O bate-boca entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, levantou questionamentos sobre o uso de intérpretes durante encontros oficiais. Em visita à Casa Branca nessa sexta-feira (28), Zelensky optou por seguir a reunião sem um tradutor, o que pode ter favorecido o desentendimento entre os dois líderes. Para especialistas ouvidos pelo R7, apesar de o ucraniano não estar desassistido no momento, pois estava acompanhando de diplomatas, seria apropriado que tivesse levado um intérprete.A visita foi marcada para a Ucrânia poder assinar um acordo para os EUA explorarem minerais e depósitos com elementos raros em território ucraniano. A permissão seria uma moeda de troca para algum tipo de acordo de segurança contra a Rússia. Entretanto, o tratado acabou não sendo assinado.Durante o encontro, Trump acusou o ucraniano de estar “jogando com a Terceira Guerra Mundial” e de “não ser grato” ao não aceitar a proposta norte-americana para cessar o conflito envolvendo a Rússia e pedir reiteradamente por garantias de segurança dos Estados Unidos.Para o especialista em relações internacionais Evandro Carvalho, o mais comum e apropriado, principalmente em situações formais públicas, seria o uso de intérprete.“Isto não impede que um chefe de Estado queira falar no idioma do outro. Mas isto implica uma espécie de sujeição ao idioma alheio. Você conseguiria imaginar o líder chinês se esforçando para falar inglês com Trump? Por mais que o líder estrangeiro possa saber o idioma inglês, há uma questão de soberania implícita no uso do idioma nacional”, disse.Para a especialista em direito internacional da USP (Universidade de São Paulo) Maristela Basso, houve um excesso de confiança por parte de Zelensky, uma vez que o protocolo é levar o intérprete mesmo que se fale a língua que será usada na reunião. Para Basso, talvez o desentendimento entre os dois líderes pudesse ser “amenizado, porque ambos já estavam propensos a se desentenderem”.Apesar de não estar acompanhado de um tradutor, Zelensky não estava totalmente desamparado. O presidente ucraniano foi acompanhado por diplomatas de carreira do próprio país, lembrou o especialista em direito internacional Pablo Sukiennik. Para o analista, o desentendimento não foi causado por um problema na tradução ou um mal-entendido.“Não vejo que o assunto tenha passado pelo tema de ausência ou não de um tradutor. Aí tem que levar em consideração o nível de inglês do Zelensky, ele estava assessorado pela diplomacia de carreira da Ucrânia, mas não me pareceu que o bate-boca se deu em função de um problema de tradução”, disse.Segundo Sukiennik, o protocolo para o uso de intérprete varia conforme o país. “A diplomacia possui seus tradutores e, além disso, tem os diplomatas que assessoram a presidência, que acompanham esse tipo de evento e terminam conduzindo a questão. O protocolo seria o Zelensky, em uma reunião dessas, estar acompanhado do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, mas cercado por uma comitiva de diplomatas de carreira e um tradutor”, completou.O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse neste sábado (1º) ser “muito grato” pelo suporte dos Estados Unidos e agradeceu o apoio de Donald Trump. A fala ocorreu depois do bate-boca entre os dois líderes na Casa Branca.Nas redes sociais, Zelensky fez uma série de publicações agradecendo o governo americano. “A ajuda da América foi vital para nos ajudar a sobreviver, e eu quero reconhecer isso. Apesar do diálogo difícil, continuamos parceiros estratégicos”, escreveu o ucraniano. No entanto, ele disse que “precisamos ser honestos e diretos uns com os outros para realmente entender nossos objetivos compartilhados”.Segundo Zelensky, “é crucial para nós termos o apoio do presidente Trump”. “Ele quer acabar com a guerra, mas ninguém quer a paz mais do que nós do. Somos nós que vivemos esta guerra na Ucrânia. É uma luta pela nossa liberdade, pela nossa própria sobrevivência.”