Leite, professor de gramática e literatura do curso pré-vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, "os erros mais comuns são o resultado de falhas na leitura".
Mateus Lopes, coordenador do ensino médio da Escola Vereda, de Santo André, reforça que é fundamental ler os enunciados e as questões com atenção. “O estudante, na pressa, acaba lendo a pergunta, mas o Enem é uma prova de contextualização, e muitas vezes a resposta está na tese do texto", explica. "A dica é treinar a leitura para retirar a tese do enunciado. Vale grifar os pontos importantes, e o próprio texto vai nortear o estudante para resolver a questão."
Ler atentamente o que se pede elimina o erro com a a clássica pegadinha: assinale a alternativa incorreta.
"O estudante também não deve confundir sua opinião com a tese do texto. Muitos assinalam uma alternativa incorreta por não estarem atentos ao que o autor quis transmitir, põem aquilo que pensam sobre o assunto. Isso ocorre com mais frequência nas questões de humanas", observa Lopes.
Atenção ao vocabulário. Como explica o coordenador do ensino médio, o Enem usa textos acadêmicos, alguns com palavras mais rebuscadas. "Ao deparar com uma palavra que não conhece, vale tentar encaixá-la no contexto do texto e não simplesmente pular. Geralmente, o contexto acaba nos ajudando a identificar o significado."
As questões do Enem costumam trazer informações que vão além dos textos de apoio, como imagens, mapas, gráficos, fotos e quadrinhos. O participante deve saber fazer a leitura desse conteúdo e estar atento aos detalhes. Reginaldo Leite dá um exemplo, com base em uma questão de 2019:
Quadrinista surda faz sucesso na CCXP com narrativas silenciosas
A área de artistas independentes da Comic Com Experience (CCXP) deste ano é a maior da história do evento geek: são mais de 450 quadrinistas e ilustradores no Artistsꞌ Alley. E a diversidade vai além do estilo das HQ. Em uma das mesas na fila F, senta a quadrinista com deficiência auditiva Ju Loyola, com suas histórias, que classifica como “narrativas silenciosas”. São histórias que podem ser compreendidas por crianças e adultos, e pessoas de qualquer nacionalidade, pelo simples motivo de não terem uma única palavra. A artista não escreve roteiros convencionais para suas obras. Sua experiência de ter que entender a comunicação pelo que vê faz com que ela se identifique muito mais com o que observa do que com o que as pessoas dizem. E basta folhear suas obras para que fique claro que elas não são histórias em quadrinhos que perderam as palavras, mas sim que ganharam uma nova perspectiva.
O Texto I exemplifica a obra de uma artista surda que promove uma experiência de leitura inovadora, divulgada no Texto II. Independentemente de seus objetivos, ambos os textos:
A. incentivam a produção de roteiros compostos de imagens.
B. colaboram para a valorização de enredos românticos.
C. revelam o sucesso de um evento de cartunistas.
D. contribuem com o processo de acessibilidade.
E. questionam o padrão tradicional das HQ.
Como destaca o professor, a questão relaciona dois textos: o texto I, um texto narrativo imagético, uma manifestação artística, de autoria de Ju Loyola, uma artista surda, e o texto II, um texto em que se noticia uma exposição de HQ, da qual participa a referida artista, cuja obra chama atenção porque rompe com os paradigmas de uma HQ convencional, uma vez que a narrativa não depende das palavras para ser compreendida.
"Quando lemos o enunciado da questão, devemos atentar para o comando: 'Independentemente de seus objetivos, ambos os textos... O enunciado nos convida a buscar elementos comuns entre ambos os textos", observa. "Aqui, vale reler a questão para concluir que, de modo diferente, ambos contribuem com o processo de acessibilidade, no que diz respeito à leitura de HQ."
O primeiro texto dá um exemplo de que é possível produzir uma história sem palavras e plenamente acessível. Já o segundo noticia o fato e enfatiza a nova perspectiva de produção artística que torna a HQ acessível, porque sua compreensão não depende da linguagem verbal. Isso nos leva ao que se declara na letra D.
Nas demais alternativas, a interpretação que se faz não é pertinente a ambos os textos. Por exemplo, em A, se fala em incentivo da produção de roteiros compostos por imagens. Ora, ao primeiro texto não cabe essa avaliação. Em B, a valorização de enredos românticos passa longe do texto II. Em C, tendo como referência somente o texto I, não é possível reconhecer o sucesso da exposição, e, em E, nenhum dos textos em análise questiona o padrão tradicional. Portanto, a resposta está na letra D, que afirma que ambos contribuem com o processo de acessibilidade.