Partido com mais investigados na Lava Jato tem alta no número de prefeitos
"Perdoado" pelos eleitores, PP conquistou 494 municípios no pleito do último domingo
Eleições 2016|Diego Junqueira, do R7
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Com 33 políticos investigados no âmbito da Operação Lava Jato, o PP conseguiu se esquivar da “punição das urnas” nas Eleições 2016. O Partido Progressista conquistou 494 prefeituras e se tornou a quarta força política do País em número de administrações — atrás somente de PMDB, PSDB e PSD.
O resultado de 2016 é, inclusive, superior ao da eleição anterior — antes do início das investigações de corrupção na Petrobras —, quando o PP saiu do pleito com 474 prefeituras. O partido ainda vai disputar o segundo turno em Florianópolis (SC) e Maringá (PR).
Juntamente com PT e PMDB, o PP faz parte do principal núcleo político investigado na Lava Jato, considerando os pedidos de abertura de inquérito apresentados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) ao STF (Supremo Tribunal Federal).
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Membros dos três partidos foram listados no maior inquérito da Lava Jato até agora, o 3989, instaurado em março de 2015 no STF e que ficou conhecido à época como “lista do Janot”, em referência ao procurador-geral Rodrigo Janot (veja ao final a lista com todos os políticos de alto escalão com pedidos de abertura de inquérito na Lava Jato).
Na semana passada, o PGR pediu o desmembramento dessa investigação em quatro inquéritos distintos: um para investigar os membros do PP, e os demais para apurar fatos relacionados a membros do PT, do PMDB no Senado Federal e do PMDB na Câmara dos Deputados.
Dos 33 políticos citados, a PGR apresentou denúncia contra sete deles em 30 de março passado: os deputados Arthur Lira (AL), Mário Negromonte Jr. (BA), Luiz Fernando Faria (MG), José Otávio Germano (RS), Roberto Britto (BA) e os ex-deputados Mário Negromonte (BA) e João Alberto Pizzolatti (SC). Benedito Lira (AL) também foi denunciado, assim como Eduardo da Fonte (CE). Nelson Meurer (PR) teve denúncia aceita e se tornou réu.
Segundo lugar no ranking de citações da PGR (são dez nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), o PT teve um caminho distinto nas urnas e perdeu mais da metade das prefeituras que administrava: passou de 630, há quatro anos, para 254. Em 2012, o Partido dos Trabalhadores estava na terceira colocação em número de prefeituras, atrás apenas de PMDB e PSDB. Neste ano, caiu para o décimo lugar. Dos citados, já se tornaram réus no STF a senadora Gleisi Hoffmann e o ex-ministro Paulo Bernardo— Lula é réu em duas ações, mas não no STF: uma na Justiça Federal do Distrito Federal e outra na 13ª Vara Federal de Curitiba.
O PMDB, com oito políticos citados (como o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o atual presidente do Senado Renan Calheiros), também conseguiu alcançar um número maior de prefeituras em 2016. São 1.027 administrações, contra 1.015 em 2012. O resultado foi comemorado pela legeda, mas analistas apontam derrota para o maior partido brasileiro, já que perdeu o controle do município do Rio após oito anos.
Dos oito políticos peeemdebistas, o senador Valdir Raupp foi denunciado em setembro pela PGR. O ex-deputado Eduardo Cunha, que era réu em duas ações distintas no STF, teve as denúncias enviadas para primeira e segunda instância após ter o mandato cassado. A PGR também apresentou denúncia contra Aníbal Gomes (PMDB-CE).
Com dois políticos citados pela PGR ao STF (os senadores mineiros Aécio Neves e Antonio Anastasia), o PSDB foi o grande vencedor do domingo (2), com 790 prefeituras conquistadas, entre elas a de São Paulo, contra 695 em 2012. Os inquéritos contra os tucanos foram abertos pelo MPF (Ministério Público Federal) e, posteriormente, arquivados sem que os políticos fossem denunciados.
O PSB, que foi a estrela das eleições 2012 ao conquistar 440 prefeituras (130 a mais do que 2008), agora recuou para 412. O partido tem o senador Fernando Bezerra Coelho (PE) já denunciado no âmbito da Lava Jato.
Já o PTC, do senador Fernando Collor de Mello (AL), investigado na Lava Jato em seis inquéritos diferentes, também registrou queda no número de prefeituras, de 19 para 15.
Explicações
As denúncias de corrupção e a vontade por renovação política são algumas razões apontadas por especialistas para explicar a queda vertiginosa do PT. Mas como explicar a alta do PP?
“O processo de apuração da corrupção foi muito partidarizado”, avalia a cientista política Maria do Socorro Braga, professora da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos).
— Nas semanas anteriores à eleição só foram presos membros do PT. A base do antigo governo praticamente não foi atingida, com exceção do PT. Em parte, não houve essa punição [nas urnas a partir] da Lava Jato.
