Uma década atrás, Andy Ruben chefiava o setor de estratégia internacional de uma empresa que os ambientalistas adoram odiar: o Walmart. Adam Werbach foi um inflamado ativista, tendo atuado como mais jovem presidente do venerável grupo pró-sustentabilidade Sierra Club, aos 23 anos. Seria difícil imaginar uma dupla mais improvável trabalhando junta em um escritório de São Francisco em 2013. Hoje, porém, Ruben e Werbach são fundadores de uma startup de seis funcionários que tem um plano grandioso: reduzir o desperdício e mudar a economia de varejo, levando as pessoas a deixarem de comprar até R$ 400 bilhões (200 bilhões de dólares) em produtos a cada ano. A empresa, a Yerdle, foi lançada em São Francisco em novembro – na Black Friday – e em Nova York há um mês. O usuário acessa o Facebook e entra em um mercado bem planejado, repleto de fotos de itens que os seus amigos e os amigos dos seus amigos gostariam de doar ou emprestar gratuitamente.A liberação de facas em voosTrês vivas para o Estado babáMilhares de empresas italianas à beira da falência A ideia é que as pessoas verifiquem a Yerdle antes de fazer uma nova compra, e possam solicitar que a empresa ofereça o serviço de frete a partir do endereço de um amigo. O valor de R$ 400 bilhões (200 bilhões de dólares) é uma estimativa da própria dupla, obtida a partir do percentual de 1 trilhão de dólares em bens duráveis adquiridos no varejo nos EUA a cada ano, os quais podem ser adquiridos então da própria rede social online ampliada de um indivíduo. Ao acessar a Yerdle, vi coisas como uma peneira, um PlayStation e uma "caixa de areia gigante". "O simples fato de que uma pessoa vai a uma festa de Halloween não significa que toda uma cadeia internacional de fornecimento tem de ser acionada para possibilitar que cada item seja fabricado, transportado e adquirido", diz Ruben. Nos vários cargos que ocupou no maior varejista do mundo, ele gerenciou essas mesmas cadeias de fornecimento em prol das marcas das lojas do Walmart, e também foi responsável por disponibilizar serviços oferecidos nas lojas, como compras de supermercado, na Internet. Cada meio quilo de produto corresponde, em média, a mais de 30 kg de resíduos, diz ele, um problema com o qual ele passou a se preocupar com o lançamento da primeira iniciativa de sustentabilidade do Walmart em 2005. Foi também nessa ocasião que ele conheceu Werbach, que tinha acabado de fazer um discurso controverso, "O Ambientalismo está Morto?", e passou a adotar estratégias sustentáveis práticas, como trabalhar com empresas de pequeno porte. O compartilhamento e a reutilização de bens, seja para poupar dinheiro, reduzir o desperdício ou por pura generosidade, estão longe de ser novidade. As lojas de usados deram origem ao eBay e ao Craigslist e, agora que os smartphones e Facebook entraram em cena, empresas como AirBnB e RelayRides estão facilitando o aluguel, em vez da venda, de quartos e carros para desconhecidos. Os mercados que tornam o consumo mais colaborativo e eficiente em termos de recursos têm ultimamente sido associados a uma "economia do compartilhamento". Diversas startups exatamente como a Yerdle hoje tentam fazer com que o modelo de compartilhamento funcione para além de itens de alto custo. O desafio é atrair usuários regulares e facilitar o máximo possível que os indivíduos realizem transações entre si, e não com conglomerados internacionais eficientes, convenientes e baratos. Um dos principais obstáculos é o fato de que a conveniência de fazer compras e a alegria de adquirir algo novo estão profundamente arraigados na cultura dos Estados Unidos. Quanto menor for o valor do bem, maior a dificuldade de mudar esses hábitos, diz o professor da Universidade de Nova York, Arun Sundararajan, que estuda o crescimento da economia de compartilhamento há anos. Cerca de 12 mil pessoas se registraram na Yerdle, e 25% delas têm usado o serviço semanalmente. Quando um dos usuários do site quer um bem específico, o site conecta o doador e o receptor via e-mail para organizar a troca. Ruben acredita que o compartilhamento e aluguel de bens acabará se tornando uma parte maior da economia de consumo, e considera a Yerdle uma tentativa a longo prazo de ajudar o setor de varejo a seguir essa tendência mais rapidamente. Ele tem refletido sobre o que motivaria lojas e marcas a serem parceiras ou até mesmo a fazerem propostas para adquirir sua startup, assim como sobre o que seria necessário fazer para que ele se tornasse mais do que um serviço local. A principal motivação, diz ele, é a fidelidade do cliente, algo muito importante em um setor no qual os 10 varejistas mais importantes mudam a cada três décadas. A Montgomery Ward e a Sears faziam parte dessa lista há apenas 30 anos. Hoje a Walmart ocupa o primeiro lugar. Ruben está convencido de que a Amazon terá essa posição algum dia. Quanto mais úteis forem os serviços que uma loja de varejo oferecer – como, por exemplo, a Amazon Prime dar aos assinantes frete grátis e aluguel de filmes – mais fidelidade ela irá atrair. Se a febre do compartilhamento pegar, serviços como da Yerdle podem vir a ser simplesmente outra característica essencial de fidelidade da concorrência no setor do varejo, acredita ele. Ele imagina que as pessoas um dia vão abrir um aplicativo e verificar se um amigo tem um item que poderia ser emprestado ou com o qual poderiam ficar. A Amazon já tem um serviço que possibilita que as pessoas revendam seus pertences. Da mesma forma, a General Motors está trabalhando com a startup de compartilhamento pessoal de carros RelayRides. Ruben acredita que marcas conhecidas por prezar pela qualidade, como a fabricante de roupas Patagonia, também podem comprar a ideia, uma vez que um serviço que valoriza a reutilização de algo e não a compra de um item mais barato e descartável reforça a ideia de que vale a pena pagar mais por um produto. No momento, a Yerdle está planejando uma promoção de volta às aulas com o que Ruben diz ser uma marca bem conhecida, de alto padrão, que vai oferecer um desconto para os usuários que se cadastrarem na Yerdle. A Yerdle é atualmente nada mais do que um site pequeno com objetivos ambiciosos, mas os contatos da equipe podem ajudar no momento de seu primeiro financiamento de risco. E Sundararajan, da Universidade de Nova York, acredita que o tempo pode ser bom para alguns serviços como a Yerdle pegarem, mas ele acredita que uma integração sólida com o Facebook é um risco estratégico, porque qualquer concorrente pode fazer a mesma coisa. Ruben e Werbach compartilham os mesmos objetivos hoje em dia. Como diz Werbach: "Não quero apenas fazer com que alguns produtos se tornem 20% melhores. Eu quero acabar com 20% das coisas que compramos".O que acontece no mundo passa por aquiModa, esportes, política, TV: as notícias mais quentes do dia