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Os anos 80 e 90 foram marcados pelo terror e
violência encabeçados pelos cartéis de Cali e de Medellín na América Latina. Os
chefes dos grupos ascendiam socialmente, tornavam-se célebres e ostentavam
riquezas poucas vezes vistas no continente, com o tráfico de produtos ilegais
como cocaína, heroína e maconha
Texto: Eugenio Goussinsky, do R7
Imagens exclusivas mostram prisão de chefe do tráfico colombiano
Reprodução/Facebook
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Em uma das passagens
conhecidas, que mostra o poder e arrogância daqueles grupos, inclusive com
influência em sucessivos governos, o chefão Pablo Escobar se ofereceu para
pagar a dívida externa da Colômbia. Segundo a mídia, ele acumulou uma
fortuna de mais de R$ 52 bilhões até ser morto em 1993
AP
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O mexicano Amado Carrillo
Fuentes rivalizou com Escobar, alcançando uma fortuna de R$ 65 bilhões, segundo
autoridades. Ele morreu em 1997, quatro anos após o chefão colombiano
AP
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A empunhadura de ouro do
revólver de Fuentes é um símbolo de que a fama do crime alimentava o
personalismo e a vaidade, em um negócio que ainda continua sendo muito
lucrativo. Segundo o escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC)
a lavagem de dinheiro vindo do narcotráfico movimenta até US$ 2 trilhões, R$
5,2 trilhões, por ano, no mundo inteiro. Isso equivale a 5% do PIB global
Reprodução/Facebook
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Os personagens de hoje,
porém, mudaram. Não há mais criminosos populares como Griselda Blanco, do
Cartel de Medellín. Ela foi morta, após passar 30 anos presa nos Estados
Unidos, quando estava afastada dos negócios e se dirigia ao açougue. Também fez
fortuna, de cerca de R$ 5,2 bilhões, de acordo com as investigações
Reprodução/Facebook
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Os grandes cartéis
praticamente foram desmantelados e seus chefes, presos ou mortos. José Gonzalo
Rodriguez Gacha foi um dos primeiros a fazer do México rota para os EUA e uma
fortuna especulada em R$ 13 bilhões, foi morto em 1998. Mas a violência de
novas gerações de traficantes ainda deixa a Colômbia e outros países reféns , conforme diz o sociólogo Alejandro Villanueva Bustos, da
Universidade Pedagógica Nacional da Colômbia
Reprodução/Facebook
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— Hoje na Colômbia não há
grandes traficantes, celebridades como Pablo Escobar. Mas há muitos pequenos
traficantes que continuam a movimentar fortunas no total e a levar terror e
medo para as cidades do país.
Um dos que iniciaram este ciclo também foi
preso: o porto-riquenho José Figueroa Agosto, o 'Pablo Escobar do
Caribe', foi capturado pelo FBI em 2010. Só em Porto Rico, a informação da
imprensa é de que ele tinha R$ 300 milhões
Reprodução/Facebook
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Bustos conta que, hoje, na
Colômbia, a influência do narcotráfico ainda é grande. E está mais difícil de
ser detectada. Na foto, George Jung, solto em junho de 1994, que criou uma rota
para os Estados Unidos e inspirou o filme Profissão
de Risco, com Johnny Deep.
— Esses traficantes praticamente anônimos
estão inseridos na economia. Trabalham, têm profissão fora do crime e através
de terceiros eles lavam grandes fortunas
Reprodução/Facebook/TMZ
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Outro traficante preso recentemente
foi Joaquín Guzmán Loera, mexicano que chegou a fugir da cadeia dentro de um
carrinho de lavanderia. Ele criou rotas por túneis para os EUA e foi preso em
2011, tendo uma fortuna estimada em R$ 2,6 bilhões
Reprodução/Facebook
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Os irmãos Orejuela também
deram trabalho e eram os típicos figurões. Chefes do Cartel de Cali, Gilberto
(foto) e Miguel Rodriguez Orejuela trouxeram pânico à região. Financiavam
clubes da cidade, para terem popularidade
AP
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Miguel Orejuela (foto)
influenciou em muitos resultados favoráveis ao America de Cali. O sociólogo
Bustos, que analisa a influência do narcotráfico entre os torcedores locais,
afirma que a presença dos cartéis no futebol era grande.
— O Cartel de Medellín pagou para o Nacional
de Medellín ser campeão da Libertadores em 1989. O mesmo fez o Cartel de Cali
em relação aos times da cidade, Deportivo e América, em várias ocasiões
Reprodução/Facebook
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Ao El Universal, o filho
de Miguel Orejuela, Fernando, deu entrevista confirmando que o cartel subornava
árbitros para ganhar jogos
Reprodução/Facebook
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Os traficantes não têm
mais controle sobre os clubes, segundo Bustos. Mas ele ressalta que toda aquela
influência deixou um grande problema.
