A história dos mais de 40 anos dos Paralamas do Sucesso virou espetáculo. VITAL, o Musical dos Paralamas faz uma homenagem à trajetória de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. O musical — que teve uma temporada de sucesso e reestreia no próximo dia 6 no Rio de Janeiro —, exalta a amizade entre os músicos, além de retratar as primeiras apresentações, e o auge do grupo até se tornar uma das maiores bandas brasileiras.O ator, cantor e compositor Rodrigo Salva é quem interpreta o vocalista dos Paralamas, e conversou com o R7 sobre a preparação para este trabalho. “Tive pouco tempo para ficha cair. Quando percebi, já estávamos imersos no universo de mais de 40 anos de carreira de uma das maiores bandas desse país. Muita dedicação e muito treinamento na guitarra, estudando a voz do Herbert, o jeito dele, a história dele.”Durante o processo, Rodrigo não teve a chance de encontrar Herbert pessoalmente e acabou buscando referências de outras formas, além de contar com a ajuda de José Fortes, empresário da banda, que esteve presente nos ensaios, e é tido quase como um quarto integrante.“Foi determinante [a presença do Zé] para termos a noção da grandeza e da beleza do que de fato estávamos fazendo. É um pouco delicado tratarmos da história dessa banda, por conta de eles estarem vivos e atuantes no mercado, mas também por toda história que envolveu a banda, a tragédia com o Herbert”, comentou o ator.Ao longo do espetáculo, o trágico acidente de ultraleve em 2001, envolvendo Herbert Vianna, também é relembrado. Na ocasião, o cantor perdeu a mulher, Lucy Vianna, e ficou paraplégico.“O acidente do Herbert foi uma dor que o Brasil inteiro sentiu. Todos nós estávamos torcendo para que ele pudesse dar a volta por cima e voltar aos palcos. E isso aconteceu. Mas como todo evento traumático, deixou sequelas. Nele e na gente [...] Eu tive que me colocar no lugar dele. Foi muito difícil e imagino (só imagino mesmo) o quão doloroso foi pra ele”, afirmou Rodrigo.R7 - Quando e como foi que você começou no universo dos musicais? Qual foi seu primeiro espetáculo?Rodrigo Salva - Comecei de uma forma um tanto quanto inusitada. Pra começar, eu nunca pensei que trabalharia com musicais. Era uma realidade um pouco distante de mim. Sempre cantei e toquei, mas sempre como músico, apesar de ter me formado em teatro pela Martins Penna.Até que um dia eu esbarro (literalmente) com um amigo que estava fazendo assistência de direção num musical chamado Merlin e Arthur com músicas do Raul Seixas. Ele me perguntou se eu não topava fazer um teste. Meio hesitante, disse que sim. E acabei passando. Vivi meu primeiro musical ao lado de Paulinho Moska e Vera Holtz vivendo Rei Arthur. E essa experiência marcou a minha vida.R7 - E a audição para o musical dos Paralamas? Como foi esse processo?Rodrigo - Foi intenso! Foi uma semana de audição, sem saber o que de fato me reservava. Eu fui na cara e na coragem, vindo de São Paulo para o Rio de Janeiro por causa de um outro espetáculo que fazia lá, estudando as músicas no ônibus, com muitas incertezas, mas também com muita vontade de estar nesse espetáculo, que comunica muito com a minha veia de músico. Comecei na arte como guitarrista, e se tratava de Paralamas do Sucesso. Tudo a ver. Depois de uma semana, recebo a ligação do Gustavo Nunes dizendo que tinha passado para viver Herbert Vianna.R7 - Quanto tempo você teve desde que soube que interpretaria o Herbert Vianna até a estreia do musical?Rodrigo - Eu tive pouco tempo para ficha cair. Quando percebi, já estávamos imersos no universo de mais de 40 anos de carreira de uma das maiores bandas desse país. Tudo foi muito rápido, intenso e lindo.R7 - E como foi essa preparação para interpretar o músico?Rodrigo - Muita pesquisa, muito estudo, muita dedicação e muito treinamento na guitarra, estudando a voz