Quem é o melhor estrategista, Luxemburgo daquele Palmeiras de 1996 ou Abel Ferreira no time atual?
Vanderlei Luxemburgo e Abel Ferreira se encontram pela segunda vez, a primeira em um dérbi, neste domingo, em Itaquera. Foi depois...
Estadão Conteúdo|Do R7
Vanderlei Luxemburgo e Abel Ferreira se encontram pela segunda vez, a primeira em um dérbi, neste domingo, em Itaquera. Foi depois da demissão do veterano treinador que o português recebeu o convite para treinar o Palmeiras e, em pouco tempo, se colocar entre os maiores da história do clube. Os dois foram rivais pela primeira vez em um Palmeiras 1 x 1 Vasco, em 26 janeiro de 2021, quatro dias antes de o time alviverde ganhar o bicampeonato da Libertadores e dar a Abel o primeiro de seus oito troféus desde que cruzou o Atlântico para substituir Luxemburgo no comando palmeirense. “Quero dizer também que essa caminhada começou com o mister Vanderlei Luxemburgo e ele também tem um trabalho feito nessa competição. Quando eu comecei, o Palmeiras estava em todas as competições. Há um trabalho feito por ele, não é só meu”, reconheceu o português no dia em que ganhou a primeira das duas taças da Libertadores que ostenta no Palmeiras. Campeão da Libertadores com apenas 26 jogos à frente do Palmeiras, Abel só não conquistou um título mais precocemente neste século do que Luxemburgo, que faturou o Campeonato Paulista de 2020, já em sua quinta passagem pelo clube, com 20 partidas de trabalho. Quase três anos depois do primeiro encontro entre eles, Abel empilha títulos, vitórias e recordes no Palmeiras, enquanto que Luxemburgo está concentrado em sua missão de reviver a época em que ele era chamado de ‘estrategista’, os tempos em que todos reverenciavam os times comandados pelo fluminense de Nova Iguaçu, incluindo o Palmeiras campeão paulista de 1996, marcado pelo irrefreável ataque dos 100 gols. Foi para regatar seu estilo, entre outras tarefas, que o septuagenário treinador aceitou o convite para dirigir o Corinthians há quatro meses. No entanto, o técnico mais visionário e moderno do País na década de 1990 acumula trabalhos ruins e seu Corinthians não tem sido mais do que pragmático, embora ele tenha dito que seu plano era “resgatar a essência do futebol brasileiro”. Para muitos, Luxa perdeu a mão. Ele garante que é o mesmo de sempre, moderno e inventivo. Em seu livro, Abel faz breves reverências a Luxemburgo, a quem considerada um treinador vitorioso e “bastante experiente” no futebol brasileiro e mundial. Os dois têm o mesmo número de troféus conquistados com o Palmeiras: oito. Ambos dividem a vice-liderança da lista de treinadores com mais títulos na história palmeirense, atrás apenas de Oswaldo Brandão, com dez taças. Veja os campeonatos vencidos por cada um: Existem algumas semelhanças entre os dois, sobretudo considerando o Luxemburgo de décadas atrás, aquele chamado de “estrategista”. Ambos gostam de trabalhar com jogadores jovens, formados na base, e são capazes de fazer seus times jogarem de maneiras diferentes, com repertório variado de jogadas. São também capazes de extrair o máximo de cada atleta e são enérgicos à beira do gramado. Os dois acreditam que os jogadores são muito mais protagonistas do que os técnicos, embora muitas vezes atraiam para si o holofote. “Percebi que o jogo ainda pertence aos jogadores. Temos de lhes dar coordenadas e organização, mas não podemos castrá-los. No Brasil, dou mais liberdade e oportunizo a criatividade”, avaliou o português, em entrevista recente. “Para mim, um bom treinador é aquele que consegue influenciar e inspirar os seus jogadores e consegue tirar de modo consistente o máximo e a melhor versão de cada um. O futebol