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Guerra fortaleceu amizade entre pacifistas israelense e palestina que moram nos EUA

A palestina Aziza Hasan e a israelense Andrea Hodos dirigem uma organização que promove a coexistência de diversos povos

Internacional|Do R7

Aziza Hasan (à esq.) e Andrea Hodos dizem que a guerra de Israel contra o Hamas fortaleceu a amizade entre elas
Aziza Hasan (à esq.) e Andrea Hodos dizem que a guerra de Israel contra o Hamas fortaleceu a amizade entre elas

No fim da tarde de 15 de outubro, quando o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas já se desenrolava havia dias, a palestina muçulmana Aziza Hasan e a israelense judia Andrea Hodos se encontravam sentadas na grama seca de um parque lotado, a pouco menos de 10 km do centro de Los Angeles, nos Estados Unidos. À sua volta, um círculo de judeus e muçulmanos.

Todos faziam parte do NewGround, programa que ajuda mais de 500 pessoas de ambas as crenças a ouvir, discordar, ter empatia e desenvolver amizades. Hasan, cuja família remonta aos territórios palestinos, administra a instituição sem fins lucrativos; Hodos, que já morou em Israel, é sua diretora associada desde 2020.

As duas se lembram de detalhes da história longa e brutal dos conflitos e guerras entre Israel e os vizinhos ao norte, leste e sul — e como ela gera ondas contínuas de medo em Los Angeles, cidade com uma das maiores populações de muçulmanos e judeus do país.

"Mas nunca foi tão terrível como agora", disseram as duas praticamente juntas, durante uma entrevista recente, concedida em um café da cidade.


Força de uma amizade

Elas nunca temeram tanto que a morte e a destruição no Oriente Médio provocassem violência antissemita ou islamofóbica nos EUA. Nem se preocuparam tanto com o trabalho, tendo de pisar em ovos para não ser mal interpretadas. Tampouco sentiram tamanho pavor nem encontraram um consolo tão cheio de esperança e robusto nos laços inter-religiosos que seu trabalho criou.

Hasan e Hodos são mais que colegas. A amizade sólida que nutrem uma pela outra mostra que os laços que as mantêm unidas ao judaísmo e ao islamismo podem continuar fortes, mesmo com o conflito jogando uns contra os outros, insuflados pela revolta.


"Aziza é como se fosse minha irmã, é parte da família", confirmou Hodos, de 57 anos. "Temos uma conexão tão forte uma com a outra que às vezes Andrea completa meu pensamento ou começa/acaba a frase por mim", disse Hasan, de 43 anos.

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As duas mulheres têm raízes profundas em Israel e nos territórios palestinos. Hodos passou os primeiros anos depois de se formar em Jerusalém, reconectando-se com sua fé e descobrindo o movimento de paz em expansão; seu marido, hoje rabino e professor de literatura rabínica, morou naquele país durante 12 anos; os filhos do casal são cidadãos israelenses.

Um de seus parentes é reservista do Exército de Israel, fato que Hasan admite ser difícil de aceitar, talvez pelo fato de que seus avós paternos eram agricultores palestinos e foram expulsos da própria terra sob ameaça armada durante a criação do Estado israelense, no fim dos anos 1940.

Primogênita de pai muçulmano e mãe branca americana, Hasan passou boa parte da infância na Jordânia e ainda se lembra do terror que os colegas de classe tocavam ao dizer que sua mãe iria para o inferno por ser cristã. Depois da morte do pai, a família se mudou para uma cidadezinha no Kansas, onde ela passou a ouvir que iria para o inferno por ser muçulmana. "Sempre tive de viver em um mundo de ideias opostas e crenças antagônicas. Esse meu trabalho gera angústia, é difícil, mas não desisto porque é muito importante para minha essência."

A voz falha. Vai-se o momento. Ela suspira. "Ainda assim, às vezes fico pensando por que me dedico tanto a algo que parece tão sem perspectiva, principalmente agora." E se apoia em Hodos, como a pedir força. A vida das duas está ligada; as duas famílias são muito próximas. Uma é o ombro amigo da outra. Os olhos de Hodos se arregalam ao recordar uma de suas lembranças favoritas — as duas na cozinha kosher de sua família, fazendo biscoitos com uma antiga receita da Palestina.

Divisão de uma guerra

Quando começaram a pipocar as notícias do massacre e do sequestro de israelenses pelos terroristas do Hamas, as duas começaram a trocar mensagens. "Como você está?", escreveu Hasan antes de expressar a revolta por tamanha atrocidade e o medo de uma retaliação violenta que ceifaria vidas inocentes. "Amo você. Sinto muito. Estou aqui", completou.

Hodos estava sofrendo pelo amigo de seu filho que fora feito refém. E também ao pensar que o marido já fora soldado do Exército israelense e, décadas atrás, combatera na guerra contra o Líbano. O choque e a dor que sentira a princípio eram tão fortes que não conseguia achar as palavras certas; assim, respondeu mandando poemas sobre o luto das perdas de guerra.

"Nunca vi tantas pessoas procurarem umas às outras como agora; acho que é consequência das relações que criamos nesses anos todos. Sem esse tipo de conexão, na discussão a pessoa se torna defensiva, e seu interlocutor faz a mesma coisa, na mesma proporção. Quando há um relacionamento em jogo, há momentos em que baixamos a guarda, temos mais cuidado na elaboração das ideias, mais tolerância", disse Hasan.

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A reunião do NewGround no parque em Los Angeles foi um desses momentos. O clima era solene e de apreensão triste quando as duas amigas deram as boas-vindas aos outros integrantes. Israel passara os últimos dias bombardeando Gaza, em uma retaliação ao atentado perpetrado pelo Hamas que estava causando um desastre humanitário.

Durante um bom tempo, os membros do NewGround ficaram reunidos em cinco ou seis grupos menores, gente de ambas as fés se misturando enquanto trechos de conversas carregadas de angústia enchiam o ar. "Minha geração tem de fazer algo diferente pela próxima. Nenhum dos dois lados tem de repetir os mesmos erros e horrores."

Uma hora se passou; mais outra. Todos acabaram se reunindo em um único círculo. Lado a lado, joelho com joelho, Hasan fez sua oração, e Hodos cantou. O sol se pôs, o céu escureceu. Por um breve intervalo, houve um silêncio tranquilo.

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