As negociações para formar uma coalizão de governo em Israel e substituir o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu entram nesta terça-feira (1º) na reta final, marcada pela distribuição de ministérios e por várias tentativas de impedir esta incipiente união política. A maratona de negociações prosseguiu durante a noite entre as equipes dos principais dirigentes de esquerda, centro e de parte da direita, incluindo o Yamina, partido do líder da extrema direita Naftali Bennett, que pode assumir o posto de primeiro-ministro em um sistema de rodízio no poder. Nesta terça-feira à tarde está programada uma reunião dos principais nomes da provável coalizão no gabinete do líder da oposição Yair Lapid, "em um esforço para alcançar um acordo", informou o partido Yamina em um comunicado. Após as eleições legislativas de março e o fracasso de Netanyahu para formar uma coalizão, o presidente Reuven Rivlin designou a tarefa ao centrista Lapid. O ex-astro de televisão tem até quarta-feira (2) às 23h59 (17h59 de Brasília) para apresentar seu projeto de "governo de união nacional", que permitiria retirar o país de dois anos de crise política. Até o fim do prazo, os partidos precisam deixar de lado as divisões e superar as pretensões ministeriais de todas as bancadas, especialmente as pastas da Defesa e Justiça. "Até a formação do governo ainda restam muitos obstáculos", declarou Lapid, com prudente otimismo. "É nosso primeiro teste para ver se conseguimos encontrar compromissos inteligentes e alcançar nosso objetivo mais importante", afirmou na segunda-feira. "Em uma semana, Israel pode entrar em uma nova era", completou. Quase tudo, da situação dos palestinos à recuperação econômica, passando pelo espaço da religião, divide esta aliança peculiar, exceto a vontade de afastar Netanyahu, o primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no cargo na história de Israel. Lapid tem o apoio de 57 deputados, de esquerda, centro e de dois partidos de direita, além do Yamina. Para os quatro que faltam, ele busca um acordo com os partidos árabes israelenses, que deveriam dar seu respaldo sem buscar postos ministeriais. A criação desta coalizão representaria o fim da era Netanyahu, que está no poder desde 2009 e que também foi primeiro-ministro de 1996 a 1999. Julgado por "corrupção" em três casos, ele é o primeiro chefe de Governo israelense que enfrenta processos penais durante seu mandato. E as ações podem afetá-lo se perder a imunidade atribuída por lei, na condição de primeiro-ministro. Caso Lapid apresente seu acordo na quarta-feira à noite, ele terá sete dias para dividir os ministérios e conquistar o voto de confiança no Parlamento. Mas tudo é possível. Netanyahu, seu partido Likud e seus advogados tentam dividir o bloco de oposição e provocar o fracasso da tentativa de coalizão. De acordo com a imprensa israelense, o presidente do Parlamento, Yariv Levin (do Likud), poderia prolongar o prazo do voto de confiança legislativo, com a ideia de obter abandonos do campo anti-Netanyahu. Em outra iniciativa para obstruir as negociações, advogados do Likud recorreram à presidência de Israel para questionar a constitucionalidade do projeto de rodízio em postos cruciais do governo esboçado por Lapid. Em um texto ao qual a AFP teve acesso, a presidência resolveu a questão legal em menos de uma hora, ao recordar que Bennett poderia ser o primeiro a iniciar o sistema de alternância à frente do governo. Nestas circunstâncias que precedem a assinatura de um acordo denunciado como uma "traição" pelos simpatizantes de Netanyahu, as medidas de segurança ao redor de Bennett e Lapid foram reforçadas, confirmaram seus partidos à AFP. As manifestações de oposição aumentaram e Netanyahu chamou o lado adversário de "perigo para a segurança de Israel". Em clima tenso, analistas temem um cenário parecido ao de 1995, quando um extremista judeu assassinou o primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Se o campo anti-Netanyahu não conseguir formar um governo, os deputados podem pedir ao presidente que designe um novo parlamentar para a tarefa. Se esta opção também fracassar, os israelenses terão que voltar às urnas pela quinta vez em dois anos.