Isolados, peruanos aprendem a dizer 'saudades' na língua dos incas
Busca por ensino de quéchua aumentou durante período de isolamento pela covid-19 no Peru e especialmente entre comunidades de emigrantes
Internacional|Do R7
Peruanos espalhados pelo mundo que estão sujeitos a isolamentos provocados pelas medidas de contenção do novo coronavírus e com saudade de casa têm usado a internet cada vez mais para aprender quéchua, a língua andina falada pelo povo inca.
Qorichaska Quispe, cujo primeiro nome significa "Pássaro de Ouro" em quéchua, disse à Reuters que as visualizações de sua página de Facebook "Vive el quéchua" aumentaram seis vezes em abril na comparação com o ano passado. Os estudantes se conectam no Peru, mas também na Europa, na Ásia e outros lugares da América do Sul.
Uma aula em que a sorridente Quispe ensinou seus seguidores a dizer "te amo" e "estou com saudade" atraiu 6 mil visitas. Outras em que se celebram heróis folclóricos, comida ancestral e espécies nativas teve 14 mil acessos.
"Durante a quarentena, todos nós podemos nos sentir tristes ou solitários às vezes, algumas pessoas estão longe da família, e lhes oferecermos uma lembrança de sua identidade" disse Quispe à Reuters.
Renascimento do quéchua
O quéchua se disseminou pela América Latina graças ao império inca cinco séculos atrás, e atualmente é falado por cerca de 10 milhões de pessoas, 3,7 milhões delas no Peru, onde é uma das três línguas oficiais.
Mas a maioria de seus falantes mora em áreas remotas, e o idioma deixou de ser transmitido de uma geração a outra — a maioria dos peruanos opta pelo espanhol.
Agora existem sementes de uma renascimento cultural, e o quéchua voltou a ser usado na transmissão de um noticiário de televisão, em um filme de sucesso nas bilheterias e em músicas de rap que estão ganhando status cult no YouTube.