Braga aponta ainda “seletividade” por parte do Judiciário nas investigações de corrupção, com foco nas lideranças do Partido dos Trabalhadores.
— A PF e o Ministério Público, quando avaliam as denúncias que surgem com as delações premiadas, recortam só os envolvidos com o PT. O PP, que é um dos partidos com mais envolvidos, ficou de fora até agora [das punições]. No PMDB ninguém foi punido, alguns saíram do governo, mas não todos. Então, há algum tempo, está havendo uma seleção para punir mais um único partido. Isso acabou reforçando nas urnas o antipetismo. Parte disso premiou o PSDB, tanto que foi o partido que mais ganhou.
Para o sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), “quando as luzes estão todas focadas no PT, os outros partidos acabam ficando na penumbra”.
— Os outros partidos, envolvidos em casos de corrupção tanto quanto o PT, acabam numa certa penumbra. Pelo fato de que os eleitores votam em pessoas, e não em partidos, eles não atentam para isso.
Braga e Silvino responsabilizam ainda a cobertura da imprensa das investigações da Lava Jato, que teriam acompanhado o judiciário e focalizado o Partido dos Trabalhadores.
“É muito curioso que o PMDB continue sendo eleito e o PT, não”, diz Silvino.
— Alguma outra coisa está pesando, e não é somente a corrupção. Há outros elementos, não é só o fato de que a [gestão econômica da ex-presidente] Dilma Rousseff foi mal, ou do envolvimento em casos de corrupção. Há a construção de uma linha de frente contra qualquer governo ou medida petista. (...) As pessoas acabam identificando nomes como o do Lula e o do próprio Fernando Haddad, e ligando o PT a esse cenário político [de denúncias de corrupção]. Essa associação direta, superficial e equivocada faz com que os outros partidos não estejam sob o foco das atenções, apesar de o PP ser um dos partidos mais envolvidos na Lava Jato.
Políticos com pedidos de abertura de inquérito solicitados pela PGR ao STF:
PP (33)
- Senador Ciro Nogueira (PI)
- Senador Benedito de Lira (AL)
- Senador Gladson Cameli (AC)
- Deputado Aguinaldo Ribeiro (PB)
- Deputado Simão Sessim (RJ)
- Deputado Nelson Meurer (PR)
- Deputado Eduardo da Fonte (PE)
- Deputado Luiz Fernando Faria (MG)
- Deputado Arthur Lira (AL)
- Deputado Dilceu Sperafico (PR)
- Deputado Jeronimo Goergen (RS)
- Deputado Sandes Júnior (GO)
- Deputado Afonso Hamm (RS)
- Deputado Missionário José Olímpio (SP)
- Deputado Lázaro Botelho (TO)
- Deputado Luis Carlos Heinze (RS)
- Deputado Renato Molling (RS)
- Deputado Renato Balestra (GO)
- Deputado Roberto Britto (BA)
- Deputado Waldir Maranhão (MA)
- Deputado José Otávio Germano (RS)
- Deputado Mario Negromonte Jr. (BA)
- Ex-deputado e ex-ministro Mario Negromonte (BA)
- Ex-deputado João Pizzolatti (SC)
- Ex-deputado Pedro Corrêa (PE)
- Ex-deputado Roberto Teixeira (PE)
- Ex-deputada Aline Corrêa (SP)
- Ex-deputado Carlos Magno (RO)
- Ex-deputado e ex-vice governador João Leão (BA)
- Ex-deputado Luiz Argôlo (BA) (filiado ao Solidariedade desde 2013)
- Ex-deputado José Linhares (CE)
- Ex-deputado Pedro Henry (MT)
- Ex-deputado Vilson Covatti (RS)
PT (10)
- Senadora Gleisi Hoffmann (PR)
- Senador Humberto Costa (PE)
- Senador Lindbergh Farias (RJ)
- Deputado José Mentor (SP)
- Deputado Vander Loubet (MS)
- Ex-deputado Cândido Vaccarezza (SP)
- Ex-ministro Antônio Palocci (SP) (caso enviado para 1ª instância)
- Ex-ministro Paulo Bernardo
- Governador Tião Vianna (AC)
- Luiz Inácio Lula da Silva (caso enviado para 1ª instância)
PMDB (8)
- Senador Renan Calheiros (AL), presidente do Senado
- Senador Romero Jucá (RR)
- Senador Edison Lobão (MA)
- Senador Valdir Raupp (RO)
- Deputado Eduardo Cunha (RJ), ex-presidente da Câmara
- Deputado Aníbal Gomes (CE)
- Ex-governadora Roseana Sarney (MA)
- Governador afastado Luiz Fernando Pezão (RJ)
PSDB (1)
- Senador Aécio Neves (MG)
PTC (1)
- Senador Fernando Collor (AL)
PSB (1)
- Senador Fernando Bezerra Coelho
Sem partido
- Delcídio do Amaral
- André Vargas