Rússia x Ucrânia

Internacional Entidades e jornalistas alertam para os riscos de cobrir a guerra na Ucrânia

Entidades e jornalistas alertam para os riscos de cobrir a guerra na Ucrânia

Três profissionais da imprensa morreram nesta semana durante o trabalho em regiões de enfrentamento entre as tropas 

AFP
Dois profissionais do canal americano Fox News morreram na cobertura da guerra

Dois profissionais do canal americano Fox News morreram na cobertura da guerra

FOX NEWS / AFP

Jornalistas estão morrendo durante a cobertura da guerra na Ucrânia, um testemunho da violência dos combates e dos ataques indiscriminados contra civis.

Na terça-feira (15), morreram dois jornalistas da rede de televisão americana Fox News: o franco-irlandês Pierre Zakrzewski, um veterano dos campos de batalha, e a ucraniana Oleksandra Kuvshinova.

No domingo (13), a vítima foi o americano Brent Renaud, o que mostra "a extrema periculosidade do cenário ucraniano", disse o ministro francês da Defesa, Jean-Yves le Drian.

A situação no país é "extremamente volátil, sem linha de frente clara há dias", disse à AFP o repórter Sébastien Georis, enviado especial da emissora belga de rádio e televisão RTBF.

Um veterano com décadas de experiência em conflitos, o fotógrafo francês Patrick Chauvel, de 72 anos, acaba de voltar da Ucrânia e relata uma guerra "muito, muito complicada de cobrir".

"Há combates de artilharia (...), uma bomba de 250 quilos tem um raio letal de 50-60 metros, pode cair em qualquer lugar", disse esse jornalista, na segunda-feira (14), no programa francês Quotidien.

"As pessoas estão muito paranoicas, têm o gatilho fácil", acrescentou, referindo-se aos ucranianos que temem os "sabotadores" russos.

Nesse contexto, os jornalistas parecem ter virado "alvos" da guerra, disse recentemente à AFP o secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire.

"É pior do que outros conflitos? Difícil dizer", comenta o secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Anthony Bellanger.

"Temo (...) que o balanço vá ser ainda mais macabro", afirmou, acrescentando que "o Exército russo bombardeia às cegas".

Situação precária e sem formação

A decisão russa de recorrer a reforços sírios e chechenos "como uma forma de fazer a guerra e um respeito pelo direito internacional humanitário que não se parece muito com a nossa maneira" leva a antecipar um agravamento da situação, disse uma fonte diplomática europeia à AFP.

Do lado ucraniano, três jornalistas morreram, entre eles Evgueni Sakun, morto no bombardeio russo à torre de televisão em Kiev. Além disso, há inúmeros jovens inexperientes que se apresentam como "repórteres de guerra", denuncia no Twitter Laura-Maï Gaveriaux, correspondente do jornal Les Echos, de Dubai.

Alguns viajam para a Ucrânia "sem fazer curso de formação na Cruz Vermelha", sem seguro e sem material, relata essa jornalista, que diz se sentir "indignada" com a recusa de algumas redações a pagar coletes à prova de balas (cerca de US$ 500) ou capacetes (em torno de US$ 700).

Recém-chegado à Ucrânia, o enviado especial do jornal espanhol El Mundo, Lluís Miquel Hurtado,  também critica a responsabilidade de alguns veículos de comunicação, que "deixaram de investir no jornalismo".

Ciente de que há "milhares de jornalistas" trabalhando na Ucrânia em condições precárias, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) anunciou que entregará 125 capacetes e coletes à prova de balas com a inscrição "imprensa".

A distribuição será feita pelo centro de imprensa recentemente aberto pela Repórteres Sem Fronteiras em Lviv e pela FIJ. Dos 46 jornalistas mortos em 2021, 18 faleceram em zonas de conflito, de acordo com a RSF.

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