Confrontos entre Exército e grupos paramilitares no Sudão continuam, apesar de cessar-fogo
Tiroteios e explosões prosseguem na capital sudanesa, Cartum, no quarto dia de combates entre dois generais rivais
Internacional|Do R7
![Foto mostra prédio em chamas no aeroporto de Merowe, no Sudão, nesta terça-feira (18)](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/KS756US72FPITM7LN2H7K3VZWM.jpg?auth=dd9a6e0045a381de004376d683d1a1b83fa914b0b04f0853fcccecc8d25b5da8&width=1500&height=928)
Tiroteios e explosões continuaram na capital sudanesa, Cartum, nesta terça-feira (18), no quarto dia de combates entre dois generais rivais que deixaram quase 200 mortos, apesar dos apelos internacionais por um cessar-fogo.
O conflito opõe o chefe do Exército, o general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país, e seu ex-número 2, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti", chefe do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF).
O conflito entre os dois, que ferve por semanas, explodiu por causa de um desacordo sobre como integrar os paramilitares da RSF nas tropas regulares.
Sob pressão da comunidade internacional, o general Daglo anunciou nesta terça ter aprovado "um cessar-fogo de 24 horas", mas, na hora marcada, 16h (horário local), o barulho dos combates continuou em diversos bairros de Cartum, segundo várias fontes.
A RSF acusou o Exército regular de ter "violado a trégua", enquanto seus próprios homens prosseguiram com o disparo de armas pesadas nas ruas, disseram testemunhas.
Paramilitares da RSF empoleirados em caminhonetes puderam ser vistos ao disparar para o ar na entrada de vários prédios em Cartum nesta terça-feira.
Por seu lado, os aviões sob o comando do general Al Burhan — no comando do país desde o golpe de 2021, que tirou civis do poder — apontavam para o quartel-general da RSF.
Ataques aéreos já atingiram quatro hospitais em Cartum. Em todo o país, pelo menos 16 hospitais estão fora de serviço, disse um grupo de médicos.
O conflito continua apesar dos apelos do G7, da ONU e do ministro das Relações Exteriores dos Estados Unidos para "interromper imediatamente a violência".
Na capital, a maioria dos moradores está confinada em casa, sem eletricidade nem água encanada, e as poucas mercearias abertas avisam que não vão durar muito sem reabastecimento.
Também começaram a ser vistos grupos de mulheres e homens com sacolas enormes indo para o sul, onde não há combates.
"Faz quatro dias que não dormimos", disse à AFP Dallia Mohamed Abdelmoniem, de 37 anos, moradora de Cartum.
Segundo a ONU, as balas e os foguetes deixaram mais de 185 mortos desde sábado, além de cerca de 1.800 feridos.
Tanto as Nações Unidas como várias ONG decidiram suspender a ajuda no país, onde a fome atinge mais de um em cada três habitantes.
Três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PMA) foram mortos no sábado, e na segunda-feira um comboio diplomático dos EUA foi atacado. Da mesma forma, o embaixador da UE foi "roubado em sua residência" em Cartum, segundo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
A Cruz Vermelha e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediram a ambas as partes que lhes garantam o acesso às pessoas que precisam de ajuda.
O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, denunciou o "saque de alguns centros de saúde e o uso de outros para fins militares".
Hospitais em perigo
Na região de Darfur, a Médicos sem Fronteiras (MSF) anunciou que recebeu 183 feridos em seu último hospital em funcionamento em três dias. "A maioria são civis, muitos deles crianças", disse a ONG, que lembrou ainda que 25 pessoas morreram por falta de atendimento.
Darfur é o reduto do general Daglo e de milhares de seus homens, que cometeram inúmeras atrocidades durante a guerra iniciada em 2003 naquela região do país.
Neste momento, é impossível saber quem controla que instalações, e as duas partes em conflito reivindicam o controle do aeroporto, do palácio presidencial e do quartel-general do Estado-Maior.
"É a primeira vez na história do Sudão, desde a sua independência [em 1956], que existe tal nível de violência no centro, em Cartum", disse à AFP Kholood Khair, fundador do centro de pesquisa Confluence Advisory na capital sudanesa.