do Herbert, o jeito dele, a história dele…R7 - Você chegou a conversar com Herbert durante este período para aperfeiçoar a interpretação?Rodrigo - Não tive essa chance antes do espetáculo começar, então eu tive que usar o meu imaginário do que seria esse Herbert. Esse compositor e artista sensível, com opiniões muito fortes e um eterno apaixonado pela vida, pela música e pelo amor.R7 - Sem esse contato, de onde buscou inspirações para viver o vocalista?Rodrigo - Eu busquei as próprias inspirações deles. The Police, The Clash, a cena reggae inglesa e jamaicana, Gilberto Gil e Lulu Santos também, toda a trajetória do rock de Brasília, o circo voador com o Perfeito Fortuna e todo esse universo dos anos 80 e 90. Foi uma viagem no tempo.R7 - E de onde tira inspirações para seus personagens no geral?Rodrigo - Do cotidiano, das conversas entre as pessoas, do imaginário de uma época e seus costumes e principalmente da história que a personagem vive dentro do texto, da peça. Mas gosto muito de observar as pessoas, a forma como gesticulam, como falam. Cada detalhe tem uma história por trás.R7 - Soube que o José Fortes, empresário da banda, esteve presente nos ensaios. Qual foi a importância e o impacto de ter ele com vocês?Rodrigo - Foi determinante para termos a noção da grandeza e da beleza do que de fato estávamos fazendo. É um pouco delicado tratarmos da história dessa banda, por conta de eles estarem vivos e atuantes no mercado, mas também por toda história que envolveu a banda, a tragédia com o Herbert. Poder ter o Zé lá, emocionado e nos agradecendo por estarmos contando a história dele e desses três ícones da música não tem preço.R7 - Você falou da tragédia com o Herbert, e foi um acidente que causou comoção entre os fãs da banda e no país na época. O que você lembra deste dia?Rodrigo - O acidente do Herbert foi uma dor que o Brasil inteiro sentiu. Todos nós estávamos torcendo para que ele pudesse dar a volta por cima e voltar aos palcos. E isso aconteceu. Mas como todo evento traumático, deixou sequelas. Nele e na gente. Quando pude receber o texto e ensaiar a cena onde ele se despede da Lucy cantando Aonde Quer Que Eu Vá, eu simplesmente desabei. Eu tive que me colocar no lugar dele. Perdendo o amor da vida dele, perdendo a memória dos momentos felizes e importantes da vida, sem reconhecer o rosto dos amigos queridos. Foi muito difícil e imagino (só imagino mesmo) o quão doloroso foi pra ele. Mas, ao mesmo tempo, vi toda a história de raça, amor, resiliência e superação dele e de toda a família, dos integrantes da banda (que também são família) e pude me inspirar muito na força desse ser humano maravilhoso que é Herbert Vianna.R7 - E, para você, qual foi o maior desafio deste trabalho?Rodrigo - Acho que o desafio de estar representando uma história muito importante para cultura brasileira, recheada de felicidade e dor. É uma responsabilidade muito grande, principalmente pelo fato deles estarem vivos e ali, assistindo a tudo.R7 - Vi que no início deste ano, você e todo elenco encontraram o Herbert pessoalmente depois de um show do Paralamas. Como foi esse encontro?Rodrigo - Foi muito emocionante. Saímos do show em êxtase com aquele repertório que vivemos tão intensamente. Depois fomos no camarim falar com eles e pude, pela primeira vez, estar frente a frente com um ídolo e uma inspiração. Pude olhar nos olhos dele e dizer o quão importante a existência dele e toda a obra dele é pra mim. Nunca vou me esquecer disso.R7 - O musical reestreia depois de uma temporada de sucesso. Como recebe essa repercussão?Rodrigo - Com muita felicidade. É muito bom saber que as pessoas saem muito emocionadas e felizes celebrando a história desses caras, mal posso esperar por mais essa temporada no Rio de Janeiro, que é a minha casa e por onde os Paralamas tiveram sua trajetória de sucesso.