Os moradores de Paris decidiram, em um referendo realizado no último domingo (23), fechar mais 500 ruas para carros e transformá-las em áreas arborizadas exclusivas para pedestres. A proposta, que obteve o apoio de quase dois terços dos votantes (cerca de 66%), integra os esforços da prefeita Anne Hidalgo para melhorar a qualidade do ar, reduzir o tráfego e tornar a capital francesa mais verde e segura. Apesar da aprovação, apenas 4% dos 1,4 milhão de eleitores registrados participaram da consulta popular, um índice de comparecimento semelhante ao de referendos anteriores.A iniciativa prevê a retirada de automóveis de cerca de 25 ruas em cada um dos 20 distritos da cidade. Isso significa que uma em cada dez vias parisienses será reservada exclusivamente a pedestres. Hoje, 220 das 6.000 ruas da capital já são livres de carros, muitas delas próximas a escolas. Com a nova medida, cerca de 10.000 vagas de estacionamento serão eliminadas nos próximos anos, somando-se a outras 10.000 suprimidas desde 2020. Os endereços exatos das ruas afetadas serão definidos em consultas públicas previstas para as próximas semanas, segundo a prefeitura.“Essa votação reforça nosso compromisso de compartilhar o espaço público com pedestres e tornar Paris mais verde”, disse Christophe Najdovski, vice-prefeito responsável por espaços verdes, em entrevista à agência de notícias AFP. A decisão do referendo se alinha à visão de Hidalgo, que comanda a cidade desde 2014 e foi reeleita em 2020 com a promessa de adaptá-la às mudanças climáticas. Adepta do conceito de “cidade de 15 minutos” -- onde serviços essenciais estão acessíveis a curta distância --, ela já transformou as margens do rio Sena em áreas para pedestres e ciclistas, criou 84 km de ciclovias desde 2020 e limitou a velocidade máxima nas ruas a 30 km/h.Dados recentes mostram uma mudança significativa nos hábitos dos parisienses. Segundo o Institut Paris Région, em abril de 2024, apenas 4,3% das pessoas se deslocaram na capital com carro, enquanto 11,2% usaram bicicletas, 53,5% foram a pé e 30% recorreram ao transporte público. Na Paris central, apenas um em cada três domicílios possui um veículo, proporção que sobe para dois em cada três nos subúrbios, onde vivem 10 milhões de pessoas com menos acesso à rede de transporte, segundo a imprensa local.Essa não é a primeira vez que os parisienses vão às urnas para decidir sobre o tráfego. Em 2023, um referendo baniu os patinetes elétricos compartilhados, após reclamações sobre imprudência e obstrução de calçadas. No ano seguinte, as taxas de estacionamento para SUVs foram triplicadas, chegando a 18 € por hora no centro (cerca de R$ 112) para veículos acima de 1,6 tonelada, uma medida que busca desestimular o uso de carros grandes e poluentes, com exceções para moradores, taxistas e profissionais de saúde.Desde que os socialistas assumiram o poder em 2001, o trânsito na cidade caiu mais de 50%, mas Paris ainda fica atrás de outras capitais europeias em infraestrutura verde. Jardins, parques e ruas arborizadas representam 26% de seu território, contra uma média de 41% na Europa, segundo a Agência Ambiental Europeia.