Entenda por que países investem bilhões em programas espaciais
No mundo todo, 35 nações têm agências para lançar missões que cruzam a atmosfera levando astronautas e satélites
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Se no século 20 a corrida espacial tinha apenas dois competidores, os Estados Unidos e a ex-União Soviética, o cenário no século 21 é outro. Para países interessados em descobrir o que existe além da atmosfera, em buscar autonomia nas pesquisas e em transmitir dados, o desenvolvimento na área espacial é essencial.
A Nasa, a agência espacial norte-americana, e a Roscosmos, a agência espacial russa, ainda são as duas potências no setor, mas outros países também passaram a investir bilhões de dólares em pesquisa espacial e avançaram significativamente no setor, como a Índia, China e também o bloco de países europeus, com a ESA.
No dia 28 de fevereiro, o Brasil lançou o primeiro satélite 100% brasileiro, o Amazônia-1, em parceria com a Índia. O satélite vai monitorar o desmatamento no Norte do país e a agricultura em território nacional.
Os Emirados Árabes Unidos, último país a entrar nessa corrida espacial, lançaram em julho de 2020 uma sonda espacial com destino a Marte. A sonda Al-Amal (“A esperança”, em árabe”) chegou ao planeta vermelho em fevereiro deste ano.
Com mais avanços e países participando das pesquisas e da exploração espacial, a área tende a crescer e os objetivos ficam ainda mais complexas. Hoje, as missões tripuladas seguem para a Estação Espacial Internacional, mas com a vastidão do universo, as opções de exploração são infinitas em um futuro nem tão distante.
Lançamento de satélites e missões tripuladas
Enquanto muitos acreditam que o foco de programas espaciais é apenas enviar astronautas para a Lua e descobrir se é possível viver em outros planetas do Sistema Solar, as agências também são responsáveis pelo lançamento de satélites na órbita do planeta e por pesquisas científicas.
Segundo o professor de Relações Internacionais da ESPM do Rio Grande do Sul, Roberto Uebel, o lançamento de satélites para áreas de comunicação, defesa e militar garante autonomia para os países, além de dar uma “projeção de poder”.
“Se um país tem autonomia nos satélites, ele fica menos à mercê de países rivais. Como, por exemplo, a Venezuela lançando satélites para evitar depender dos EUA”, explica.
Mandar missões tripuladas pelo espaço não é uma missão fácil e barata. Os EUA e a Rússia já enviaram astronautas para a Lua, e a China já enviou um rover para lá, mas são bilhões de dólares investidos em uma jornada longa e difícil.
Desde 2010, a Estação Espacial Internacional reúne astronautas da Nasa, Canadá, Japão, Rússia e da Agência Espacial Europeia que participam de missões para realizar pesquisas e para monitoramento da Terra.
Como é a relação da NASA e Space X?
Nos Estados Unidos, existe ainda uma empresa espacial privada, a Space X, criada, em 2002, pelo empresário e segundo homem mais rico do mundo, Elon Musk .
No começo, a Nasa resistiu à ideia de empresas privadas atuarem na exploração espacial, por medo da área se tornar um comércio e deixar de ser voltada à pesquisa e desenvolvimento científico.
“Mas, com a crise internacional e de orçamento, a Nasa sofreu vários cortes e buscou novas parcerias”, diz Uebel.
Com isso, a agência espacial norte-americana e a Space X fizeram uma parceria, na qual a o governo dos EUA fornece recursos humanos e especialistas e a empresa de Musk naves, satélites e tecnologia.
“A Nasa tem o conhecimento e a Space X o dinheiro, assim, a os EUA não precisma desprender bilhões de dólares para construir as naves e consegue investir nos especialistas”, reflete o professor.
Desde 2019, os EUA também contam com mais um grupo interessado em "proteger" o espaço, a Força Espacial dos EUA, que é o sexto membro das Forças Armadas do país.
Segundo o site da corporação, o objetivo dos militares é “fornecer liberdade de operação para o país no espaço” através de operações espaciais e desenvolver “guardiões, adquirir sistemas militares espaciais, amadurecer a doutrina militar para poder espacial e organizar forças espaciais.”
Para o professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vivaldo José Breternitz, a chegada desta nova força militar pode mudar a forma como a Nasa opera.
“Eu tenho a percepção de que a Nasa vai deixar, ou pelo menos dar menos prioridade, aos satélites de comunicação e monitoramento para focar no trabalho com essa força militar”, diz Breternitz.
Até agora não foi anunciado como a Força Espacial dos EUA vai agir e quais serão o foco de suas missões.
Os novos protagonistas
Nos últimos anos, a Índia e a China ocupam o protagonismo nesse cenário com um avanço rápido na área espacial. Os dois países já entram em listas de maiores países no setor e destinam bilhões no orçamento público para a formação de especialistas e desenvolvimento de satélites.
Segundo Roberto Uebel, o incentivo financeiro do governo atrai jovens para as áreas de engenharia e ligadas ao setor espacial, através de “bolsas de estudo e pesquisa, possibilidade de trabalhar nessas áreas e os altos salários e o emocional”, analisa.
Com os subsídios do governo, o número de engenheiros e cientistas formados nesses países cresceu nos últimos anos, garantindo que a área continue se desenvolvendo no futuro.
“O retorno que um programa espacial trás para a imagem de uma potência é enorme, mas é algo a longo prazo”, conclui Uebel.
Além disso, ter um programa espacial e satélites de espionagem e defesa ajudam a proteger um país, explica o professor Breternitz, “e a Índia tem dois grandes inimigos naturais, a China e o Paquistão”.
Países em desenvolvimento com programas espaciais
Qualquer país pode ter um programa espacial, desde que se tenha recursos econômicos e humanos, destaca o professor de Relações Internacionais, já que essa é uma área em que todos os investimentos são caros. Mesmo assim, países em desenvolvimento como Venezuela, Angola e Quênia possuem agências espaciais.
Apesar de não terem pesquisas significativas na área e nem pretendam lançar missões longas nos próximos anos, esses países conseguem lançar satélites com menor custo e que os ajudam a monitorar “o meio ambiente, a questão agrícola, já que Angola tem problemas com a seca, comunicações e defesa”, explica o especialista.
Além disso, esses programas são parceiros da Rússia, China e Índia, o que aumenta a zona de influência desses países nas regiões.
Como fica o Brasil na corrida espacial?
Sem investimentos altos na área e com a ciência longe de ser uma prioridade, os avanços do Brasil na área espacial são mais lentos, mas não pequenos. O país tem seis universidades que oferecem o curso de engenharia espacial, incluindo o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e já teve parcerias importantes com a Nasa e a Roscosmos no passado.
Além disso, o país possui a Base de Alcântara, que fica em “uma das melhores regiões do planeta para lançamento de foguetes”, já que fica na linha do Equador, diz o professor Uebel.
Porém, desde o acidente de 2003, quando uma explosão matou 21 pessoas no local, “o Brasil não conseguiu fazer a base voltar a funcionar regularmente, mas existem intenções”, segundo Breternitz.