— Ninguém sabe quem são os verdadeiros donos
dos clubes hoje. O Estado expropriou algumas ações, mas muitas, não. Muitos
jogadores que atuam não pertencem àquela geração. Mas não se sabe a quem
pertence e onde está o dinheiro que mantém as equipes colombianas
Reprodução/Facebook
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Atualmente, o grande
negócio para os traficantes são as minas colombianas e outros recursos
naturais, como petróleo e gás natural. Bustos diz que haverá um boom nos
próximos anos e o governo terá participação menor do que o narcotráfico. — Os traficantes não investem mais em carrões,
mas em maquinário. São mais cultos dos que os antigos, falam vários idiomas. E
estão aproveitando a fonte de receitas alta para investir em ouro, cobre,
pedras preciosas, petróleo e gás natural. Eles têm relação com muitos políticos
e está mais difícil de rastreá-los, pois estão inseridos na economia, por meio
de grandes indústrias e empresas
Reprodução/Facebook
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Dos tempos de Escobar,
Carlos Lehder, pertencente ao Cartel, organizou uma rota de drogas para os
Estados Unidos, passando pelas Bahamas. Sua iniciativa partiu de conversas que
ele teve com George Jung na cadeia. Ao sair da prisão, fez parceria com Jung e conseguiu
uma fortuna de R$ 7,8 bilhões
AP
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Seu quartel general nas
Bahamas foi desmantelado pela polícia. Lehder foi preso em 1987, condenado a
135 anos de cadeia nos Estados Unidos
AP
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A casa em ruína de Lehder
é um símbolo da decadência dos poderosos chefões e início de uma outra era, tão
ou mais atuante como a anterior. O acordo de paz das Farc com o governo
colombiano é positivo, segundo ele, mas não deverá acabar com a influência do
narcotráfico em curto prazo
AP
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Na foto, Rafael Caro
Quintero, do cartel de mesmo nome, que foi solto em 2013, mas voltou a ser
procurado pela polícia. Estima-se que tem cerca de R$ 10,4 bilhões
Reprodução
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Os nomes do momento no
país, ligados ao narcotráfico, são os de Marcos Figueroa, preso em outubro
último, em Roraima, onde morava, e o do clã Usuga, da região de Antióquia. Um
dos líderes do clã é Otoniel (no centro da foto abaixo), ainda procurado pela
polícia. Bustos considera que esses grupos estão muito diluídos e continuam a
comandar praticamente uma economia própria, paralela, que se torna formal por
causa da lavagem
Reprodução/Youtube
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— A Colômbia continua
sendo um dos países mais corruptos do mundo. O Estado não tem presença forte na
sociedade e isso facilita a entrada dos narcotraficantes, o que é ruim para a
população. É falsa a ideia de que nomes como Escobar eram bons para os pobres.
Ele causou muito mais dor do que trouxe benefícios, a agricultura foi
devastada, os camponeses foram obrigados a trabalhar para o narcotráfico
Reprodução/Youtube
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Os irmãos Ochoa (Juan,
Jorge Luis e Fabio) fundaram o Cartel de Medellín junto com Escobar, nos anos
80. Acumularam, de acordo com a mídia local, cerca de R$ 15,6 bilhões e se
entregaram à Justiça colombiana em 1991, em troca de benefícios oferecidos pelo
então presidente, César Gaviria (1990-94). Fabio (foto) está preso nos EUA,
condenado a 30 anos e Juan, o mais velho, morreu de infarto em 2013
AP
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Bustos afirma que, além de
boa parte das autoridades locais, o tráfico de drogas tem apoio de outros
setores.
— Ainda há uma relação entre os narcotraficantes
e as Farc. Tem um caráter comercial. As Farc cultivam plantação de maconha,
coca, amapoula e vendem para os narcotraficantes. Mas hoje há uma grande
aliança com paramilitares. Eles, em troca de propina, facilitam as rotas das
drogas por várias regiões
Reprodução
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O traficante bilionário
Khun Sa, que organizou rotas para Nova York, de Mianmar, Laos e Tailândia,
mostra que o tráfico em países asiáticos também é intenso. Ele retornou, em
acordo, para Mianmar em 2006 e tem fortuna de R$ 13 bilhões, de acordo com a
polícia
AP
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Só na casa do
chinês Zhenli Ye Gon, de cidadania mexicana, a polícia do México, em 2007,
encontrou R$ 520 milhões, segundo autoridades. Ele foi preso no mesmo ano nos
Estados Unidos, pelo tráfico de efedrina, pseudoefedrina e metanfetaminas
AP
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O indiano Dawood Ibrahim
Kaskar é procurado pela polícia. Suas atividades clandestinas não se
resumem ao tráfico. Ele é conhecido por atuar com grupos terroristas, com redes
de extorsões e falsificações. Sua fortuna, cujas investigações apontam para R$
18,2 bilhões, ajudou a financiar boa parte dos filmes de Bollywood
Reprodução/Facebook
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Nascido em 1946, na
Carolina do Norte, Frank Lucas criou uma rota de heroína vinda do Vietnã para
Nova York, onde morou, e já havia atuado como segurança e motorista. Chegou a ter
cerca de R$ 1,5 bilhão, segundo se conta, acumulado entre os anos 60 e 70, até
ele ser preso e condenado a 70 anos. Com pena reduzida, deixou a prisão em 1991
e saiu do mundo do crime. Inspirou o filme American
Gangster (2007), com Denzel Washington e é pai de Frank Lucas Jr., cantor
de hip hop
AP
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E onde foi parar o
dinheiro, na Colômbia, dos extintos cartéis? A resposta de Bustos não é
animadora.
— As fortunas dos grandes traficantes tiveram
vários destinos: uma parte passou para as mãos das elites e dos políticos, os
quais se apropriaram de grandes fortunas por meio da violência. Outra parte foi
tomada pelos subalternos dos traficantes extintos, formando novos e menores
cartéis. E finalmente uma mínima parte foi apreendida ou confiscada pelas
autoridades para financiar uma parte da Justiça
BBC