O ex-presidente da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, fez nesta quarta-feira (8) sua primeira entrevista coletiva, em Beirute, após fugir do Japão para o Líbano, no fim do ano passado. Ele voltou a acusar a montadora de propagar mentiras sobre ele em uma suposta investigação interna.
De acordo com o executivo, ele não fugiu da Justiça japonesa, mas da perseguição da qual estaria sendo vítima. "É um sistema que condena quase 100% dos réus, principalmente os estrangeiros", alegou Ghosn, acusado pela Nissan de desviar valores de ativos da empresa em seu benefício.
"Eu sentia que eu era um refém de um país", comentou. "Mais de vinte livros de administração foram escritos sobre mim e de repente alguns procuradores me acusam de crimes e de ser uma pessoa fria."
Ghosn disse também que foi brutalmente separado de sua família e seus amigos por promotores japoneses desde sua prisão, em novembro de 2018.
Antes da abertura para perguntas dos jornalistas, contou também que sua prisão em 2018 foi teatral, e ocorreu no aeroporto de Tóquio, não dentro de um avião, como chegou a ser noticiado. "É uma vergonha o que foi feito pela Justiça do Japão", declarou.
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Ghosn disse que se sentiu maltratado durante o período em que esteve encarcerado, e não pôde sequer ficar a sós com sua esposa. "Tomei banho duas vezes por semana, os remédios prescritos eram todos negados e tentavam me obrigar a confessar algo, a qualquer custo." Ele ficou preso por 130 dias — após esse período, sua prisão se tornou domiciliar
Acusações
Segundo Ghosn, a investigação interna da montadora teve como principal objetivo impedi-lo de ampliar a integração entre a Renault e a Nissan, o que ameaçaria a independência da montadora japonesa.
Ele alega jamais ter visto os documentos que provariam as acusações da companhia e afirma que nunca foi consultado sobre qualquer irregularidade apurada.
As supostas provas que o levaram à cadeia não se sustentam, alegou o ex-presidente da Nissan. "Em nenhum país democrático uma pessoa é presa por acusações assim."
"Todas as provas que eu tinha para me defender foram levadas (pela polícia japonesa) – computador, documentos, tudo –, então, preciso reconstituir a história inteira para mostrar o que fizeram contra mim", justificou.