Dinastia Romanov completa 400 anos em busca de novo papel na democracia russa
Internacional|Do R7
Ignacio Ortega. Moscou, 11 jun (EFE).- A dinastia Romanov, que governou a Rússia durante mais de três séculos, até a abolição da monarquia, em 1917, completa nesta terça-feira 400 anos desde a coroação de seu primeiro czar e segue em busca de um novo papel na democracia russa. "Acho que a monarquia legítima e hereditária é o único sistema de governo adotado por Deus e estou convencida de sua compatibilidade com qualquer época", disse a Grande Duquesa Maria Romanova, chefe da Casa Imperial Russa. Maria Romanova e seu filho George, guardiões da herança que começou com o czar Mikhail, em 1613, reconhecem que a restauração da monarquia a curto prazo na Rússia é "prematura" e negam essa possibilidade, se ela for "contra a vontade do povo". "Se nós ou nossos legítimos herdeiros formos chamados pelo povo, não renunciaríamos a nosso juramento nem abdicaríamos de nosso dever", declarou. A Grande Duquesa vive em Madri, onde nasceu em 1953, enquanto seu filho George, herdeiro do trono da Rússia, trabalha em Bruxelas como representante do consórcio minerador russo Nornikel, segundo a imprensa do país. Embora seja membro da família imperial russa e dotada de plenos direitos, Maria Romanova não é descendente direta do último czar, Nicolau II, já que seu avô Kirill I, que assumiu o trono no exílio em 1924, era primo do monarca e neto de Alexandre II. Isso dá argumentos a outro ramo da família para negar legitimidade às reivindicações do direito ao trono da Grande Duquesa, motivo pelo qual foi criada a Associação da Família Romanov. Por outro lado, a Casa Imperial insiste que Maria Romanova não é aspirante ao trono, mas legítima herdeira da chefia da dinastia, como foi reconhecida pelas principais monarquias europeias e pela Igreja Ortodoxa Russa. Segundo o site da Casa Imperial, Maria Romanova considera "profundamente injusto" que lhe sejam atribuídas "ambições de poder". O representante da Grande Duquesa em Moscou, Aleksandr Zakatov, afirmou que os dissidentes pertencem a famílias morganáticas - ou seja, frutos de casamentos com pessoas sem sangue real -, e por isso não podem fazer parte da Casa Imperial. Maria Romanova costuma visitar a Rússia com assiduidade a convite da Igreja e de governantes, e, embora já tenha se reunido com o presidente da Duma (Câmara dos Deputados), nunca foi recebida oficialmente pelo chefe de Estado, Vladimir Putin. Os Romanov buscam ter o papel de instituição histórica de consenso na nova sociedade russa, já que consideram impossível recuperar o trono e respeitam a Constituição e o sistema político adotados após a desintegração da União Soviética. George Romanov, também nascido na capital espanhola há 32 anos, estudou na Universidade de Oxford e trabalhou durante vários anos na Comissão Europeia, no campo da energia nuclear. Se George, também filho do príncipe da Prússia, decidir seguir o exemplo de outras monarquias, como a espanhola e a britânica, e se casar com uma plebeia, seus descendentes perderão o direito da dinastia, segundo uma lei de 1820. O primeiro Romanov, o Grão Duque Mikhail, chegou ao poder no final do chamado Período dos Tumultos (1598-1613), quando a Rússia sofreu levantes camponeses e de cossacos, conspirações palacianas e invasões por parte de poloneses, suecos e lituanos. Os Romanov - uma família de nobres moscovitas que recebeu um território fraco, atrasado, isolado do resto da Europa e em estado de anarquia - souberam transformar a Rússia em um grande império euroasiático. "Durante os 300 anos de reinado dos Romanov, aconteceram muitas conquistas e vitórias, assim como muitos erros e graves pecados. Por eles, pedimos perdão ao povo, em nosso nome e no nome de nossos antepassados", afirma Maria Romanova. Pedro I entrou para a história como o maior dos czares russos, já que, além de derrotar os invasores suecos e turcos e transformar o império russo em uma potência naval e militar, ele abriu o país à influência civilizadora do Ocidente. De fato, a partir desse momento, quase todas as esposas dos diferentes czares foram de origem alemã, influência que contribuiu para o desenvolvimento do país, mas também afastou irremediavelmente os Romanov de seu povo. A ausência de reformas alienou os intelectuais e os trabalhadores urbanos e, quando Alexandre II pôs fim à servidão de terras em 1861, já era tarde demais. Vinte anos depois, o próprio czar reformista morreu assassinado em um atentado terrorista a bomba. Após o fuzilamento do último czar, em Yekaterimburgo em 1918, e de outros 15 membros da família imperial, 43 Romanov conseguiram fugir dos bolcheviques, muitos deles de navio, a partir da península da Crimeia no Mar Negro. EFE io/aep/id (foto)