ensinou-me que há mil e uma formas de ganhar. Temos de escolher aquela em que acreditamos”. Disposto a revitalizar, aos 71 anos, a sua carreira e recuperar seu prestígio no futebol, Luxemburgo, quando assumiu o Corinthians depois de um ano e meio desempregado, garantiu que dominava todos os conceitos do futebol atual e disse não ser contra a transformação pela qual passou a modalidade. “Gosto da modernidade, mas aquela que não prostitue o atleta brasileiro. Não brigo contra a modernidade. Eu trago a modernidade para o futebol”. Nessa claudicante passagem pelo Corinthians, porém, ele tem valorizado mais o resultado do que o desempenho, o que ficou claro após a classificação à semifinal da Sul-Americana. Sua equipe perdeu por 1 a 0 do Estudiantes e conseguiu avançar nos pênaltis graça a Cássio e à trave. Foram 30 finalizações dos argentinos, que dominaram o Corinthians, mas pararam quatro vezes na trave e outras no goleiro corintiano no tempo normal. “Deu certo, nós classificamos. Errado é quando a gente não consegue o resultado”, afirmou o experiente treinador, em clara demonstração de que sua versão atual dá valor aos resultados, fundamentais para que seja mantido no cargo. Foi a segunda vez em um período curto de tempo em que o Corinthians foi amplamente inferior a um rival. O mesmo ocorreu duas semanas atrás no Morumbi, onde o São Paulo jogou o time de Luxemburgo nas cordas, dominando a partida do início ao fim, e conseguiu a vaga à final da Copa do Brasil. Abel Ferreira é multicampeão, mas não imune às críticas. O português também é cobrado e viveu mais de uma fase turbulenta no Palmeiras, antes e depois de conquistar a sua idolatria. A mais recente delas ocorreu há menos de dois meses. A eliminação para o São Paulo na Copa do Brasil suscitou duvidas e desconfianças no trabalho do técnico de 44 anos. Havia a impressão de que ele não conseguiria tirar mais do elenco do que já havia feito. No entanto, os atletas se recuperaram do desgaste físico, retomaram o foco perdido com as propostas (com “muitos zeros”, segundo o técnico) oferecidas a alguns jogadores e conduziram o time de volta à rota das vitórias até as semifinais da Libertadores. “Eu costumo dizer que quando o simples é bem feito, quando o básico é bem feito, é perfeito”, explicou o comandante palmeirense ao comemorar o que chamou de “volta às bases”. Abel ganhou seis dos clássicos com o Corinthians. Perdeu apenas um jogo e empatou outros três. Nos quase três anos em que comanda o Palmeiras, ele já enfrentou cinco treinadores corintianos: Vagner Mancini (três vezes), Sylvinho (duas vezes), Vítor Pereira (três vezes), Fernando Lázaro (uma vez) e Danilo (uma vez). Neste domingo em Itaquera, Luxemburgo e Abel vão poder provar quem é quem. O técnico corintiano busca reviver o ano de 1996, quando montou um Palmeiras campeão e temido. Os jogadores eram bons e ele também não se contentava com menos. Agora, comandando um elenco mais modesto e sem muitas exigências, prefere passar a mão na cabeça dos atletas e dar a eles mais confiança. Essa é a base do seu trabalho à frente do Corinthians. Para alguns, ele tem conseguido seu objetivo, afinal, o time está na semifinal da Sul-Americana. Abel monta seu Palmeiras de acordo com o adversário. Passa horas e dias estudando para as partidas, mexe na formação e no esquema de jogo de acordo com o que enxerga nos rivais. Surpreende quase sempre, mesmo na simplicidade com uma bola lançada pelo goleiro Weverton para Rony. Ou nas mudanças mais rebuscadas, como escalar dois laterais do mesmo lado, como Marcos Rocha e Mayke.Vanderlei Luxemburgo
Abel Ferreira
‘Resultadista’ no Corinthians
Crise estancada com ‘volta às bases’