Resumindo a Notícia
- Forças Armadas da Ucrânia iniciaram há cerca de duas semanas uma grande contraofensiva
- Operação recuperou territórios conquistados pela Rússia, como Kherson e Donetsk
- Rússia, porém, anexou quatro grandes regiões da nação vizinha após referendos
- Tática de Putin não foi legitimada pelo Ocidente, que reconhece territórios como da Ucrânia
Ucrânia conseguiu recuperar territórios conquistados pela Rússia
Yasuyoshi Chiba/AFP - 6.10.2022As Forças Armadas da Ucrânia iniciaram há cerca de duas semanas uma grande contraofensiva que recuperou territórios conquistados pela Rússia em áreas sensíveis do país, como Kherson e Donetsk. As ações efetivas dos soldados de Volodmir Zelenski trouxeram esperança de uma virada na guerra.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o exército da Ucrânia retomou áreas pontuais do país, a Rússia anexou quatro grandes regiões da nação vizinha após referendos: Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporizhzhia. A tática de Vladimir Putin, todavia, não foi legitimada pelo Ocidente, que ainda reconhecem estes territórios como ucranianos.
Todos esses movimentos deste jogo de xadrez entre Kiev e Moscou, postos no holofote mundial pela mídia internacional, trazem perguntas como quem está vencendo a guerra ou se a resistência ucraniana é uma surpresa.
Para o professor de relações internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Luiz Felipe Osório é difícil adjetivar a guerra, uma vez que não há conhecimento prévio dos objetivos dos dois países no conflito. Ainda assim, o especialista destaca o apoio ocidental à Ucrânia.
“É crucial apontar que os ucranianos contam com o envio de armamentos e financiamentos externos, principalmente da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) via Estados Unidos, que impulsionam o poderio militar local e prolongam ainda mais o conflito, tornando-o mais desgastante possível”, conta Osório ao R7.
Na opinião do internacionalista, o suporte do Ocidente vai além do lado bélico e chega até as grandes mídias. Por esse motivo, russos podem acabar evitando grandes ofensivas ou retaliações mais enérgicas a Kiev.
“Tudo que lá acontece tem muita repercussão, repúdio e debate, ou seja, é muito amplificado. Por isso, também, percebe-se um cuidado extremo nas ofensivas pelo lado russo que se preocupa em não ficar isolado por completo da opinião pública mundial. Isso limita demais os avanços e o ritmo das operações.”
O cientista político e professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) Leandro Consentino acredita que Putin não esperava um apoio tão grande à Ucrânia, em especial pela falta de popularidade política do presidente do país, Volodmir Zelenski. Humorista de carreira, o líder ucraniano chegou ao cargo após interpretar justamente o presidente ucraniano em um programa de TV.
“O Ocidente leu que esse era um momento bastante complicado, que o Estado da Ucrânia era um Estado soberano, que estava ali como tampão entre a Rússia e o Ocidente e ele não poderia ficar à mercê de uma violação de soberania russa”, conta Consentino ao R7.
O professor do Insper acredita que a anexação russa seja uma forma de Putin consolidar vitórias, além de tornar aquela área um território do país e, portanto, tornar qualquer ofensiva ucraniana um ataque direto a Moscou.
“[Putin] diria que está defendendo o próprio território, não que ele está atacando o território de outro. Percebe que aí a coisa inverte. Quer dizer, muda a estratégia, muda fundamentalmente porque você faz disso uma estratégia de defesa da soberania e não de ataque dos outros.”
Presidente russo convocou 300 mil reservistas e mais 200 mil homens para lutar na Ucrânia
Alexey Malgavko/Reuters - 26.9.2022Putin anunciou no final de setembro a convocação de 300 mil reservistas e, posteriormente, chamou mais 200 mil homens para se juntar aos russos que lutam na Ucrânia. O presidente da Rússia não destacou ao certo quais serão as funções destes novos militares, mas a ação gerou revolta em parte da população local.
Além dos protestos pelas ruas das principais cidades do país, o mandatário russo viu milhares de homens deixarem a Rússia para fugir do serviço militar obrigatório.
Consentino entende que se o exército de Putin estivesse avançando com facilidade pela Ucrânia, como era de se esperar pela inteligência russa no início da guerra, certamente estes homens não estariam indo para o território ucraniano. O cientista político também ressalta os protestos da população pela mobilização de reservistas.
“Enquanto os russos estavam ali vibrando pelo seu exército é uma coisa, bem diferente de eles estarem agora se prontificando diretamente ao front ou mandando seus filhos”, explica o professor do Insper. “Putin deu um passo bastante complicado que pode custar um apoio interno muito importante”.
Osório, por sua vez, vê a mobilização de mais 500 mil homens como uma maneira que a Rússia encontrou para estabilizar as regiões anexadas, levando a estes locais, repletos de russofónos, uma garantia que ali é uma extensão do território de Putin, não de Zelenski.
“Pelo que entendi, a convocação dos reservistas não será para atuação na frente de batalha, mas, sim, eles atuarão no patrulhamento e policiamento dos territórios recém-incorporados, viabilizando sua proteção e reorganização. Em suma, parece ser um movimento de logística militar.”
O professor da UFRRJ ainda usa um baralho como analogia para concluir a entrevista. De acordo com o que internacionalista disse, neste momento da guerra as cartas estão sendo embaralhadas para um conflito que será reiniciado.
“Os trunfos da Rússia aumentaram, o que significa que ela pode parar de jogar, satisfeita com o que já conseguiu, ou dobrar a aposta, para alavancar ainda mais suas vantagens, e, quem sabe, ter cacife para sentar à mesa principal e desafiar os grandes jogadores (as grandes potências imperialistas). Tivesse você as cartas de Putin, o que você faria?”, conclui Osório.