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Armistício das Coreias completa 70 anos sem acordo de paz em vista

Em 27 de julho de 1953, Norte e Sul assinaram um documento que suspendeu temporariamente as hostilidades entre os países

Internacional|Sofia Pilagallo, do R7

Um homem assiste a um noticiário com imagens de arquivo de um teste de míssil norte-coreano, em uma estação ferroviária em Seul, capital da Coreia do Sul
Um homem assiste a um noticiário com imagens de arquivo de um teste de míssil norte-coreano, em uma estação ferroviária em Seul, capital da Coreia do Sul

O armistício entre as Coreias completa 70 anos nesta quinta-feira (27). Em 27 de julho de 1953, Norte e Sul assinaram um documento que suspendeu temporariamente as hostilidades entre os países. O acordo foi projetado para "assegurar uma cessação completa de todos os atos de força armada na Coreia até que uma solução pacífica final seja alcançada". Mas, até hoje, nenhum acordo de paz foi selado, e o prognóstico é que isso não aconteça tão cedo.

Desde o ano do armistício, a relação entre Pyongyang e Seul sempre foi oscilante, com tentativas eventuais de aproximação seguidas de afastamento entre as duas partes. Em 1972, os líderes Kim Il-sung (Norte) e Park Chung-hee (Sul) iniciaram os primeiros movimentos de reconciliação e estabeleceram os princípios de reunificação: unicidade étnica, renúncia à guerra e negociação sem atores externos.

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Naquele ano, as Coreias criaram o "telefone vermelho", que foi instalado em Panmunjon, vilarejo na Zona Desmilitarizada — faixa terrestre entre as Coreias —, onde foi assinado o armistício. Em 1976, porém, o Norte decidiu unilateralmente cortar a linha, após o chamado "Incidente do Machado". Na ocasião, soldados norte-coreanos mataram, a machadadas, dois oficiais americanos que acompanhavam trabalhadores encarregados de derrubar uma árvore em Panmunjon.

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O "telefone vermelho" foi posto novamente em serviço em 1980 após um esboço de acordo entre os dois governos e, desde então, foi cortado e reativado repetidas vezes. As idas e vindas da linha refletem as décadas de relações caóticas entre o Norte e o Sul, que ainda estão tecnicamente em guerra.


Mais recentemente, em 2018, o atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, surpreendeu ao pedir, nas declarações de Ano-Novo, um diálogo com Seul e afirmar que Pyongyang poderia participar das Olimpíadas de Inverno em PyeongChang. Após quase dois anos em silêncio, o telefone vermelho que conecta as Coreias foi reativado. Mas a reaproximação foi novamente atravancada, dessa vez por uma declaração do então vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.

Em conversa com o então primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, Pence prometeu sanções "duras" e "severas" que seriam aplicadas contra a Coreia do Norte pelos abusos contra os direitos humanos praticados pelo regime e pela resistência em frear o desenvolvimento de seu arsenal nuclear. Ele chegou a afirmar que repreenderia publicamente Kim Jong-un durante as Olimpíadas. Em resposta, o líder norte-coreano prometeu represálias se os Estados Unidos o fizessem.


O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, se cumprimentam na Zona Desmilitarizada
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, se cumprimentam na Zona Desmilitarizada

As negociações se estenderam até abril de 2018, entre acenos e recuos, sem sucesso. Em 2021, houve uma nova tentativa de reconciliação entre as Coreias, que mais uma vez não foi adiante. Em setembro, Kim Jong-un sugeriu que o Norte poderia estar aberta a negociações, mas somente se os Estados Unidos abandonassem o que ele chamou de "política hostil".

"O líder norte-coreano repudia a presença de tropas americanas na Coreia do Sul e os exercícios militares conjuntos realizados entre os Estados Unidos e o Sul, bem como as sanções impostas pelo país americano contra o Norte", explica ao R7 o professor de relações internacionais James Onnig, da Facamp (Faculdades de Campinas).

Por outro lado, o Sul e os Estados Unidos reivindicam que o Norte primeiro abandone suas armas nucleares antes que quaisquer sanções sejam suspensas, o que não deve acontecer.

"O Norte se sente ameaçado pelos Estados Unidos e seus aliados", afirma o professor Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (FGV-NPII).

"Então, qualquer iniciativa de desarmamento norte-coreano implicaria, para King Jong-un, a possibilidade de o grande inimigo do Norte invadir o país, derrubar o governo e tentar unificar o governo pelo Sul", acrescenta.

Até hoje, nenhum dos dois lados deu sinais de que deve ceder, enquanto as tensões vêm aumentando progressivamente nos últimos tempos. Na segunda-feira (24), às vésperas do aniversário do armistício, Kim Jong-un realizou mais um de seus testes balísticos, quando disparou dois mísseis, que voaram cerca de 400 quilômetros antes de cair no mar do Leste, também conhecido como mar do Japão.

Os testes balísticos recorrentes são interpretados como uma demonstração de força do governo totalitário perante os países ocidentais, em especial o Sul e os Estados Unidos. As duas nações aliadas ocasionalmente realizam exercícios militares conjuntos para fortalecer suas capacidades de defesa, o que incomoda Kim Jong-un.

"O que há hoje é uma tolerância entre as Coreias", diz Clayton Pegoraro, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em direito internacional. "Mas a ideia de acordo de paz, como interpretado pelo direito internacional clássico, não vejo como uma possibilidade. Pelo menos, não a curto e médio prazo."

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