Irlanda vai às urnas em referendo que decide a legalização do aborto
As ruas do país estão tomadas por cartazes contra e a favor ao aborto, em campanhas que disputam a atenção e o voto dos irlandeses indecisos
Internacional|Beatriz Sanz, do R7, com agências internacionais
Mulheres vestidas como na série distópica “The Handmaid’s Tale”, baseada em um livro homônimo da escritora canadense Margaret Atwood, tomaram conta das ruas de Dublin, na Irlanda.
Na obra de ficção, os vestidos vermelhos e toucas brancas representam mulheres que são estupradas por seus patrões para que possam engravidar, já que a maioria das mulheres se tornou infértil por conta da poluição.
Na vida real, as mulheres irladesas que usam as mesmas roupas estão fazendo campanha pelo voto a favor da legalização do aborto no referendo que acontece nesta sexta-feira (25), em todo o país.
A proposta é modificar uma emenda à constituição que proíbe o aborto e substitui-la por um projeto que permitiria o aborto em qualquer situação até 12 semanas de gestação e em até 6 meses para gestações perigoras, com autorização de um médico.
As pesquisas mostram que o voto em favor da legalização tem uma pequena vantagem, que no entanvo vem caindo nos últimos dias.
Além das manifestações nas ruas, o país, que está polarizado pelo debate, tem cartazes contra e a favor disputando espaços nos locais públicos, tentando convencer a parcela da população que ainda possa estar indecisa.
Um dos países mais católicos do mundo, a Irlanda volta a debater o tema 35 anos depois de proibir qualquer forma de aborto. Em 1983, uma outra votação fez uma emenda à constituição dando aos fetos os mesmos direitos que as mães possuem.
O referendo deste ano acontece após duas mulheres terem suas vidas marcadas de formas diferentes por conta da proibição do aborto.
A dentista indiana Savita Halappanavar, 31 anos, morreu em 2013 depois que um aborto de emergência lhe foi negado no hospital. Ela estava grávida de 17 semanas.
Esse caso gerou muita comoção no país e liberou o aborto quando a vida das mulheres estivesse em risco.
Amanda Mellet, por sua vez, conseguiu realizar o procedimento, mas para isso precisou viajar para o Reino Unido, onde o aborto é legalizado.
O feto que ela carregava não teria condições de sobreviver, mesmo se ela levasse a gravidez a diante. Ainda assim o aborto para ela continuou proibido.
Mellet, então, acionou o Comitê de Direitos Humanos da ONU pedindo que a instituição denunciasse a proibição do aborto em casos de anomalias fetais fatais como “cruéis e desumanas”.
Ela processou o Estado pelo trauma que passou e foi indenizada com uma quantia de 30 mil euros, no fim do ano passado.
País conservador
Historicamente, a Irlanda é um país conservador. Para efeito de comparação, a homossexualidade só deixou de ser considerada um crime em 1992 e apenas em 1996 o divórcio foi permitido por lei.
As mudanças nos últimos anos, no entanto, têm sido intensas, tanto que, no ano passado, Leo Varadkar foi eleito o primeiro-ministro. Ele é o primeiro líder político do país abertamente gay.
Varadkar e outros políticos influentes estão fazendo campanha aberta em favor do sim, a legalização do aborto.
Enquanto isso, a Igreja Católica, que foi fundamental para a vitória do não em 1983, se mantém afastada do debate.