Autoridades e especialistas dizem que a Rússia pode estar usando navios da chamada “frota fantasma” para espionagem e sabotagem contra países da União Europeia e do G7, segundo o jornal britânico Lloyd’s List.Investigações recentes apontam que embarcações ligadas ao país de Vladimir Putin estão sendo equipadas com dispositivos de alta tecnologia para monitorar atividades de aliados da Otan. O caso mais recente envolve o petroleiro Eagle S, suspeito de danificar deliberadamente um cabo submarino no Mar Báltico, em dezembro de 2024.De acordo com entrevistas concedidas ao jornal, o Eagle S, com bandeira das Ilhas Cook, foi apreendido pela polícia finlandesa após ser identificado como possível responsável pela sabotagem nos cabos submarinos do Estlink 2, que conecta Finlândia e Estônia e fornece energia elétrica às duas regiões. Fontes relataram que o navio transportava equipamentos sofisticados de transmissão e recepção, usados para registrar frequências de rádio de navios e aeronaves da Otan.O petroleiro fazia parte de uma frota de 26 embarcações ligadas a gestores sancionados pelo Reino Unido por “sustentar a máquina de guerra de Putin”. Esses navios, adquiridos após o início da guerra na Ucrânia, operam sob estruturas de propriedade opacas e utilizam bandeiras de sua própria conveniência.A frota fantasma, ou frota escura, é composta por navios antigos que frequentemente operam sem seguro padrão e fora das regulamentações marítimas internacionais. Essas embarcações mudam de nome e bandeira regularmente para dificultar sua rastreabilidade. Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, o número dessas embarcações cresceu exponencialmente, atingindo cerca de 1.400 unidades, segundo o think tank norte-americano Atlantic Council.Navios dessa frota são usados para contornar sanções econômicas, transportando petróleo e outras mercadorias de países sancionados, como Rússia, Irã, Coreia do Norte e Venezuela. No caso da Rússia, a frota desempenha um papel crucial na manutenção da economia do país, desafiando as sanções impostas por países do G7 (como Estados Unidos, Canadá e Japão) e da União Europeia.A operação dessas embarcações, muitas delas com mais de 20 anos, representa riscos significativos. Sem o seguro “P&I” -- padrão obrigatório para cobrir danos ambientais, colisões e conflitos bélicos --, a frota escura aumenta o perigo de desastres ambientais e acidentes marítimos.Além disso, os navios da frota fantasma frequentemente desligam seus sistemas de identificação automática (AIS), o que dificulta o monitoramento de suas atividades e amplia os riscos de colisões. Especialistas apontam que a crescente utilização desses navios pode levar a uma escalada de tensões geopolíticas, sobretudo em áreas estratégicas como o Mar Báltico, onde a Rússia está cercada por aliados da OTAN.O Eagle S destaca os perigos adicionais dessa frota. Fontes relataram ao Lloyd’s List que, além de equipamentos de espionagem, o navio foi usado para lançar sensores no Canal da Mancha, possivelmente para coletar dados militares. A tripulação teria conhecimento dessas atividades, mas foi mantida em silêncio sob ameaças.O Atlantic Council classifica a frota fantasma como uma ferramenta de “agressão de zona cinzenta”, que causa danos tangíveis abaixo do limiar de conflito militar direto. Com o crescimento contínuo dessa frota, os incidentes envolvendo sabotagem, espionagem e desastres ambientais tendem a se intensificar, desafiando a segurança marítima global.