A Alemanha reconheceu pela primeira vez que cometeu um "genocídio" contra as populações das etnias hereros e namas da Namíbia no início do século XX, durante o período colonial, uma decisão recebida como um "passo na direção correta" por parte das autoridades do país africano. "Do ponto de vista atual, hoje qualificaremos estes acontecimentos como o que são: um genocídio", declarou o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, em um comunicado. A Alemanha também anunciou que vai pagar ao país 1,1 bilhão de euros (cerca de R$ 7 bilhões) para ajudar no desenvolvimento e na reconstrução do país. A quantia será paga ao longo de um período de 30 anos e deve beneficiar de maneira prioritária os descendentes das duas etnias. Do ponto de vista jurídico, não se trata de uma compensação, e este reconhecimento não abre caminho para uma "demanda legal de indenização". "A aceitação por parte da Alemanha de que um genocídio foi cometido é um primeiro passo na direção correta", declarou à AFP Alfredo Hengari, porta-voz do presidente namibiano, Hage Geingob. "É a base da segunda etapa, que consiste em pedir desculpas e prever uma reparação", disse. Nas próximas semanas, o presidente da Namíbia organizará encontros com autoridades das comunidades de hereros e namas, sobre as "modalidades de aplicação do que foi estabelecido com a Alemanha", disse Hengari. O anúncio é resultado de cinco anos de árduas negociações entre os dois países. A Namíbia foi colonizada pela Alemanha entre 1884 e 1915. Os colonos alemães mataram dezenas de milhares de hereros e namas durante os massacres executados entre 1904 e 1908. Por vários historiadores, tratou-se do primeiro genocídio do século XX. "À luz da responsabilidade histórica e moral da Alemanha, vamos pedir perdão à Namíbia e aos descendentes das vítimas pelas atrocidades cometidas", afirmou o ministro alemão. "Não se pode apagar o passado. O reconhecimento da falha e o pedido de perdão são, no entanto, um passo importante para superar o passado e construirmos juntos o futuro", completou o chefe da diplomacia alemã. Em uma tentativa de reconciliação, a Alemanha entregou à Namíbia, em 2019, os ossos de membros das tribos herero e nama exterminados. A secretária de Estado para Assuntos Exteriores, Michelle Müntefering, pediu "perdão do fundo do coração". Um gesto considerado insuficiente pelos descendentes e pelas autoridades da Namíbia, que exigiam um pedido oficial de desculpas e uma compensação. A Alemanha expressou oposição em diferentes ocasiões, alegando que milhões de dólares foram repassados à Namíbia desde sua independência em 1990 para contribuir com seu desenvolvimento. Embora o trabalho de memória histórica na Alemanha sobre o período nazista seja, em geral, considerado exemplar, o de seu período colonial na África, da segunda metade do século XIX ao início do século XX, foi deixado de lado por muito tempo. As tribos herero representam atualmente quase 7% da população do país, contra 40% no início do século XX. Privados de suas terras e de seu gado, os hereros se revoltaram em 1904 contra os colonos alemães e mataram mais de 100 entre estes últimos. Enviado para reprimir a rebelião, o general alemão Lothar von Trotha ordenou seu extermínio. Os namas se revoltaram um ano mais tarde e sofreram o mesmo destino. Ao menos 60 mil hereros e quase 10 mil namas foram assassinados entre 1904 e 1908. As forças coloniais alemãs usaram técnicas genocidas: massacres em larga escala, exílio no deserto, onde milhares de pessoas morreram de sede, e campos de concentração como o tristemente célebre de Shark Island. Restos de ossos, em particular os crânios das vítimas, foram enviados à Alemanha para experimentos científicos de caráter racial. O médico Eugen Fischer, que trabalhou em Shark Island e cujos escritos influenciaram Adolf Hitler, pretendia demonstrar a "superioridade da raça branca".