Cientistas da Universidade de Cambridge anunciaram nesta quarta-feira (16) que encontraram substâncias químicas, associadas à vida na Terra, em um planeta distante, chamado K2-18b, o que pode indicar a possibilidade de vida extraterrestre. Essas substâncias são o dimetilsulfeto (DMS) e o dimetildissulfeto (DMDS). Aqui na Terra, elas são produzidas exclusivamente por organismos vivos, como fitoplâncton marinho e bactérias. A presença delas na atmosfera de K2-18b, um planeta a 124 anos-luz da Terra, na constelação de Leão, levanta a possibilidade de que processos biológicos semelhantes aos terrestres possam estar ocorrendo lá.O dimetilsulfeto (DMS) é um composto químico orgânico à base de enxofre, liberado principalmente por fitoplâncton, micro-organismos que habitam os oceanos da Terra. Ele desempenha um papel importante no ciclo do enxofre e até influencia a formação de nuvens no nosso planeta. Já o dimetildissulfeto (DMDS) é um composto relacionado, também produzido por processos biológicos, como a atividade de bactérias marinhas.Na Terra, essas moléculas são consideradas bioassinaturas, ou seja, indicadores de atividade biológica, porque não são produzidas em quantidades significativas por processos geológicos ou químicos não-vivos. A surpresa, segundo o pesquisador Nikku Madhusudhan, líder do estudo publicado na revista Astrophysical Journal, foi a quantidade dessas substâncias detectada em K2-18b. “A quantidade estimada desses gases é milhares de vezes maior do que na Terra. Se a associação com a vida for confirmada, este planeta pode estar repleto de vida”, disse em entrevista à BBC.A detecção de DMS e DMDS em K2-18b, feita por meio do Telescópio Espacial James Webb (JWST), da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, é significativa porque essas moléculas são raras em contextos abióticos, ou seja, onde não há vida.O James Webb, com sua capacidade de analisar a luz que passa pela atmosfera do planeta distante, identificou assinaturas químicas que sugerem a presença desses compostos. No entanto, os cientistas enfatizam que a descoberta não é uma prova definitiva de vida.“Mesmo com dados perfeitos, não podemos afirmar com certeza que essas moléculas têm origem biológica em um mundo alienígena. Muitas coisas estranhas acontecem no universo”, disse Madhusudhan.Ele destaca que processos geológicos desconhecidos ou reações químicas específicas do ambiente de K2-18b podem, teoricamente, produzir DMS e DMDS sem a necessidade de vida.Para esclarecer essa questão, equipes de pesquisadores estão conduzindo experimentos em laboratório para verificar se essas moléculas podem ser formadas por meios abióticos em condições semelhantes às do exoplaneta. K2-18b, um exoplaneta 2,6 vezes maior que a Terra e 8,6 vezes mais massivo, orbita na chamada “zona habitável” de uma anã vermelha, uma estrela menor e menos luminosa que o Sol.Essa zona é a região onde a temperatura permite a existência de água líquida, um ingrediente essencial para a vida como a conhecemos.A ausência de amônia na atmosfera do planeta, detectada em observações anteriores do James Webb, levou os cientistas a hipotetizarem que K2-18b pode abrigar um vasto oceano líquido.A teoria é de que a amônia seria absorvida por essa massa de água, o que reforça a ideia de um “mundo hycean” – um planeta coberto por oceanos e com uma atmosfera rica em hidrogênio, potencialmente habitável por microrganismos.Apesar do entusiasmo, os pesquisadores pedem cautela. “Não estamos anunciando a descoberta de vida, mas sim de uma possível bioassinatura”, disse Madhusudhan. Ele estima que, com mais observações do James Webb, evidências decisivas sobre a presença de DMS e DMDS -- e sua possível origem biológica – podem ser obtidas em um ou dois anos.“Se confirmarmos que há vida em K2-18b, isso pode indicar que a vida é muito comum na galáxia”, disse.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp