O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou nesta sexta-feira (5) uma resolução que condena o golpe de Estado no Sudão, ocorrido em 25 de outubro, e exige a libertação do primeiro-ministro do país, Abdalla Hamdok, assim como de outras pessoas presas arbitrariamente. O texto, que recebeu aval sem a necessidade de votação — mas sem o apoio da Rússia, China e Venezuela —, condena "nos termos mais enérgicos possíveis" o golpe militar, a suspensão das instituições de transição e a imposição de medidas contrárias à Declaração Constitucional de 2019 e ao Acordo de Paz de Juba. A resolução cobra a "libertação imediata e sem condições prévias de todos os detidos de forma ilegal e arbitrária desde a tomada de poder pelos militares", entre eles Hamdok e outros integrantes civis do governo do Sudão. O texto pede que o Exército do país africano inicie um diálogo com lideranças civis e expressa uma grande preocupação pela repressão aos protestos pacíficos após o golpe, em que houve "uso excessivo de força". Além disso, é solicitado à alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que seja nomeado um especialista para acompanhar a situação do Sudão, a partir dos fatos de 25 de outubro. Com as investigações que o escritório da ex-presidente do Chile poderia realizar, o Conselho de Direitos Humanos verificaria a evolução da situação no país africano em sua próxima sessão, que será realizada entre fevereiro e março do ano que vem. A própria Bachelet discursou hoje para condenar a repressão aos protestos contra o golpe de Estado, que causou, pelo menos, 13 mortes e deixou 300 feridos. A alta comissária da ONU pediu o fim da violência e que o Sudão siga em transição para a democracia. "Apelo aos líderes militares sudaneses e a quem os apoia que deem um passo atrás, com o objetivo de permitir que o país volte ao caminho do progresso e das reformas institucionais e legais", disse a ex-presidente chilena. Bachelet ainda condenou a prolongada interrupção da internet e de outros canais de comunicação no Sudão, exigindo que os serviços sejam restaurados, "pois é crítico que as pessoas sigam podendo ser informadas como em momentos como o atual". A sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU aconteceu nesta sexta-feira a pedido de Reino Unido, Estados Unidos, Noruega e Alemanha, tendo contado com o apoio de cerca de 50 países. A Rússia, por outro lado, afirmou que a sessão e a resolução constituem uma "inadmissível interferência nos assuntos internos de um país soberano" e denunciou a constante pressão do conselho a nações que atravessam momentos conturbados. Para a China, a população sudanesa "deve resolver por si mesma seus problemas", enquanto a Venezuela também criticou o órgão da ONU por "explorar os direitos humanos com finalidade política".