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Morcego, esquilo e insetos: conheça pratos 'diferentões' pelo mundo

A epidemia de coronavírus chamou a atenção para o consumo de carne de morcego, mas vários povos comem animais que podem parecer estranhos

Internacional|Mariana Ghirello, Do R7

O conceito de qual animal deve ser consumido é determinado por cada povo
O conceito de qual animal deve ser consumido é determinado por cada povo O conceito de qual animal deve ser consumido é determinado por cada povo

A descoberta de uma receita chinesa de sopa de morcego, na epidemia atual de coronavírus, causou espanto nas redes sociais nos últimos meses. Mas o morcego não é único animal "estranho" consumido como alimento pela população mundo afora. Pratos típicos elaborados com animais pouco usuais podem gerar um certo "nojinho" para quem nunca viu, nunca comeu e já não gostou.

Leia mais: Sopa de morcego pode ter relação com surto de coronavírus na China

Até mesmo aqueles pratos considerados normais no Brasil, para outras nações, podem soar "estranhos". Na lista constam, por exemplo, o pé de porco, pé de galinha, torresmo e a buchada. 

A Lampreia é muito consumida em Portugal
A Lampreia é muito consumida em Portugal A Lampreia é muito consumida em Portugal

Um monstro com uma boca circular sem mandíbula, mas cheia de dentes, semelhante a uma sanguessuga. A lampreia é um tipo de peixe tão consumido ao redor do mundo que nem consta em listas de pratos exóticos. Pronta para comer, se assemelha a uma posta de peixe corriqueira.

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Os pratos com lampreia são muito consumidos nos países europeus, principalmente em Portugal e na Espanha. Servida cozida no próprio sangue, é considerada uma iguaria. 

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Se por um lado, alguns animais causam espanto, outros podem gerar compaixão, como é o caso do porquinho-da-índia. Prato típico da região andina, quase sempre é servido limpo, sem pele e assado com a cabeça. O animal é considerado um pet em alguns países, mas, nos Andes, é um prato para ocasiões especiais.

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"Os peruanos não conseguem entender como alguém pode ter um porquinho-da-índia como um animal doméstico", comenta o antropólogo Alberto Arce, professor emérito do departamento de estudos de Espaço, Lugar e Sociedade da Universidade de Wageningen, na Holanda.

Ele explica que os hábitos alimentares estão intimamente ligados ao meio ambiente físico e às relações pessoais. "Na França, o escargot (caracol) começou a ser consumido porque existia em abundância na região e representava uma ameaça aos vinhedos", exemplifica Arce.

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Regras alimentares

O professor conta que o conjunto de regras alimentares é também parte do conhecimento de um determinado povo. "No Chile, o escargot também é consumido já que é comum nos vinhedos. Lá, eles precisam ser identificados corretamente, coletados após as chuvas, e passam por um processo diferente de preparação", ressalta.

O mesmo acontece com as patas de rã, já que nem todas as espécies podem ser consumidas, por serem venenosas. Assim, importa não só a fonte de proteínas, mas muito a sua correta identificação e preparação, chamada de cultura culinária local.

Esquilo cinza também vira prato
Esquilo cinza também vira prato Esquilo cinza também vira prato

Outro caso de animais "fofos" que chama a atenção é o consumo de uma espécie de esquilo de cor cinza. Segundo o professor, no Reino Unido esse animal estava acabando com os esquilos de coloração avermelhada, e uma solução encontrada para o controle populacional foi levá-lo para a panela.

A sopa de morcego ganhou as capas de jornais após ser apontada como a responsável pela transmissão do coronavírus, recentemente nomeado covid-19. Contudo, Arce explica que ainda não existem evidências suficientes ou provas de que o vírus tenha sido transmitido pelo consumo da sopa do animal.

Ele lembra ainda que doenças como vaca louca, peste suína e gripe aviária tiveram como origem animais domesticados e industrializados comuns nas sociedades ocidentais.

Animais 'tabus'

O professor também participa de um projeto que produz proteína a partir de insetos de laboratório, como larvas, besouros e grilos. "Quando convidamos estudantes de outras carreiras para comer insetos, quase todos disseram que não comeriam", lembra Arce.

Os organizadores, convidaram então, quatro chefs para preparar pratos especiais com as proteínas de insetos e o resultado impressionou. "Todos gostaram muito dos pratos preparados, o que mostra que não é só o que se come, mas também a preparação dos alimentos", comentou.

No México, por exemplo, os escamoles são considerados o caviar do país. As larvas e pupas de uma espécie de formiga podem custar até R$ 50 o quilo. De longe parece um arroz mais gordinho, como o utilizado para fazer risoto. Mas outros insetos são altamente consumidos como o grilo e larvas vendidos de forma industrializada.

Veados eram a fonte de carne mais consumida na Escócia
Veados eram a fonte de carne mais consumida na Escócia Veados eram a fonte de carne mais consumida na Escócia

Além de fatores regionais, a globalização também impõe novos hábitos alimentares. Na escócia, os veados eram abundantes e muito consumidos pela população do país. Contudo, com uma maior oferta da carne bovina, ele acabou substituído.

Uma maior disponibilidade de carnes consideradas de maior qualidade também reduziu o consumo de miúdos. Um prato típico da Escócia que pode provocar asco ou apetite, dependendo do ponto de vista, é o haggins, uma mistura de miúdos de cordeiro picados como coração, fígado, e pulmões, tudo cozido dentro do estômago do animal. 

Muitos pratos típicos preparados com miúdos hoje são considerados "esquisitos" por conta dessa maior oferta de outras proteínas. Contudo, em muitas regiões, o consumo desse tipo de comidas típicas voltou a subir. "Os jovens europeus estão provando míudos com maior frequência", destaca Arce.

Para o especialista, quem torce o nariz para alguns alimentos precisa refletir, uma vez que os hábitos e culturas alimentares estão relacionados ao local, oferta de alimentos e ainda o conhecimento sobre o que existe disponível.

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